07/05/2015 05:00
Por Silvia Rosa e José de Castro
O fluxo cambial mais forte em abril e o cenário externo mais favorável corroboram a perspectiva de que o Banco Central deve aproveitar o momento para reduzir o estoque de “swaps” cambiais e evitar uma apreciação mais forte do câmbio. Ontem, o dólar caiu 0,69%, encerrando a R$ 3,0467, acompanhando o movimento no exterior. Os dados fracos do mercado de trabalho nos Estados Unidos reforçaram a expectativa de que o Federal Reserve (Fed, banco central americano) não deve elevar a sua taxa referencial de juros tão cedo, cenário que beneficia as moedas dos emergentes. Foram criadas, em termos líquidos, 169 mil vagas de trabalho em abril, abaixo do esperado pelos analistas, de 205 mil postos de trabalho, e também inferior à leitura revisada de março, de 175 mil vagas, de acordo com a ADP. No mercado local, o BC informou ontem que o fluxo cambial encerrou abril positivo em US$ 13,107 bilhões, maior resultado desde julho de 2011, quando somou US$ 15,8 bilhões. O número é resultado de uma entrada líquida de US$ 9,995 bilhões na conta financeira e de um superávit de US$ 3,112 bilhões na conta comercial.
Só na semana passada, houve entrada líquida de US$ 7,6 bilhões, concentrada na conta financeira, que recebeu, no dia 28, ingresso líquido de US$ 4,880 bilhões. No dia 27 de abril, foi fechada a oferta de ações ordinárias e preferenciais da Telefônica/Vivo para a compra da GVT, que totalizou R$ 16,107 bilhões cerca de US$ 5,513 bilhões. Segundo analistas, os investidores estrangeiros responderam por cerca de 83% da subscrição da oferta. Outra operação que contribuiu com o ingresso de recursos na conta financeira foi o pagamento da primeira parcela do dividendo mínimo anual realizada pela Vale no dia 30 de abril, que somou US$ 1 bilhão. Com isso, o fluxo cambial acumula um saldo positivo de US$ 17,870 bilhões no ano. Apesar do dado forte do fluxo cambial no mês passado, analistas ainda não veem esse movimento como uma tendência, uma vez que ainda há incertezas no mercado externo e interno, especialmente em relação ao ajuste fiscal.
“Mesmo com toda essa entrada de recursos, o câmbio voltou para o patamar acima de R$ 3, tendo alcançado R$ 3,08 na máxima do mês, o que sinaliza que parte das entradas de recursos pode ter contado com hedge cambial”, afirma um analista de um banco estrangeiro. Para o diretor do grupo de pesquisas econômicas para América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos, o patamar atual do câmbio está longe do seu valor justo, considerando os fundamentos da economia, que segundo o banco seria de R$ 3,30 assim, requer uma desvalorização maior para ajudar no ajuste do déficit em conta corrente. “Quando vierem os sinais de que a economia vai se ajustar, o BC poderia reduzir de forma mais rápida o estoque de swaps cambiais.” Ontem, o BC renovou mais 8.100 contratos de swap cambial que venceriam em junho. Se mantiver o mesmo ritmo, ele deverá rolar US$ 7,695 bilhões do lote de US$ 9,656 bilhões em swaps que vencem no mês que vem.
Valor Econômico – SP