17/04/2015 05:00
Por Sergio Lamucci, Juliano Basile e Juliana Ennes
O tom das relações entre o Brasil e o Fundo Monetário Internacional (FMI) mudou substancialmente na gestão de Joaquim Levy no Ministério da Fazenda, sendo bem mais cordial do que na época de Guido Mantega. Mesmo ao divulgar previsões desanimadoras para a economia brasileira, os integrantes do Fundo elogiaram ao longo desta semana as medidas do ajuste fiscal promovidas pelo ministro, que disse ontem ver o apoio da instituição como “importante”. A bênção do FMI é um trunfo para Levy num momento em que ele busca reconquistar a confiança dos investidores estrangeiros. Ontem, ele conversou com um grupo deles no Banco Mundial, para falar de oportunidades de infraestrutura, e terá novos encontros nos próximos dias para tratar desse e de outros temas. Em entrevista coletiva ontem, Christine Lagarde fez uma avaliação favorável do programa de ajuste das contas públicas do Brasil. “As medidas adotadas são uma combinação de política fiscal séria com ancoragem [de expectativas] de médio prazo”, afirmou ela. Nas projeções do Fundo, isso se reflete numa contração de 1% do Brasil em 2015, mas com retomada nos próximos anos, “desde que as medidas para ancorar uma política fiscal crível sejam adequadamente implementadas”, disse Lagarde. O Fundo projeta crescimento de 1% em 2016 e 2,3% em 2016.
“O FMI tem apoiado o Brasil em inúmeras ocasiões”, disse Levy, depois de participar de reuniões com a própria Lagarde, e com o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Jacob Lew. “É mais um apoio a tudo o que tem sido feito”, afirmou. O ministro aproveitou para destacar ainda as discussões no Congresso, “que são fundamentais para a gente concluir esse ajuste e entrar na rota do crescimento.” É bem diferente do que se passava na era Mantega, quando o ministro e o secretário de Política Econômica, Marcio Holland, criticavam com frequência as avaliações do Fundo sobre a economia brasileira. Na conversa com Levy, Lagarde reiterou o apoio às medidas adotadas pelo Brasil e elogiou a estratégia do país para a retomada do crescimento, segundo uma fonte da equipe econômica brasileira. Com Lew, o ministro discutiu a importância o fluxo de investimento entre os dois países. O secretário do Tesouro também disse que o governo americano está empenhado em fazer com que a visita da presidente Dilma Rousseff aos EUA, marcada para 30 de junho, seja um sucesso. Em sua maratona de encontros, Levy também esteve ontem com o presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim. A infraestrutura foi um dos temas centrais da discussão. O ministro disse que gostaria que o banco pudesse trabalhar com o Brasil na área de financiamentos inovadores.
Kim teria demonstrado grande interesse nessa agenda, dizendo que dará todo o apoio nessa área, para financiar projetos na área de infraestrutura. A ofensiva do Brasil para recuperar a credibilidade conta também com o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini. Nos próximos dias, ele vai participar de diversas reuniões com investidores do mercado financeiro em Washington. O objetivo é transmitir a ideia de que o Brasil “tem rumo”, de acordo com outra fonte da equipe econômica. Além disso, Tombini quer passar a mensagem de que o país está em um ano de transição, num momento em que já há progresso na área fiscal e avanços na convergência de inflação, tendo como objetivo alcançar a meta de inflação, de 4,5%, no fim de 2016. Na terçafeira, Tombini disse que o BC “foi, é e continuará vigilante”, trabalhando para garantir que o ajuste de preços relativos fique circunscrito ao curto prazo. A tarefa de Levy e Tombini, neste momento, é fundamentalmente a de administrar expectativas. Os indicadores econômicos têm mostrado uma atividade econômica muito fraca, e não devem melhorar no curto prazo. Não por acaso, Lagarde disse que o Brasil está “parado” (uma tradução livre de “flat”), embora tenha elogiado a estratégia de ajuste do país.
Valor Econômico – SP