29/01/2015 – 05:00
Por João José Oliveira
Executivos do setor de turismo de Miami avaliam que já passou o pior momento do impacto do câmbio no interesse de brasileiros em viajar para a cidade. A expectativa é que as viagens a partir do Brasil cresçam 6% este ano ante 2014, com a expansão da demanda corporativa.
“O Brasil continuará sendo o principal emissor de turistas para a cidade”, disse o presidente do bureau de turismo de Miami, William Talbert III. “O brasileiro é responsável por um impacto econômico anual de US$ 1,7 bilhão para a cidade”, apontou.
Motivo para preocupação existe, admitem executivos que trabalham o destino Miami. A instabilidade do dólar – que saiu de R$ 2,38 para R$ 2,70 entre julho e dezembro – e a dúvida sobre as eleições gerais deixaram empresas ressabiadas.
“O problema não foi apenas o aumento do dólar, mas o cenário instável. Muitos de nossos clientes são executivos e donos de empresas que não queriam deixar a empresa nesse período. Agora, eu diria que o pior já passou”, disse o sócio da Faberg Tennis Tour, Fábio Silberberg.
A agência é a líder na venda de pacotes para o Miami Open By Itaú, torneio de tênis a ser realizado em março e que reúne estrelas como o espanhol Rafael Nadal e o sérvio Novak Djokovic – por isso, um dos maiores eventos no calendário da cidade, junto com o Miami Beach Centennial Celebrations, o Miami Beach Polo World Cup, a Maison & Objet Americas e ainda o Art Basel Miami Beach.
A Faberg levou ao Miami Open do ano passado 600 brasileiros e tinha meta de elevar esse universo para 700 turistas este ano. Mas as vendas travaram em dezembro, auge da volatilidade cambial e das dúvidas sobre a montagem da equipe econômica do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff. “Na segunda quinzena de janeiro o ritmo de vendas se normalizou”, afirmou.
Esse também é o movimento no setor aéreo. “A demanda começou bem em janeiro”, disse o diretor regional de vendas da American Airlines, Dilson Verçosa Jr. “Mas essa tendência ainda vai depender do câmbio e da economia brasileira”, pondera.
Os executivos do turismo dizem que de um lado o perfil corporativo dos brasileiros que embarcam para Miami tirou fôlego da demanda no último trimestre do ano passado, mas por outro lado cria uma relação mais forte com a cidade americana. “Miami não é apenas shopping”, diz o diretor da American Airlines. “A cidade virou sede para a região da América Latina de várias empresas. Isso faz com que o fluxo de negócios seja relevante. Mais de 60% das passagens que vendemos nessas rotas são para negócios”, aponta Verçosa Jr.
“É um destino ainda predominantemente de lazer, mas a gente tem visto o aumento de brasileiros indo a Miami fazer negócios”, faz coro o diretor comercial da Gol, Fábio Mader, que tem 14 voos semanais para o destino.
“Esse mercado continua crescendo, apesar do dólar e de mudanças na tributação” afirmou Mader, referindo-se a ajustes como a cobrança do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 6,38% sobre cartões de débito usados no exterior.
O incremento de viagens corporativas entre Brasil e Miami explica por que o brasileiro virou o principal estrangeiro na cidade, com 424 mil visitantes no primeiro semestre de 2014 – último dado disponível. O país respondeu por 12% dos 3,6 milhões viajantes que estiveram no destino nesse período.
O segundo colocado nesse ranking e o Canadá, com 345,5 mil visitantes. Mas enquanto o número de canadenses em Miami cresceu 19% de 2009 a 2014, a presença brasileira cresceu 73%.
Esse movimento levou o aeroporto de Miami a reforçar o atendimento aos brasileiros. “Após os investimentos feitos em áreas próprias para receber voos da Gol, da TAM, por exemplo, podemos atender 2 mil passageiros por hora”, diz o diretor de comunicação do departamento de aviação de Miami, Greg Chin.
Só a TAM opera um total de 88 frequências semanais a partir do Brasil para Miami (EUA).
“Miami é número 1 em procura, não só da American Airlines, mas de todo o setor de viagens internacionais no Brasil”, diz Verçosa, da American Airlines, que liga a cidade a São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Recife, Brasília, Porto Alegre e Manaus.
Segundo levantamento da Euromonitor International, firma de pesquisa e consultoria para mercado de bens de consumo e serviços, Miami é a 20ª cidade mais visitada no mundo e a segunda nos Estados Unidos – perde apenas para Nova York -, com 6,3 milhões de visitantes anuais.
Valor Econômico – SP