14/01/2015 RACHEL BIDERMAN- Diretora executiva do World Resources Institute (WRI Brasil O desafio das mudanças climáticas assusta, mas ao mesmo tempo oferece oportunidades. A seca vivida no Sudeste do Brasil em 2014 é um sinal de alerta. Seria resultado de desmatamento na Amazônia, como indicam alguns cientistas? Ou fruto das mudanças climáticas planetárias? Ou, ainda, decorrência de degradação ambiental e da má gestão dos recursos naturais? Todas as alternativas podem ser válidas. O que se vive hoje no Sudeste nos remete a desastres recentes. Ou já se esqueceram dos furacões que assolaram Caribe e Golfo do México? E daqueles sofridos em Honduras, Filipinas, Nova York, Nova Orleans, Alemanha, Inglaterra, Santa Catarina e Amazônia? Tudo isso ainda está fresco em nossa memória. Se tais eventos climáticos extremos ficam cada vez mais intensos e frequentes, e se é possível minimizar desastres maiores, por que é que ainda não estamos agindo com toda energia para que isso aconteça? Nesse cenário tão desolador, onde estariam as oportunidades? Onde reside a esperança? O ser humano enfrentou pressões gigantescas em sua história. Sua inventividade, capacidade de adaptação e inteligência ofereceram sempre saídas. Já temos hoje no planeta o conhecimento, as tecnologias, enfim, todos os recursos que precisamos para reverter o curso e estabelecer um novo modo de vida na Terra. Há cientistas que alertam que esta seria a década da virada. Nos próximos 10 a 15 anos, teríamos que optar por fontes de energia renováveis, alterar modos de produção agropecuária, mudar padrões de consumo, promover a restauração da natureza em áreas degradadas, criar e implementar unidades de conservação em todos os biomas, e tornar mais eficiente e inteligente nossa mobilidade e uso de recursos. Portanto, há esperança. As soluções existem e muitos países, empresas, coletivos e cidadãos já adotam práticas desse tipo. Porém, temos que sair da pequena escala em que essas coisas estão acontecendo e torná-las virais, mandatórias e disseminá-las rapidamente pelo planeta. Parece simples, não é? Bastaria boa vontade, compromisso, alocação de recursos. Começaríamos por eleger mulheres e homens comprometidos com essas soluções em todos os espaços públicos. Teríamos ainda prefeitos, governadores, deputados e vereadores atuando em defesa das florestas e sistemas naturais, e das populações locais, visando sua saúde e seu acesso à água e alimentos em condições suficientes e equilibradas. Que incrível seria se rapidamente passássemos de uma matriz energética baseada na exploração de combustíveis fósseis, altamente poluentes, para um sistema que usa o sol, os ventos e as marés, como sua principal fonte, sem poluir nem gerar gigantescos impactos sobre a atmosfera. Essas ações gerariam empregos verdes, alimentos saudáveis, mobilizariam as pessoas para construírem economias sustentáveis nas escalas locais e garantiriam acesso à água limpa. Se tudo isso está ao nosso alcance, por que é que ainda não virou a regra? Esperamos que essa reflexão também seja feita pelos líderes mundiais, inclusive aqueles que participam das negociações das Conferências das Partes (COPs) da ConvençãoQuadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima. Afinal, até a COP 21, que acontecerá na França, no final de 2015, será preciso chegar num consenso para finalizar um novo acordo global sobre o clima.
Brasil Econômico – SP