14/05/2015 05:00
Por Luciano Máximo
Ao concluir sua agenda de dois dias em Londres, onde se reuniu com autoridades do governo britânico, analistas financeiros e investidores, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, voltou a manifestar otimismo em relação aos efeitos do ajuste fiscal sobre a economia brasileira. Segundo o ministro, o ajuste se espalha “de maneira bastante equilibrada”, de modo que a economia do país já não apresenta os mesmo riscos que preocupavam o mercado e o setor produtivo no início do ano. “É importante comparar a situação do Brasil hoje com a vivida no começo do ano, quando havia três grandes riscos: em primeiro lugar, a questão macroeconômica, com um medo de um downgrade& 894; depois havia o risco sobre o que iria acontecer com a Petrobras, alguns se assustaram, diziam que a empresa tinha questões intransponíveis& 894; por fim, havia a preocupação com o setor de energia”, comentou. “Três, quatro meses depois, esses riscos se reduziram significativamente, com o ajuste avançando.” Levy aproveitou a oportunidade para defender a Petrobras. Para ele, a companhia, afetada por escândalos de corrupção, também melhorou nesse período. “É sempre importante lembrar que o présal é uma realidade& 894; são 800 mil barris produzidos por dia.” Levy classificou sua passagem pela capital inglesa como positiva. Disse que a visita serviu para explorar boas experiências na estruturação do financiamento de projetos de infraestrutura. “A mensagem é que o governo está preparando uma boa carteira de concessões, com bons ativos para divulgar em breve”, disse.
Alguns interlocutores do ministro avaliaram seu desempenho como uma tentativa de transmitir uma mensagem de confiança e apresentar uma imagem positiva do Brasil, apesar do ajuste fiscal em andamento e da desaceleração econômica. Os mais críticos contaram ao Valor que faltou ao ministro interagir mais com os participantes e detalhar os planos do governo para as concessões de infraestrutura, cuja divulgação é esperada para junho. Edward Nicholson, executivo da consultoria financeira Mercator, de Southampton, disse que ficou impressionado com a clareza e objetividade da agenda exposta pelo ministro, destacando a disposição do governo em diminuir os obstáculos de maneira geral aos investidores estrangeiros e ao comércio internacional. “Me pareceu que ele está tentando fazer do Brasil um lugar mais simples para se fazer negócio, porque hoje é muito complicado, particularmente as regras e regulações dos impostos.” Para Peter Collecott, da consultoria londrina The Ambassador Partnership, especializada em comércio, investimentos e regulação internacionais, o ministro tentou ao máximo soar positivo, embora a situação econômica do país não seja boa. “O importante é que ele não escondeu isso. Veio pedir um voto de confiança, que é tudo que o Brasil mais precisa agora. Senti falta de ouvir uma exposição mais detalhada sobre os projetos de infraestrutura e os planos de concessão”, disse. Jaime Gornsztejn, presidente da Câmara Brasileira de Comércio na GrãBretanha, explicou que os potenciais investidores e empresas britânicas a aproveitar as oportunidades das futuras concessões estão no mercado de capitais, além de consultorias jurídicas e especializadas em desenho de regulação e construtoras, que podem aproveitar espaços deixados por empresas brasileiras afetadas pela menor oferta de crédito, em parte motivada pelas repercussões negativas da operação Lava-Jato.
Na entrevista, Levy disse que a liberação de compulsórios dos bancos para garantir mais recursos para o financiamento habitacional no país é uma especulação e que a solução para a questão não trará novos impactos fiscais. Ele explicou que o governo está estudando medidas para “tornar mais compatível o nível de recursos no sistema que pode ser canalizado para novos financiamentos”. Segundo ele, a questão está em estudo. “Quanto mais cedo se resolver essa questão, mais cedo a economia irá na direção que queremos”, afirmou, sem dar muitas pistas sobre as alternativas analisadas pelo governo para driblar as recentes baixas na captação da poupança e frisando que os recursos envolvidos não são públicos, mas do Sistema Financeiro de Habitação (SFH), irrigado principalmente pelo Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e por depósitos da poupança. Segundo Levy, o ajuste fiscal em implementação atualmente tem “impacto direto” para melhorar a distribuição de recursos no sistema habitacional. Ele enfatizou o esforço em reduzir de R$ 25 bilhões para R$ 12 bilhões o nível de desoneração da folha de pagamento concedido a empresas de dezenas de setores. “Temos que resolver essa situação sem trazer novos impactos fiscais para o país, por isso focamos nas desonerações. São R$ 25 bilhões de perdas de receitas, quase duas vezes o orçamento do Minha Casa Minha Vida recursos que fazem falta para financiar outros programas do governo”, disse. Ele lembrou que o programa habitacional federal é prioridade da presidente Dilma Rousseff.
Valor Econômico – SP