Em visita exclusiva a Infraero, público do BR Week 2015 confere como funciona o varejo em aeroporto
São 10 milhões de passageiros em média por mês. Para efeitos de comparação, os shopping centers do Brasil recebem cerca de 4 milhões de pessoas por mês. É um vai-e-vem que faz dos aeroportos a principal rota de crescimento do varejo, segundo pesquisa da Deloitte. Foi de olho nessas oportunidades que o BR Week, principal congresso de varejo do País, encerrasse o evento desta semana com uma visita técnica exclusiva ao aeroporto de Congonhas, da Infraero, terceiro maior operador aeroportuário do mundo, com 60 instalações no Brasil, que recebem ao todo 118 milhões de passageiros, mais da metade da população do País, fluxo que deve crescer entre 4% e 6% neste ano. No mundo, 15% da população viaja e deve gastar equivalente a R$ 1 trilhão.
Para quem abre uma operação em um aeroporto, é uma oportunidade e tanto. Não é uma regra, mas para cada pessoa que vem, ela traz duas ou três para recebê-la ou pegá-la e isso traz ainda mais fluxo, explica Claiton Resende, superintendente comercial da Infraero, que recebeu o grupo de visitantes, formado por empresários do varejo e interessados pelo setor.
Resende explica que o negócio de aeroporto tem crescido exponencialmente e isso forçou a Infraero a fazer uma reestruturação na parte comercial. A área de varejo foi dividida em alimentação, varejo, serviços, área de real estate, área de logística de carga e a parte de mídia aeroportuária. Para entender o público e as características do varejo de aeroporto, a Infraero realizou uma pesquisa que constatou que o fluxo de passageiros é proporcional ao aumento de consumo e que o consumidor está procurando um produto mais acessível por conta da queda do consumo. Até aí, nada de novidades, mas um ponto chamou a atenção da empresa. Nosso sentimento era que o consumo em aeroporto era por oportunidade e conveniência, mas a pesquisa nos mostrou que o passageiro consome aqui por prazer e para satisfazer desejos, afirma Resende.
A pesquisa, realizada em 16 aeroportos, mostrou que os lojistas, chamados de concessionários, veem os aeroportos cada vez mais como locais de oportunidade: 50% deles têm operação em outros aeroportos. A pesquisa também mostrou o que a importância de cada segmento nas operações aeroportuárias e as oportunidades em alimentação são fortes: para quase 74% dos passageiros, a presença de cafeteria e lanchonete no aeroporto é uma necessidade; seguida pelos terminais bancários (67,7%), Wi Fi (63,4%), balcão de informações (62,9%), serviços de táxi (60,6%), livraria (35,4%), estacionamento (34%) e restaurante (34,2%).
O fluxo, a segurança, a infraestrutura e o horário acabam sendo diferenciais dos aeroportos, mas esse tipo de varejo tem suas particularidades, por isso existe a possibilidade de o varejista fazer um test drive de até 120 dias. Essa degustação é importante para quem nunca operou em aeoroporto porque existem pontos que são singulares em aeroportos, e é importante ter esse acesso para ver o perfil do passageiro, que é diferente do perfil do shopping, que é um passageiro mais estressado, e a venda tem de ser rápida e objetiva. No shopping, ele está disposto a compra, no aeroporto, ele quer viajar, afirma Resende.
Desmistificando o varejo aeroportuário
Ao contrário do que parece, entrar em aeroporto não é tão difícil. É por meio de um leilão, um pregão presencial. Há um preço de referência e quem der mais pelo ponto, leva. Depois dessa concorrência, há uma análise documental nesta fase, pode haver desqualificação. É nessa vantagem que se alicerçou, muitas vezes, a It Beach, marca de calçados e acessórios, que tem relacionamento de oito anos com a Infraero. Frederico Escobar, diretor executivo da marca, esteve presente na visita exclusiva e contou a experiência que tem em aeroporto, que é extenso. A marca começou em aeroportos, em Natal, Recife e Salvador. Das 50 operações da marca, 27 estão em aeroportos. A It Beach é pequena ainda, mas a gente teve oportunidades de participar desses 27 leilões de igual para igual com marcas muito maiores que a gente, conta o executivo. A gente não ganharia com preço, mas a parte documental está tudo certinho e, claro, já ganhamos e perdemos, mas todo mundo fica ali de igual pra igual, conta.
Um ponto importante é que tivemos de ter um treinamento diferenciado, porque o passageiro de aeroporto é diferente, tem de ser surpreendido e existe aquela tensão do passageiro, afirma Escobar. Interessados no tema, os visitantes fizeram várias perguntas ao executivo, da logística operacional ao preço. Os custos operacionais em aeroporto em geral não são baixos, mas ele te traz bastante retorno, conta o executivo, que pontua diferenças entre as operações em shopping e aeroporto. Ele dá um exemplo: em Salvador, a marca tem loja em shopping e em aeroporto. A grande diferença que a gente vê entre aeroporto e shopping é que é mais fácil para um franqueado operar em aeroporto, porque ele não tem picos de movimento, e o gráfico de faturamento nosso é constante, porque não tem picos. E no shopping tem muito pico. Então, o franqueado tem de estar preparado para gerir esses picos e o franqueado precisa estar mais preparado, conta.
Escobar também conta das diferenças entre as áreas restritas do aeroporto e as públicas. Para ele, a rentabilidade maior está na área pública, onde há maior fluxo. Caso diferente da Bacio di Latte, marca de gelatos italianos. A marca, com 28 operações, tem duas no aeroporto de Congonhas, na área restrita e pública, e outra unidade no aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro. Joe Powell, diretor de expansão da marca, contou aos visitantes que a área restrita fatura mais que a pública. Ele também contou que foi preciso fazer uma adequação no preço do produto, que é até 10% mais caro em aeroportos. Por conta do perfil do público, explica. A marca passou pelo test drive de 120 dias e o executivo contou o quanto a experiência foi valiosa. Os 120 dias me permitiram precificar. Nos dois primeiros meses você já tem a sensibilidade se a operação vai bem ou mal, do dimensionamento de estoque, conta.
Em aeroportos, a marca optou por atuar com o quiosque, que é na verdade um carro italiano reformado e importado para a marca. Escolhemos pela facilidade e por Capex naturalmente. Era algo que se encaixava pra gente. O sucesso foi imediato, conta. Ao contrário da It Beach, a Bacio foi prospectada pela Infraero, ainda assim teve de passa pelo pregão. É uma mudança de posição da Infraero, que era antes reativa, e agora temos uma política de prospecção, afirma Resende. Existem algumas místicas de que o processo licitatório é direcionado e que existe exclusividade, mas o processo é muito reto, não há exclusividades, esclarece.
Revista No Varejo on-line – SP