Hoje, 30 de junho, o tempo vai durar mais. Por um segundo.
Desde 1967, com a nova engrenagem dos relógios, a “gestão” do tempo pelos homens tornou-se independente da rotação da Terra. O problema é que o planeta está desacelerando e os relógios não. Com isso, de tempos em tempos, os cientistas acrescentam um segundo aos relógios para que tudo volte a ficar sincronizado.
A última vez em que isso ocorreu foi em 2012, mas num fim de semana. Este 30 de junho marcará a primeira vez em que o ajuste ocorrerá com parte do mercado financeiro em andamento desde que as negociações se tornaram eletrônicas. O ajuste está agendado para às 20h em Nova York, bem quando os mercados na Ásia estão abrindo.
Os mercados acionários nos Estados Unidos estão encerrando algumas transações após o fechamento e outros, de Sydney a Tóquio, estão recalibrando seus relógios antecipadamente.
Corretoras também precisarão estar preparadas, diz Greg Wood, presidente associação da indústria de mercados futuros responsável pela área de tecnologia.
Outros setores terão que se preparar. Em 2012, a Qantas Airways e a Reddit, entre outros, sofreram panes em seus sites. Como a vida moderna tornou-se cada vez mais digital, os problemas potenciais quando os relógios forem de 11h59m59 para 11h59m60 – e não direto para 12h00m00 – aumentaram.
Cerca de 10% das grandes redes de computadores sofrerão, avalia Geoff Chester, relações públicas do Observatório Naval dos Estados Unidos, em Washington, que mantém o horário para a maior operação militar do mundo. “Você vai contar 61 segundos em um minuto e é aí que está o problema”.
É preciso ter certeza de que o protocolo de horários de rede (NTP, na sigla em inglês), usado pelos sistemas de computadores, está engrenado com o horário universal (UTC), que é definido pelas oscilações dos relógios atômicos baseados no césio 133. Atualmente, o UTC está uma hora atrás do horário de Londres.
Centenas, se não milhares, de instituições ao redor do mundo negociam tudo – de ações a bônus e derivativos de taxas de juros. Os mais rápidos têm condições de reagir em milissegundos.
Para suavizar qualquer impacto possível, a NYSE Arca Equities disse que as negociações noturnas serão encerradas cinco minutos mais cedo; a Nasdaq vai parar as operações às 19h48 pelo horário de Nova York e fechar às 19h55; a Intercontinental Exchange informou que está atrasando todas as transações de mercados; o CME Group informou que quaisquer dados submetidos cinco minutos antes e cinco minutos depois do evento serão detidos para processamento até cinco minutos depois.
O segundo extra se dá numa semana crítica para os investidores globais, com a piora da crise de dívida grega, quando o país teria que honrar o pagamento do socorro ao Fundo Monetário Internacional (FMI).
A bolsa de valores do Japão vai ajustar o segundo por um período de duas horas antecipadamente, de modo que estará sincronizada quando o mercado abrir.
Isso significa que operadores terão que ajustar seus softwares para cada bolsa. Há muito em jogo. Negociações no Japão, Coreia do Sul e Austrália abrem exatamente um segundo após o evento e cerca de US$ 3,7 bilhões vão trocar de mãos, segundo cálculos da “Bloomberg”.
“À medida que os sistemas continuam sendo cada vez mais conectados, está ficando mais difícil prever qual será o impacto e de que magnitude”, afirma Hiroki Kawai, responsável pela área de sistemas de negociação no Japan Exchange Group.
Em novembro, membros da União Internacional de Telecomunicação vão se reunir e votar se mantêm a diferença de segundo. Se avaliarem assim, o tempo medido pelos sistemas de posicionamento global e o horário universal vão se diferenciar.
Enquanto isso, o Serviço Internacional de Sistemas de Referência e Rotação da Terra, baseado em Paris, vai monitorar a desaceleração gradual do planeta, causada em parte por efeitos da Lua. Há milhões de anos, os dias tinham 22 horas.
Valor Econômico – SP