25/03/2015 às 05h00
Por Felipe Datt | Para o Valor, de São Paulo
O franchising entra cada vez mais no radar de bancos e agências de fomento, que reforçam o caixa para atender um dos poucos segmentos de destaque em um momento de economia estagnada. Ainda que os números indiquem um crescimento mais modesto em comparação com o desempenho de anos recentes, diversos fatores mostram que o interesse dos bancos em financiar o setor não cessará tão cedo. O segmento mantém o ritmo de abertura de redes e unidades praticamente inalterado. Em 2015, é projetado um aumento de 8% no total de marcas (2.942, em 2014) e de até 10% no número de unidades em operação (hoje, são 125,64 mil). Com mais negócios desembocando no mercado, a procura por financiamento também não para de crescer. “A maior parte dos financiamentos é para abertura de novas unidades. São quase 10 mil pontos novos por ano, com investimento médio de R$ 400 mil. Já dá para avaliar o montante de crédito necessário para fazer frente a isso”, afirma Ricardo Camargo, diretorexecutivo da ABF. O segmento é atrativo para os bancos, também, pelos baixos índices de mortalidade de apenas 3,7% das unidades em 2014, segundo a ABF. Para futuros franqueados que desejam financiar seus negócios, as linhas no mercado são diversas. Uma das mais tradicionais e com as taxas de juros mais atrativas ainda é o Proger. Na Caixa Econômica, a linha Proger Urbano MPE financia até 90% do investimento, com teto de R$ 600 mil, com 60 meses de prazo e juros de 5% ao ano. O limite do investimento é definido pelo franqueador conveniado. “Todo mundo objetiva ter o Proger como alavanca de financiamento, mas nem sempre está disponível e tem a contratação mais burocrática. Muitas vezes os bancos fazem um mix dessa linha com recursos próprios, com taxas maiores”, diz Camargo. Uma das mais novas linhas do mercado é oferecida pela Agência de Desenvolvimento Paulista (Desenvolve SP), que financia a abertura de novas unidades com participação de até 70% dos itens financiáveis, limitada a R$ 600 mil, e prazo de pagamento de 60 meses, com até um ano de carência. Para os que já possuem franquias, mas desejam modernizálas, o limite do financiamento é de R$ 500 mil, com prazos de pagamento idênticos. Nos dois casos, a taxa de juros é de 0,57% ao mês. Segundo o presidente da Desenvolve SP, Milton Luiz de Melo Santos, a linha é voltada tanto para o interessado em abrir a primeira franquia quanto para as franqueadoras que buscam recursos para o financiamento de sua expansão, como ampliação fabril. Em 2014, a agência desembolsou R$ 684 mil em operações de franchising. “Está provado que o financiamento concedido a um projeto de franquia tem probabilidade de sucesso muito maior na comparação com uma pequena empresa de comércio ou serviço. Mas os valores desembolsados ainda são pequenos. Tratase de uma linha que as empresas não descobriram”, diz Santos. Pelo lado dos bancos, é cada vez mais comum a assinatura de convênios com as franqueadoras. Enquanto as instituições financeiras se beneficiam do crescimento das marcas, da chegada a novos mercados e da entrada de novos franqueados muitas vezes com necessidade de recursos, as franquias acabam negociando condições mais atrativas para a rede. O HSBC, por exemplo, tem parceria com 112 redes e financia até 60% do investimento inicial do franqueado, limitado a R$ 300 mil. No Banco do Brasil, são 192 marcas conveniadas, que têm à disposição linhas que financiam a aquisição de máquinas e equipamentos com prazos de pagamento que variam de 36 a 60 meses. “O BB Franquias ainda dispõe de um portfólio de linhas de crédito que atende outras necessidades dos franqueadores e franqueados, como capital de giro e soluções de comércio exterior para permitir a busca de novos mercados”, diz o diretor de Micro e Pequenas Empresas, Adilson do Nascimento Anísio. A solidez do segmento de franquias levou o Bradesco a criar, em 2009, uma área específica para estreitar laços com as redes. Desde então, já foram assinados convênios com 311 marcas, como CNA, Bob’s e Giraffas. O diretorexecutivo, Altair Antonio de Souza, explica que esse elo com as marcas permite ao banco acompanhar seu processo de expansão, entender o modelo de negócios e o índice de mortalidade de suas unidades. “Com isso, temos condições de fazer uma análise mais célere de crédito para o futuro franqueado.” O executivo explica que para investimentos em novas unidades, as linhas mais atrativas são as subsidiadas do BNDES, mas o banco também opera com funding próprio caso o candidato não atenda os prérequisitos do banco de desenvolvimento. Há dois anos foi criada uma linha de investimento que financia até 70% do valor total do novo negócio, com prazo de até 72 meses para a quitação e juros a partir de 2,19% ao mês. “Queremos nos aproximar cada vez mais do segmento. Tanto que, enquanto a carteira de crédito do banco cresceu 6,5% em 2014, nesse setor o avanço foi de 16%”, diz.
Valor Econômico – SP