29/04/2015 às 05h00
Por Simone Cavalcanti | Para o Valor, de São Paulo
“O bacana hoje em dia é não depender mais do carro. Isso é um orgulho e que começa com a mudança de pequenos hábitos”, diz Alexandre Lafer Frankel, de 37 anos, fundador e presidente da incorporadora Vitacon. O empresário está inaugurando neste ano um empreendimento com o conceito do carro compartilhado. Todos os moradores do prédio podem usar o veículo, mas pagam apenas uma taxa e não arcam, diretamente, com os custos de manutenção.
A primeira experiência com esse serviço foi implantada no Vox Vila Olímpia, um prédio de apartamentos nos conceitos estúdio e loft, erguido no bairro de mesmo nome na capital paulista e entregue no início do ano. Segundo a Vitacon, a iniciativa segue a experiência bem-sucedida de regiões como EUA e Europa.
O próprio presidente da incorporadora é um entusiasta da vida sem carro. Ao somar o número de horas que gastava conduzindo seu próprio carro pela cidade de São Paulo, Frankel chegou a um resultado expressivo: 40 dias por ano dirigindo. Um custo alto para a qualidade de vida que desejava, ainda mais considerando as despesas necessárias para a manutenção do veículo. Há pouco mais de uma década, vendeu o automóvel e se mudou para um local que favorecia a mobilidade por outros meios de transporte.
De lá para cá, Frankel diz só contabilizar ganhos. O foco na flexibilidade de ir e vir se tornou a fonte de inspiração para edificar e fazer crescer seu negócio.
A Vitacon atualmente constrói condomínios de apartamentos residenciais em locais com infraestrutura propícia à locomoção de pessoas que, assim como ele, optaram por se deslocar de outras maneiras que não dirigindo.
Outra iniciativa de transporte urbano alternativo chegou há quase um ano no Brasil. O aplicativo da empresa americana Uber, que conecta motoristas particulares a usuários que querem o conforto do transporte individual, divide opiniões assim como ocorreu em outras capitais do mundo. De um lado estão os taxistas, que acusam o serviço de predatório. De outro, os usuários que estão satisfeitos com o conforto dos veículos que os transportam e com tarifas que, em muitos casos, compensam.
Pesquisa da Uber mostra que a maioria dos clientes (87% a 92%) opta pelo serviço para sair à noite. Uma das explicações é financeira. Segundo o diretor-geral da empresa, Guilherme Telles, a tarifa varia conforme a cidade.
Em São Paulo, ela é, em média, 5% acima da cobrada pelos táxis na corrida com bandeira 1, mas cerca de 15% mais barata que a mesma corrida na bandeira 2.
O favoritismo também se dá para as idas ao aeroporto internacional, no município de Guarulhos. Isso porque a maioria dos táxis cobra, além do preço da corrida, a chamada taxa de retorno para a cidade de São Paulo. Na Uber, essa cobrança não existe.
Seja dentro do município, fora dele ou em qualquer horário, o preço só varia de acordo com a demanda é o chamado preço dinâmico. Pelo aplicativo, o motorista fica sabendo onde está a maior demanda e se dirige para a região.
Em um determinado momento, enquanto não houver carros suficientes para atender aos chamados, a tarifa estará mais alta. Mas, com o atendimento de quem esperava e a chegada de novos motoristas, o valor baixa progressivamente.
“Grandes cidades precisam ter, acima de tudo, variedade nas opções para a mobilidade urbana”, diz Telles. “Para dar ao cidadão opções de deslocamento que o ajudem a não depender de transporte particular, devem existir serviços com preços variados”, defende o executivo.
Segundo o diretor da Uber, o paulistano continua comprando automóvel particular, mas utilizando cada vez menos esse veículos no dia a dia. Com mais opções de mobilidade urbana, diz, a tendência é que pessoas passem a usar outras formas para se locomover em dias úteis. Em uma pesquisa no país, a Uber identificou que cerca de 90% dos usuários têm carro em casa.
Isso mostra, na avaliação de Telles, que essas pessoas não abandonaram completamente o veículo próprio, mas preferem usar o serviço em algumas ocasiões.
Atualmente, no Brasil, o serviço está disponível apenas em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Na capital paulista, a empresa tem grande frequência no atendimento de chamadas para o centro expandido. A demanda para bairros da periferia ainda é baixa. Mas em muitas das 300 cidades em que a empresa opera no mundo todo, a situação é o contrário: a procura aumentou nas estações finais de trem e metrô e até nos bairros residenciais mais distantes.
Valor Econômico – SP