A redução da renda disponível levou o consumidor a mudar hábitos, situação que beneficia alguns setores. Levantamento da consultoria Nielsen apontou que as vendas reais das lojas “cash & carry” -o chamado “atacarejo” – aumentaram 7,5% de janeiro a abril ante igual período do ano passado em todo o país. Na mesma comparação, as vendas deflacionadas de supermercados subiram apenas 0,65% sobre o primeiro quadrimestre de 2014, pela medição da Associação Brasileira de Supermercados (Abras).
Os dados da Nielsen consideram também as vendas de novas lojas abertas no período, sem recortes por tipo de consumidor. Tomando como base apenas domicílios, a expansão do atacado de autosserviço também se destaca: no acumulado do ano até abril, o ticket médio gasto pelas famílias nesse canal avançou 8%, ante alta de 4% nos supermercados e retração de 4% nos hipermercados.
Pesquisa do instituto DataPopular feita no fim de março com 3,5 mil consumidores classe C de São Paulo apontou que, entre os que haviam feito compras nos 30 dias anteriores à sondagem, 32% foram a redes de atacado ou distribuidores. Esse movimento também ocorre em classes de maior poder aquisitivo. De acordo com sondagem da Nielsen feita em 50 milhões de lares, do total de gastos mensais das famílias de classe AB com 66 itens selecionados de alimentação, higiene pessoal e produtos de limpeza, 44% são feitos em redes “cash & carry”.
Para Olegário Araújo, diretor de atendimento ao varejo da Nielsen, a tendência de crescimento do atacado acima dos outros canais de vendas será reforçada em 2015. “O atacado de autosserviço tem tudo para crescer nesse momento”, diz Araújo, porque as famílias não querem abrir mão do padrão de consumo alcançado nos últimos anos e, com o poder de compra reduzido pela inflação e pelo maior endividamento, buscam alternativas. Segundo Araújo, as redes de atacado ficaram mais acessíveis. Com alta de 11,3% sobre 2013, para 436 pontos de venda, os “atacarejos” ultrapassaram os hipermercados em números de lojas pela primeira vez em 2014.
Sem revelar números, Ricardo Roldão, do Atacadista Roldão, conta que o faturamento da empresa está crescendo a dois dígitos de janeiro a maio em relação a igual período de 2014, trajetória que credita principalmente ao aumento das compras pelas famílias. “Em situações de deterioração da economia, a população vai em busca de alternativas mais baratas. ”
Segundo Roldão, outros dois fatores característicos de período de crise também têm ajudado as vendas: o primeiro é o chamado “consumo de indulgência”, quando consumidores recorrem a itens como chocolates e biscoitos, por exemplo, como mecanismo de compensação, e o segundo é o aumento do consumo de alimentos no domicílio, em detrimento dos restaurantes.
Valor Econômico – SP