09/06/2015 RENATO MEIRELLES – Presidente do instituto de pesquisa Data Popular Durante o último ano, eu e minha equipe no Data Popular pesquisamos para o Google o impacto da internet na classe C. Principal fonte para disseminação da informação atualmente, a internet se popularizou e mudou a vida de milhões de pessoas. No Brasil, um fato curioso chama a atenção para a democratização da rede: é que, nos últimos anos, a estrutura de classes e da internet teve movimentos inversos. Enquanto o país ganhou mais ricos, a internet ganhou mais pobres. Atualmente, a classe C é maioria absoluta no acesso à internet. Mais da metade da população internauta brasileira pertence à classe média (54%), 36% são da classe alta e 10% são da classe baixa. Em números absolutos, o total de internautas da classe C (48,3 milhões de pessoas) já é maior do que o total de usuários da rede de países como México (44,1 milhões), Coreia do Sul (41 milhões), Itália (35,5 milhões), e Canadá (29,7 milhões). Em menos de 10 anos, a população brasileira cresceu cerca de 10% e o número de internautas da classe média aumentou 204%. No Brasil, a democratização do acesso à internet é recente: 31% dos internautas da classe C entraram na rede, nos últimos três anos, e isso ocorreu graças ao aumento da renda das pessoas das classes C e D, que hoje possuem mais poder aquisitivo para adquirir planos de assinatura com acesso à internet, e à redução dos preços dos smartphones. Para a classe média, internet não gasto, é investimento. Os conectados da classe C enxergam na internet uma possibilidade para a melhora de vida. Eles também descobriram na internet uma ferramenta importante de alcance que auxilia na geração de renda e colabora para a qualificação profissional. Um dos maiores responsáveis pela democratização da internet no Brasil é o smartphone, que se tornou a porta de entrada para a classe C usar a tecnologia. Diante da popularização do dispositivo, quase metade dos internautas da classe C já possui o aparelho e a maioria o utiliza para atividades ligadas ao trabalho, entretenimento e conexão social. E é por isso que o aparelho está cada vez mais ocupando o espaço do computador e do notebook. Com a popularização dos celulares no Brasil, a classe C entendeu que a internet se tornou uma aliada importante para aprender mais. Ao alcance dos dedos, os internautas têm um mundo inteiro de possibilidades. Graças à internet, por exemplo, milhões de brasileiros da classe média conseguem visitar museus do mundo inteiro. Antes, isso só era possível para quem tinha muito dinheiro. Os brasileiros da classe C também passaram a enxergar que a internet tem significados que vão muito além do lazer e do entretenimento. Os jovens da classe média, por exemplo, são igualmente conectados quando comparados às gerações mais novas das classes A e B. E como muitos pais ainda não estão conectados, é muito comum eles pedirem a opinião dos filhos quando querem adquirir produtos no mercado eletrônico. Para a classe média, a internet é uma alavanca para oportunidades antes exclusivas da elite. É válido lembrar que a internet se democratizou muito, mas, ainda, é muito desigual no Brasil. Acredito que, em uma década, esse cenário deve apresentar mudanças mais significativas para que o processo de democratização ocorra verdadeiramente de fato.
Brasil Econômico – SP