03/06/2015 às 05h00
Por Adriana Mattos | De São Paulo
A rede Habib’s anunciou ontem mudanças na direção. O atual fundador e presidente Alberto Saraiva, 62 anos, deixará o comando e Mauro Saraiva, primo de Alberto, e atual diretor operacional, ocupará o cargo de presidente. O criador da rede de restaurantes irá para a presidência do conselho de administração, que deve ser criado neste ano, e terá seis membros. A transição de cargos estava sendo coordenada desde o fim do ano passado, quando Mauro foi informado da decisão, e nos últimos cinco meses, Alberto e Mauro trabalharam mais próximos. “Ele [o fundador] deve coordenar mais ações estratégicas e planos de longo prazo, e auditorias já foram contratadas para um trabalho de dois anos na empresa para que, daqui a alguns anos, se possa decidir ou não por um IPO [oferta pública inicial de ações] ou por qualquer outro projeto”, disse Mauro. Um possível plano de abertura de capital já era algo mencionado pela empresa há alguns anos. Ainda ontem, durante reabertura da primeira loja no Brasil, na zona oeste de São Paulo, Alberto falou publicamente das investigações contra a empresa pelo Ministério Público e Secretaria da Fazenda de seis estados. Em dezembro de 2014, uma ação conjunta das secretarias (chamada de operação “Flex Food”) cumpriu mandados de busca e apreensão no grupo. Os mandados envolveram o escritório da empresa em São Paulo, na cozinha central, na região de Belo Horizonte, e numa unidade do Habib’s na capital mineira. Sobre a questão, Alberto disse que foi algo “agressivo” e “incorreto”, diz. “Isso foi algo que aconteceu de forma agressiva, que nos pegou de surpresa e veio de um juiz que foi motivado por circunstâncias não corretas”, afirmou. Segundo comunicado da época do Ministério Público de Minas Gerais, que deu apoio à operação, começaram a ser feitas investigações em torno de um suposto esquema de sonegação, com uso de notas fiscais que indicariam valores inferiores aos adotados no negócio (subfaturamento), falsa classificação dos produtos em notas fiscais e ocultação de receita. Na época, a rede não se pronunciou. “Há cerca de dez dias fiquei sabendo que dez desembargadores julgaram a favor e dois contrários na [Justiça] de Goiás. E já ficamos sabendo que não vão apelar em Goiás. E em Minas Gerais, só dois desembargadores ainda não julgaram. Mas não posso falar nada que é sigiloso”. Procurado, o Ministério Público de Goiás informou que o caso está na fase investigatória. A companhia ainda informou ontem que espera ritmo de crescimento abaixo do registrado em 2014. Para este ano, a previsão é de uma expansão de vendas “mesmas lojas” (abertas há mais de 12 meses) de cerca de 10%, versus aumento de 16,5% no ano passado. A expectativa é que a rede feche o ano com faturamento de R$ 2,5 bilhões, alta de 15% sobre 2014 (incluindo lojas novas e antigas). Segundo o empresário, a piora do cenário econômico neste ano, que afetou o poder de compra da classe C, principal público atendido pelo Habib’s, teve impacto na velocidade de expansão do negócio. São 430 lojas da marca hoje, sendo que as unidades próprias do grupo são aproximadamente a metade. “O consumidor que ia dez vezes ao Habib’s, passou a ir sete ou oito vezes. Ainda crescemos porque estamos trazendo novos clientes para a marca”, afirmou. Segundo ele, o plano de abrir 40 pontos por ano está mantido, apesar da crise. Ainda há o projeto de reforma de lojas num conceito mais moderno, semelhante à loja reaberta ontem. Devem ser reformados 250 pontos em três anos a custo médio de R$ 800 mil.
Valor Econômico – SP