25/03/2015 às 05h00
Por Dana Cimilluca, Dana Mattioli e Annie Gasparro | The Wall Street Journal
A 3G Capital Partners está em negociações avançadas para comprar a gigante americana de alimentos Kraft Foods, dizem pessoas a par do assunto, num negócio que poderia transformar o setor e que seria provavelmente avaliado em mais de US$ 40 bilhões. Não está claro em que estágio estão as conversas, mas uma das fontes diz que o negócio pode ser anunciado em breve. É possível, também, que as negociações sejam interrompidas e a aquisição não se realize. A Kraft tinha um valor de mercado de cerca de US$ 37 bilhões antes de o “The Wall Street Journal” relatar o possível negócio, ontem. Embora não esteja claro o preço que está sendo negociado, se forem considerados os prêmios típicos pagos nesse tipo de aquisição, o valor da venda poderia chegar bem além de US$ 40 bilhões. A firma brasileira de private equity conhecida por comprar empresas do setor de consumo que ela considera inchadas e, então, cortar custos agressivamente vinha buscando alvos potenciais depois de ter levantado US$ 5 bilhões para aquisições. A firma dos empresários Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira tornouse uma grande participante na indústria alimentícia dos Estados Unidos. Lemann era um grande acionista da cervejaria InBev e ajudou a orquestrar a aquisição da americana AnheuserBusch, em 2008, criando a AB Inbev. Em 2013, a 3G uniuse ao megainvestidor Warren Buffett para comprar a fabricante de ketchup H.J. Heinz, por US$ 23 bilhões. Em 2010, a 3G comprou e fechou o capital da cadeia de fastfood Burger King. No ano passado, a firma adquiriu a rede canadense de cafeterias Tim Hortons através da holding do Burger King. O negócio de US$ 11 bilhões foi em parte financiado por Buffett. Hoje, a Kraft é, em grande parte, um conglomerado alimentício cujas marcas incluem os frios Oscar Mayer, o café Maxwell House e seus produtos homônimos de queijo. A empresa vem recentemente tendo dificuldades diante das mudanças nos gostos dos consumidores e outros fatores que desafiam muitas das grandes companhias tradicionais de alimentos embalados. O faturamento da Kraft no ano passado de US$ 18 bilhões ficou inalterado em relação a 2013, enquanto o lucro líquido caiu 62%, para US$ 1 bilhão, em parte por causa dos custos mais altos das commodities e grandes despesas relacionadas a planos de aposentadoria. A empresa informou que perdeu participação de mercado em 40% de seus segmentos de negócios nos EUA e manteve os demais estáveis. Em dezembro, a Kraft inesperadamente nomeou um novo diretorpresidente para substituir Tony Vernon, que na época estava no cargo há pouco mais de dois anos. Um membro do conselho de administração disse na época que a empresa sentiu necessidade de acelerar o ritmo das mudanças. O presidente do conselho da Kraft, John Cahill, assumiu o cargo de diretorpresidente. Depois de anos trabalhando na PepsiCo e na Pepsi Bottling, Cahill foi sócio da firma de private equity Ripplewood Holdings entre 2008 e 2011 antes de começar a trabalhar na Kraft. Na época, analistas especularam que ele poderia estar mais aberto a vender a empresa ou firmar uma parceria. A Kraft de hoje nasceu de um enorme divórcio corporativo em 2012, quando foi desmembrada da empresa de mesmo nome. Na separação, foi criada uma companhia de salgadinhos, hoje chamada de Mondelez International. A Mondelez ficou com o que eram consideradas marcas globais de crescimento rápido, como Oreo e Ritz, mas enfrentou problemas no começo, em parte pela dificuldade de absorver a marca de chocolates Cadbury, que havia adquirido antes da separação. Mas a Mondelez rapidamente apresentou um agressivo plano de corte de custos e trouxe o investidor ativista Nelson Peltz para o seu conselho de administração uma medida que aliviou a pressão que ele vinha exercendo sobre a empresa para que considerasse uma fusão com o negócio de salgadinhos da PepsiCo. A Kraft alardeou sua estrutura de custos mais enxuta quando comparada a outras empresas de alimentos processado, tendo cortado empregos e eliminado outros custos. Mas ela ainda está muito vulnerável às mudanças nos gostos do consumidor. À medida que as pessoas passaram a comprar mais alimentos frescos, que consideram mais saudáveis, a Kraft tem tentado se adaptar a esse novo cenário eliminando o uso de corantes artificiais em alguns de seus queijos. Ela também tem divulgado muito um lanche com alto índice de proteína chamado P3, que combina frios, cubos de queijo e nozes vendidos sob a marca Oscar Mayer. A Kraft fez avanços na revitalização de algumas marcas antigas como Planters e JellO, mas seus esforços até agora não conseguiram produzir grandes efeitos na receita e no lucro. “Não acho que a Kraft tenha feito um trabalho agressivo em relação ao que precisamos fazer”, disse Cahill no mês passado em uma teleconferência, acrescentando que a Kraft precisa melhorar a qualidade dos seus alimentos. Embora a 3G seja uma firma de investimento, ela tem uma abordagem de captação de recursos diferente de seus pares. A empresa, formada em 2004, procura um seleto grupo de ricos investidores do mundo todo, incluindo Buffett e William Ackman, da Pershing Square Capital Management LP. A 3G usa um processo chamado “orçamento basezero”, pelo qual cada divisão de uma empresa precisa justificar seus custos para o ano todo [sem carregar a memória dos gastos do ano anterior]. Logo depois comprar a Heinz, por exemplo, a 3G fechou fábricas da empresa nos EUA e eliminou mais de 1.000 postos de trabalho. Em fevereiro, a Campbell Soup Co., supostamente um outro alvo potencial da 3G, anunciou planos de cortar custos e adotou o modelo de orçamento basezero. Diferentemente das firmas tradicionais de private equity, os fundadores da 3G gostam de fazer investimentos mais longos que os cinco ou sete anos habituais.
Valor Econômico – SP