O Banco Central trabalha com aumento médio de 50% no fluxo mensal de Investimento Direto no País (IDP) ao longo do segundo semestre. Só com um crescimento dessa ordem se concretiza a projeção de US$ 80 bilhões em afluxo para o ano, que representa 4,12% do Produto Interno Bruto (PIB).
De janeiro a maio, o IDP soma US$ 25,520 bilhões, o que representa média mensal de US$ 5,104 bilhões. Para atingir o projetado, a média no restante do ano tem de subir a R$ 7,78 bilhões. Para o mês de junho, a cifra já não deve ser atingida. O BC projeta ingresso de US$ 4 bilhões. De janeiro a maio de 2014 ingressaram US$ 39,332 bilhões.
Segundo chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, o fluxo de IDP deve ser mais intenso no segundo semestre do ano em comparação com o primeiro, por isso foi mantida a projeção em US$ 80 bilhões. Em 12 meses até junho, o IDP está acima desse patamar, somando US$ 83 bilhões.
Segundo Maciel, “eventos não econômicos” estavam mais presentes nos primeiros meses de 2015, como o risco hídrico, operação Lava-Jato e ausência do balanço da Petrobras. “À medida que isso está sendo deixado para trás, tende a influenciar favoravelmente os ingressos no segundo semestre do ano, que é tradicionalmente de ingressos maiores”, disse. De junho a dezembro do ano passado a entrada média mensal foi de US$ 8,2 bilhões.
Olhando a composição do IDP, chama atenção a queda de 52%, das operações intercompanhia, que somam US$ 7,9 bilhões de janeiro a maio contra US$ 16,654 bilhões em igual período de 2014. A redução capta tanto o menor ritmo de atividade quanto as condições internacionais de liquidez, que pioraram recentemente em função das preocupações com a Grécia.
O evento que deve mudar as condições de liquidez é a esperada elevação do juro americano. Em 2014, os empréstimos intercompanhia responderam por 40% do IDP de US$ 96,851 bilhões. O restante é o IDP propriamente dito, composto pela participação no capital, de R$ 57,874 bilhões em 2014. Em 2015, a participação no capital está em US$ 17,602 bilhões, contra US$ 22,678 bilhões de janeiro a maio de 2014.
O BC também atualizou a projeção para o déficit em conta corrente, de US$ 84 bilhões para US$ 81 bilhões. Em relação ao PIB o déficit deve fechar o ano em 4,17%, contra 4,42% projetados anteriormente e 4,47% no encerramento de 2014.
De acordo com Maciel, a redução do déficit capta o comportamento do câmbio e o menor crescimento. Variáveis que levaram o BC a reduzir a estimativa de remessas de lucros e dividendos, que caíram de US$ 22,5 bilhões para US$ 21 bilhões. O gasto com viagens internacionais também perde ímpeto, caindo de US$ 16 bilhões para US$ 14,5 bilhões.
O BC manteve a estimativa de balança comercial superavitária em US$ 3 bilhões, mas houve importante mudança na composição, com queda nas importações e exportações projetadas. As vendas externas recuaram de US$ 210 bilhões para US$ 200 bilhões e as importações cederam de US$ 207 bilhões para US$ 197 bilhões.
As novas projeções mostram um quadro de redução do déficit externo em 2015, mas ainda em patamar elevado, de 4,17%, anteriormente associado a crises do balanço de pagamentos. Com a redução do déficit esperado e manutenção do IDP em US$ 80 bilhões ou 4,12% do PIB, a necessidade de financiamento externo projetada para o ano cai de 0,21% do PIB para 0,05% do PIB. Em 2014 a necessidade de financiamento foi de 0,34% do PIB.
Olhando para os dados de maio, o déficit em conta corrente ficou em US$ 3,366 bilhões, abaixo da projeção do BC de US$ 5,4 bilhões. Já o IDP surpreendeu positivamente ao somar US$ 6,608 bilhões, contra projeção de US$ 4 bilhões. Um ingresso de quase US$ 2,5 bilhões no segmento de telecomunicações explica a surpresa positiva.
Dessa forma, pela primeira vez desde agosto do ano passado, o IDP financiou de forma integral o déficit em conta corrente. Esse quadro pode se repetir em junho, caso as projeções do BC de déficit de US$ 3,5 bilhões e IDP de US$ 4 bilhões se concretizem.
O mês contou com US$ 1,946 bilhão em remessa de lucro e dividendos, contra US$ 3,3 bilhões vistos um ano antes. A parcial até dia 18 mostra remessas de US$ 945 milhões. Queda também nos ingressos em carteira que somaram US$ 3,111 bilhões, contra US$ 6,459 bilhões em maio de 2014.. O investimento em ações ficou em US$ 794 milhões e a renda fixa recebeu US$ 1,069 bilhão. Para o ano, o BC espera US$ 15 bilhões para o mercado de ações – a estimativa anterior era de US$ 13 bilhões.
Já a renda fixa deve receber aporte de US$ 26,5 bilhões projeção que foi mantida. Agora em junho até o dia 18, as ações têm entrada líquida de US$ 945 milhões e saída líquida de US$ 62 milhões da renda fixa.
De acordo com Maciel, 70% dos vencimentos previstos de empréstimos e títulos públicos previstos para este ano já foram rolados no período de janeiro a maio deste ano. Segundo ele, a previsão de vencimentos para o ano é de US$ 38 bilhões, sendo que foram rolados US$ 27 bilhões.
No período de janeiro a maio, a taxa de rolagem total ficou em 98%. A projeção é de 100% de rolagem para o ano. Em maio, a taxa foi de 68%, mostrando que as novas contratações não foram suficientes para cobrir todos os pagamentos. Nas parciais de junho, até o dia 18, a taxa total de rolagem é de 91%, sendo que a dos papéis é de 61% e dos empréstimos de 126%.
Valor Econômico – SP