31/07/2015 às 05h00
Por Adriana Mattos | Procedência
A reorganização definida pelo Casino em sua estrutura na América do Sul, que passou a ser desenhada meses depois que assumiu o Grupo Pão de Açúcar, em 2012, resolve alguns problemas de uma só vez, mas o real efeito pode não ser perceptível. De imediato, consegue mover caixa entre empresas do Casino, especificamente da rede Êxito, para o controlador, reduzindo a alavancagem deste. A curto e médio prazos, também pode até gerar sinergias, mas analistas questionam o potencial real disso, já que já existia alguma integração entre Casino e GPA. Olhando além desses efeitos mais óbvios, a entrada de recursos no controlador pode acelerar um plano de recompra de ações preferenciais do GPA pelo Casino o papel fechou ontem em R$ 75, desvalorização de pouco mais de 20% em 2015. Na baixa, o Casino paga menos e ainda manda um sinal ao mercado de que acredita no potencial do negócio, que passa por um de seus momentos mais delicados nos últimos quatro anos. Há ainda outro aspecto estratégico pouco visível. Ao reorganizar suas atividades, o Casino pode tentar reforçar o plano de ter uma estrutura global o grupo tem presença mundial ainda pequena comparado a outros rivais por meio de aquisições de ativos em países emergentes. Além disso, o grupo já teria avaliado a entrada em outros mercados na América do Sul e na Ásia. Com a reestruturação divulgada ontem em Paris, o Casino tentará criar um negócio em que as suas quatro operações da América do Sul (Brasil, Argentina, Uruguai e Colômbia) poderão ser realmente encaradas como um único negócio. Há uma hipótese mencionada ontem por analistas: a reestruturação poderia ser um primeiro passo de uma reorganização societária mais ampla que poderia consolidar integralmente todas as suas operações da América do Sul em uma única empresa listada. A curto prazo, o grupo pode economizar custos e ganhar escala. Mas há questionamentos dessa “real sinergia”, dizem especialistas. Os ganhos viriam do know how da Éxito sobre como vender produtos têxteis, sobre mercadinhos e lojas de desconto, “mas isso sempre esteve disponível para GPA como para parte do Grupo Casino”, escreveu ontem a equipe de analistas de varejo do HSBC. E sinergias entre operações fora das fronteiras são difíceis de medir e de conseguir. Outra questão também ronda o projeto de reestruturação do Casino, que contou com assessoria da Merrill Lynch, Rothschild, Mckinsey e da Trindade Advogados. Tratase do nível de agressividade esperado de seu maior rival francês, o Carrefour. A possibilidade de uma oferta pública inicial de ações do Carrefour no Brasil coloca esta operação como opção de investimento em uma subsidiária de uma empresa global, com lojas espalhadas pela Europa, e em parte da América do Sul. Carrefour opera na Argentina, Brasil, Chile e Peru. Já o Casino, que na Europa tem lojas apenas na França e Bélgica, vai tentar criar, aos olhos dos investidores, uma operação mais estruturada regionalmente, com potencial de expansão na América Latina. O grupo opera na Colômbia, Uruguai, Argentina e Brasil.
Valor Econômico – SP