21/05/2015 às 05h00
Por Francisco Góes | Do Rio
Os acordos acertados por empresas e bancos da China com Petrobras e Vale duas das maiores companhias do país demonstram que os chineses estão dispostos a ocupar maior espaço no mercado brasileiro no momento em que o Brasil enfrenta situação de crise econômica. “Com oportunismo e custo baixo, os chineses estão ocupando um espaço [no Brasil]”, disse fonte que participou da visita do primeiroministro chinês Li Keqiang ao país. E completou: “Eles [os chineses] são mestres nisso [ocupar espaços].” A Petrobras anunciou acordo de financiamento de US$ 5 bilhões com o Banco de Desenvolvimento da China (CDB) para 2015, parte dos quais desembolsados. Embora os detalhes envolvendo os financiamentos não tenham sido revelados, o Valor apurou que as linhas têm condições “competitivas”. Parte do dinheiro poderá entrar diretamente no caixa da Petrobras sem estar, necessariamente, vinculado à importação de bens chineses. A avaliação, no meio empresarial brasileiro, é que os chineses estão olhando a longo prazo, para além da situação conjuntural da Petrobras, que precisa ser corrigida, e da crise econômica brasileira. Os chineses entendem que a Petrobras tem bons ativos e uma margem de sucesso na exploração de campos de petróleo que está entre as maiores do mundo, disse uma fonte. Outro atrativo para os chineses no Brasil é o présal. Hoje os campos em produção no présal produzem cerca de 800 mil barris por dia, mais de um terço da produção total de petróleo da Petrobras. Os financiamentos para a Petrobras fazem parte dos 35 acordos bilaterais assinados entre Brasil e China na visita de Li Keqiang. Entre empresários do país existe a avaliação de que alguns dos acordos vão se confirmar e outros, não. “Mas com um pacote desse tamanho [35 acordos] é natural que isso aconteça, disse a fonte. E acrescentou: “O importante é a tendência dos asiáticos interessados em estabelecer parcerias de longo prazo e investir no Brasil.” Desde 2014, estiveram no Brasil, em visitas oficiais, o presidente da China, Ji Jinping& 894; o primeiroministro do Japão, Shinzo Abe& 894; e a presidente da Coreia do Sul, Park Geunhye. O Valor apurou que a presidente Dilma Rousseff poderá ir ao Japão e à China em dezembro. O Palácio do Planalto informou não haver data prevista para a viagem. “Está acontecendo um movimento firme da Ásia em direção ao Brasil”, disse uma fonte, e citou da importância do mercado asiático que concentra dois terços da população mundial. No caso da Vale, o objetivo é mostrar à China que a mineradora brasileira tem condições de ofertar um produto “premium” que interessa aos chineses como forma de reduzir as emissões de gases poluentes, um dos grandes problemas atuais da China. Hoje existe uma sobreoferta de minério de ferro no mercado internacional, impulsionado sobretudo pelas mineradoras australianas, que contribuiu para derrubar os preços da commodity. Mas na visão de fontes do setor essa sobreoferta se dá em um segmento de minério de ferro “standard”, com teor entre 58% e 62% de ferro contido. Já a Vale aposta que as autorizações ambientais que obteve para novas minas em Carajás, no Pará, e também nos projetos itabiritos, em Minas Gerais, vão permitir produzir um material entre 65% e 68% de teor de ferro, com alto grau de pureza e baixos contaminantes. É esse conceito de acréscimo de produção baseado em material de qualidade (premium) que a Vale desenvolve com os chineses. O produto propicia um menor nível de emissões em relação ao minério comum pois tem mais ferro contido, grau de impurezas mais baixo e, por consequência, permite usar menos carvão metalúrgico. O premier Li Keqiang não veio acompanhado de executivos de siderúrgicas, mas trouxe com ele presidentes das principais empresa de navegação chinesas, como a China Ocean Shipping Company (Cosco) e a China Merchants Energy Shipping (CMES). Com a Cosco, a Vale concluiu a venda de quatro navios de grande porte (Valemax) por US$ 445 milhões. Com a Cosco, a Vale assinou contrato de afretamento prevendo o transporte de 6,4 milhões de toneladas de minério de ferro por ano ao longo de 25 anos. A Vale deve vender outros quatro navios para a CMES. Fonte disse que como o custo financeiro na China está competitivo, tornouse vantajoso para a Vale abrir mão da propriedade de navios e fazer o afretamento dessas embarcações com armadores ou bancos chineses. O China Eximbank (Cexim) deve financiar US$ 1,2 bilhão para a Cosco e o mesmo valor para a CMES para facilitar a prestação de serviços marítimos para a Vale.
Valor Econômico – SP