26/02/2015 às 05h00
Por Ivone Santana, Renato Rostás e Tatiane Bortolozi | De São Paulo
O grupo espanhol Telefónica planeja acelerar o crescimento e os investimentos para 20152016, com foco na construção de redes e rentabilidades de dados, disse ontem o executivochefe da empresa e presidenteexecutivo do conselho de administração, César Alierta, em teleconferência para analistas. As sinergias decorrentes de consolidação no Brasil e na Alemanha formarão pilares para fortalecer as posições do grupo. No Brasil, o faturamento da empresa passou a representar 23% da receita total, frente a 20,4% um ano antes. No fechamento de 2014, a receita operacional líquida da Vivo, empresa do grupo espanhol no Brasil, atingiu R$ 35 bilhões, 0,8% superior a 2013. A companhia espera aumentar as vendas e o fluxo de caixa no Brasil e na Alemanha, atingindo clientes dispostos a contratar pacotes e serviços de maior valor e com mais qualidade. O objetivo também é preparar a empresa para os próximos anos e obter economia estimada em 1,8 bilhão em 2017, por meio da simplificação dos mercados e sinergias de aquisições. O Brasil, maior mercado fora da Espanha, está entre as prioridades do grupo para o próximo biênio. Alierta disse que houve fortalecimento com a venda da operadora O2, no Reino Unido, para a Hutchison Whampoa. Além disso, afirmou que já foi reduzido o risco no balanço patrimonial com o ajuste cambial na Venezuela, o que permite limitar o aumento de capital da GVT em até 3 bilhões. A compra da GVT será financiada pela Telefônica Brasil, dona da marca Vivo, por meio do aumento de capital em até 4,7 bilhões. O pagamento à francesa Vivendi será em dinheiro e ações. “Nossa parte será de 3,4 bilhões”, disse Ángel Vilá Boix, diretorgeral de finanças da Telefónica. “Faremos uma emissão de ações com direito preferencial de subscrição na Telefónica controladora de 3 bilhões, menos do que esses 3,4 bilhões, porque sentimos que temos espaço para fazêlo.” Em termos gerais, a Telefónica espera alcançar receita 7% maior em 2015, disse Alierta. Os investimentos do grupo estão estimados em torno de 17% das vendas. O crescimento médio acumulado da receita é projetado em mais de 5%. O otimismo não reflete o desempenho da espanhola divulgado ontem. A Telefónica não conseguiu reduzir custos no mesmo ritmo em que perdeu vendas e viu seu lucro líquido cair 89,5% no quarto trimestre de 2014, em relação aos mesmos meses de 2013. O resultado de 152 milhões foi pressionado por maiores gastos com pessoal e com depreciação e amortização. Ao longo de 2014, o lucro líquido caiu 34,7%, para 3 bilhões. Já a receita líquida ficou menor 11,7% e somou 50,38 bilhões no ano, ao passo que o recuo no quarto trimestre foi de 14%, chegando a 12,39 bilhões. Enquanto o grupo prevê a retomada do crescimento na Espanha em 2015, também considera que haverá um aumento de custos comerciais. “Queremos capturar essa tendência de receita, mas também teremos um custo maior de conteúdo, principalmente na Espanha e no Brasil, onde nossa oferta de TV está explodindo”, disse José María ÁlvarezPallete Lopez, diretor de operações e executivo-chefe da divisão Telefónica Europe. Diante da questão se a GVT teria condições de competir com a Net Serviços, do grupo América Móvil, em volume de lares cobertos por sua rede, Lopes afirmou que haverá uma soma de esforços das duas companhias [Vivo e GVT] e também uma significativa melhora na construção de redes da Vivo fora de São Paulo, em termos de fibra para a estação radiobase. Entre os analistas ouvidos pelo Valor houve consenso em relação aos resultados da Vivo acima do esperado. Eles atribuíram o bom desempenho à combinação de receita média por usuário (arpu) resiliente e controle de custos. “Os resultados foram bons face às fracas condições macroeconômicas, como volatilidade cambial e baixo crescimento”, afirmaram os analistas Andrew Campbell e Daniel Federle, do Credit Suisse, em relatório. O Itaú BBA ressaltou o Ebitda ajustado 8% acima do que esperava. Já o Banco Espírito Santo considerou o resultado “modesto”, 2,8% abaixo da estimativa de receita líquida e 10% inferior ao Ebitda.
Valor Econômico – SP