20/03/2015 Léa De Luca Alta é reflexo dos juros maiores e do menor apetite por crédito. O lado bom é que quanto mais liquidez, mais o sistema tem capacidade para suportar crises, como a Lava Jato. Os reflexos para o sistema bancário da operação Lava Jato, que apura denúncias de corrupção na Petrobras, estão sendo monitorados de perto pelo Banco Central (BC) mas os bancos brasileiros têm liquidez e solidez suficientes para suportar atrasos e não pagamentos por parte das empresas envolvidas nas investigações. A afirmação foi feita ontem pelo diretor de Fiscalização do BC, Anthero Meirelles, ao apresentar o Relatório de Estabilidade Financeira (REF) referente ao segundo semestre de 2014. O REF mostrou que o sistema bancário brasileiro continuou apresentando baixo risco de liquidez e elevada solvência. O índice de liquidez (IL), que relaciona o volume de ativos líquidos disponíveis para a instituição com o fluxo de caixa estressado (que simula uma situação de crise), subiu de 1,7 para 2 em dezembro último ou seja, na média, as instituições tem o dobro do caixa que precisariam ter em caso de uma corrida a saques. Segundo Meirelles, os resultados apresentados pelo REF tranquilizaram a autoridade monetária. Usamos modelos matemáticos baseados em estatísticas e dados históricos registrados em períodos de crise, disse o diretor, observando, porém, que os desdobramentos da Lava Jato ainda não são todos conhecidos. Não temos bola de cristal, afirmou. Os testes, realizados pelo BC a cada seis meses, incluem uma infinidade de cenários e hipóteses e não apenas os relacionados a Operação Lava Jato. Apesar do ambiente difícil, tanto a liquidez de curto prazo quanto a liquidez estrutural dos bancos continuaram boas, informou. Segundo ele, a alta recente dos juros impôs um ritmo de menor aceleração da concessão de crédito o que levou os bancos a aumentarem os ativos líquidos em R$ 82 bilhões no segundo semestre do ano passado. Esse aumento de liquidez também foi estimulado pelo próprio BC no começo do segundo semestre, ao liberar parte dos compulsórios exigidos. Se o dinheiro não foi para crédito, foi para reforçar o colchão de liquidez anticrise. Ainda segundo Meirelles, testes de estresse realizados no segundo semestre indicaram outros sinais de resiliência do sistema a crises. Apenas se o nível de inadimplência do sistema chegasse a 14%, em média e ainda assim, se as instituições não tomassem providências necessárias é que o sistema seria ameaçado com risco de quebra de bancos. Mas, ao contrário, os atrasos diminuíram de 3,1% em junho para 2,9% em dezembro a melhora foi mais acentuada nos bancos privados. Esperávamos uma ligeira piora nos níveis de inadimplência e de cobertura contra atrasos, disse. O diretor de Fiscalização do BC lembra que a maior parte do relatório analisa situações passadas, mas também tem um olho no futuro. No cenário internacional, por exemplo, o maior risco que o BC aponta é o de surtos de volatilidade. Apesar disso, Meirelles vê os bancos brasileiros imunes a variações abruptas de juros e dólar. Os bancos estão muito bem protegidos com operações de hedge, diz. Também no caso de uma depreciação abrupta dos preços dos imóveis, os bancos que atuam no crédito imobiliário tem alta capacidade de absorção de perdas, segundo os testes realizados. Em relação à solvência medida pelo índice de Basileia Meirelles também diz que houve avanços. A maioria dos bancos tem índices bem acima dos exigidos que aqui é de 11% e vai cair para 10,5% em dezembro. No final do ano passado, apenas oito instituições tinham índices entre 7% e 10,5% e nenhuma tinha índice abaixo de 7%. A maioria (124) tinha índice acima de 10,5%.
Brasil Econômico – SP