01/07/2015
Walter Cover – presidente Associação Brasileira da Indústria dos Materiais de Construção (Abramat)
O novo programa de concessões na área logística do governo federal deve ser comemorado pelo mérito de representar uma agenda de crescimento para o país.
Ajudará a combater o mau humor no mercado e contribuirá para amenizar um dos grandes males do Custo Brasil, que é o alto gasto com transporte. Há desafios para viabilizar as concessões. Temos um histórico ruim na celeridade dos processos licitatórios, das licenças ambientais e na qualidade dos projetos.
A materialização das obras terá um impacto no médio e longo prazo, o que remete à necessidade urgente de medidas conjunturais que minimizem o penoso custo da travessia do período 2014-2017.
A indústria de materiais de construção amargou uma retração de 5,4% nas vendas em 2014, enfrenta outra de 7,4% neste ano e, se o quadro for mantido, estará com níveis de vendas de 2007.
Somente em 2014, a indústria já reduziu 30 mil empregos. Houve uma queda acentuada nas obras de infraestrutura que resultou em redução de 46% nos investimentos dos estados neste ano.
O setor imobiliário edificações de apartamentos, escritórios, shopping centers, hotéis, galpões industriais também se retraiu e a estimativa é de uma queda superior a 10% em 2015, com uma perda acentuada de empregos.
Como reverter isso? Embora se reconheça que é preciso incentivar o investimento, não podemos demonizar o consumo, motor que mantém as empresas operando e garante os empregos. Com consumo reduzido e consequente perda de escala, os custos industriais aumentam, pressionando a inflação. Sem esquecer que consumo atrai investimento.
A ascensão social recente de dezenas de milhões de pessoas, e sua participação no consumo de bens aos quais não tinham acesso, pode se transformar em uma frustração.
Nesse momento, a renda em desaceleração, o desemprego em alta, o crédito mais difícil e regras mais restritivas para o financiamento imobiliário afugentam o consumidor das lojas, posterga o sonho da casa própria e afeta as reformas das moradias o consumo formiguinha de materiais de construção que se sustentou mesmo em momentos de crise no passado.
As vendas das lojas de materiais de construção, que alimentam as reformas de moradias têm queda de 2,2% neste ano.
O empresário vê a necessidade de ajustes nas contas públicas, mas é preciso buscar um equilíbrio entre as medidas de ajuste macroeconômico, o investimento e a preservação do consumo.
Evitar perdas adicionais na renda e no nível de emprego. Não aumentar impostos. Na construção, acelerar o início de implementação da fase 3 do Programa Minha Casa Minha Vida, o incremento do ConstruCard credito para reformas da Caixa e manter o fluxo de financiamento imobiliário. Priorizar medidas que incentivem as exportações e aumentar a fiscalização para impedir a importação de produtos fora das normas técnicas brasileiras. Reforçar os mecanismos de controle da informalidade fiscal, que melhora o ambiente de negócios e traz mais isonomia ao mercado.
Não deveríamos perder de vista o fato que o incentivo à cadeia da construção, que representa mais de 10% do PIB e emprega 13 milhões de trabalhadores, foi um instrumento importante para o enfrentamento da crise de 2008/2009. Vivemos outro momento, mas por que não se inspirar naquela história de sucesso?
Brasil Econômico – SP