Há quatro meses no cargo, Bernardo Paiva, presidente da AmBev, diz que momento da economia do país não afeta planos da cervejaria, que mantém investimentos de R$ 3 bi
Erica Ribeiro
eribeiro@brasileconomico.com.br
A crise econômica no Brasil não vai afetar o plano de investimentos e os negócios da AmBev, afirmou ontem o presidente da companhia, Bernardo Paiva, que assumiu o cargo em janeiro, depois de três anos na diretoria de vendas global da AB InBev.
Paiva comandou ontem a reunião matinal de um time de vendedores da empresa no Rio de Janeiro e depois participou de um programa de conscientização de economia de água em bares e restaurantes, distribuindo panfletos junto com a equipe de vendas.
Ele garantiu que a cervejaria manterá os planos de investimento de R$ 3 bilhões para o Brasil mesmo volume de 2014 , que incluem a abertura de duas fábricas, uma em Ponta Grossa(PR) e outra em Uberlândia (MG), que ficam prontas ainda este ano, além do aumento das ações em pontos de venda, como bares e supermercados, e o direcionamento para o incremento de vendas de marcas premium.
Segundo ele, os fundamentos da empresa, com foco em ações de longo prazo, asseguram a passagem por um ambiente econômico mais desafiador como o deste ano, com alta do dólar e crescimento da inflação.
Todos falam de crise no Brasil mas não vamos ter essa crise aqui (referindo-se à empresa). O ambiente externo, é claro, não ajuda, mas a Ambev conhece o Brasil. Conviver com inflação na meta afeta os negócios. Mas quantas vezes já passamos por isso, em alguns momentos com variações de preços diferentes em apenas um dia (citando o período de hiperinflação no país). Não pensamos no curto prazo. Somos uma empresa centenária. E tomamos a decisão de não participar dessa crise, disse Paiva.
Um dos caminhos para driblar o cenário econômico adverso, diz ele, é trabalhar mais as marcas premium da companhia.
A estratégia é acelerar o crescimento de nossas marcas premium, caso de Budweiser, Stella Artois, entre outras, e melhorar nossa experiência de consumo. Um bom portfólio de marcas, que tenha produtos de alto valor agregado, também estão no nosso foco, completa o executivo.
Dentro do programa de investimentos de R$ 3 bilhões, a construção das duas novas fábricas têm também o objetivo de melhorar a distribuição das marcas.
Não é necessariamente a ampliação da capacidade produtiva e, sim, amelhoria do processo de produção, permitindo a distribuição de produtos de todas as marcas, resumiu, sem darmais detalhes sobre quais marcas serão fabricadas nas duas novas plantas em obras.
Adalberto Viviani, presidente da Concept, consultoria especializada no mercado de bebidas, diz que a entrada de Bernardo Paiva este ano na presidência da AmBev sinaliza o real posicionamento da companhia, de se concentrar em vendas.
A AmBev tem uma dinâmica de negócios muito consistente e o Bernardo Paiva é um profissional com esse foco de vendas, liderança emotivação. Essa é a sua formação dentro da própria AmBev. O dever de casa, de ajustes, controle de custos e governança, já foi feito. E, em tempos de crise, agora é hora de alguém assumir o posto de vendas. A empresa sabe em que ponto de venda deve colocar determinada marca, com que tipo de embalagem e a que preço. Efetivamente todo o setor vem buscando aumentar vendas mas nesse jogo vai ganhar quem tiver a melhor estratégia, diz Viviani.
Para o consultor, o segmento premium vai crescer nos próximos anos, ainda que o poder de compra da população esteja menor.
Viviani diz que tudo depende da forma como o mercado se posiciona.
A distribuição dos produtos pelo mercado tem que ser feita de forma minuciosa. A classe AB vai continuar em busca de produtos diferenciados, enquanto as classes C e D vão levar para casa as marcas de alto consumo. Por isso, novamente, faz sentido o investimento da AmBev no diálogo com o consumidor diretamente no ponto de venda. Para isso, vai investir na força de vendas e esse é um assunto que o novo presidente domina, comenta o consultor.
O dia de Bernardo Paiva começou exatamente com as equipes de vendas que, antes das sete da manhã, já estava a postos em um Centro de Distribuição da cervejaria no bairro de São Cristóvão.
Paiva comandou a reunião matinal, uma atividade de motivação em que as equipes determinam suas metas para o dia, em meio a gritos de guerra e instrumentos de percussão para acompanhar um samba-enredo improvisado.
Parte daminha vida profissional de 24 anos na AmBev foi construída aqui. Comecei como estagiário e fui da área de vendas nos bairros de Leblon e da Rocinha. Gosto de ver esse movimento e foi bom participar dessa ação hoje (ontem), disse Paiva.
A ação de incentivo de ontem também foi paramotivar os vendedores na campanha para economia de água em bares e restaurantes desenvolvida pela empresa, com dicas que sugerem uma economia de 62% na conta de água destes estabelecimentos.
Serão distribuídas 300 mil cartilhas em todo o país, em aproximadamente 600 pontos de venda.
Para a professora Ana Cristina Limongi-França, coordenadora do Núcleo de Gestão de Qualidade de Vida no Trabalho da FEA/USP, ações como a da AmBev e de outras grandes corporações criam uma simbologia, uma linguagem única e um pensamento coletivo que dá mais segurança às empresas, uma vez que equipes de vendas ficam soltas nas ruas, levando a marca.
Esse tipo de motivação, que demanda verbas altas por parte das empresas, ajuda a criar um sentimento de pertencimento do funcionário, estimula de alguma forma. São rituais que fazem parte de um conceito de empresa-espetáculo, muito estudada pelo professor da FGV-SP, Thomas Wood, comenta a professora.
Brasil Econômico – SP