Apesar da desaceleração do mercado imobiliário e da expectativa de menor volume de entrega, em 2015, de empreendimentos residenciais do que no ano passado, fabricantes de materiais de construção projetam elevação de suas vendas. Para dar suporte ao crescimento, as indústrias têm buscado diversificar a clientela e ampliar as regiões de atuação. O setor espera retomar a expansão neste ano, com alta de 1% no faturamento real, após queda estimada de 7% em 2014, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat).
Para a fabricante de revestimentos cerâmicos Portobello, o principal vetor de crescimento será o início das operações, neste semestre, da unidade de Marechal Deodoro (AL). Na nova fábrica, a Portobello produzirá itens destinados às classes B e C. Sem considerar a receita da nova fábrica, a empresa projeta crescimento semelhante ao de 2014, patamar não divulgado. O canal engenharia responde por 30% das vendas e, dessa fatia, a maior parte é direcionada para construtoras de imóveis residenciais.
A Portobello busca aumentar vendas diretas para os segmentos de saúde, hotelaria e shopping centers, o que contribui para que ter “mais resiliência” em momentos de desaceleração do mercado imobiliário residencial, segundo o diretor financeiro e de relações com investidores, John Suzuki. A fabricante de tintas Ibratin, que destina de 70% a 75% de suas vendas para construtoras, também aposta na ampliação de sua base de clientes. Além da previsão de menor conclusão de empreendimentos em 2015, ressalta o gerente de vendas e marketing da Ibratin, Dijan Barros, há perspectiva de entregas futuras muito abaixo dos últimos anos. A empresa começou a aumentar a parcela de clientes entre pequenas e médias. “Se conseguirmos manter o crescimento do ano passado, estamos felizes.” Em 2014, o volume vendido cresceu 18% e o faturamento, 11%, ante projeções de 25% e 15%, respectivamente. Na avaliação do presidente da Saint-Gobain para o Brasil, Argentina e Chile, Thierry Fournier, apesar da previsão de queda dos lançamentos, o mercado pulverizado da reforma puxará a demanda.
A Saint-Gobain estima crescimento de 7% nas vendas em 2015, após alta de 10% no ano passado. Os investimentos previstos para o Brasil em 2015 somam R$ 550 milhões, sem considerar aquisições. Segundo Fournier, o grupo considera abertura de quatro fábricas e quatro lojas da Telhanorte. “O Brasil estratégico para a SaintGobain em todo o mundo, pois apresenta uma das maiores taxas de crescimento do grupo nos últimos anos.” A maior parte das vendas da fabricante de argamassas Weber SaintGobain, uma das empresas do grupo, são direcionadas para reformas, segundo o diretor de marketing, Asier Amorena. “Há demanda reprimida para reformas, principalmente habitacional.” A diversificação geográfica e de produtos tem possibilitado o aumento das vendas da Weber. Em 2014, a empresa cresceu 10%, ante expectativa de 7,5%. Para 2015, a projeção é de aumento de 8%. A Eucatex, que produz painéis de madeira e tintas, prevê melhor desempenho em todos os segmentos, inclusive na exportação, segundo o presidente, Flavio Maluf. Será um ano de mix de vendas melhores. Em relação ao volume, a expectativa é de manutenção no mercado interno e elevação das exportações, devido ao câmbio. De acordo com o presidente, a pressão do câmbio nos custos de matériaprima será compensada pela queda dos preços dos insumos atrelados ao petróleo.
A Assa Abloy Brasil Sistemas de Segurança, que fechou duas aquisições no último trimestre de 2014, mantém sua estimativa de elevar seu faturamento em 20% neste ano. “Mas a perspectiva é mais baseada na sinergia das empresas do que no crescimento do mercado. Vendemos nossos produtos principalmente para prédios residenciais, e 2015 terá menos entregas do que 2014”, diz o presidente, Luís Augusto Barbosa. Focada em sistemas de aberturas de portas, a Assa Abloy vai levar, por exemplo, sua marca La Fonte para o Norte e o Nordeste pela sinergia com a Silvana, uma das empresas adquiridas, localizada em Campina Grande (PB). Já os produtos da Silvana, com perfil econômico e concentrados no varejo, passarão a ser distribuídos também para construtoras. A fabricante de cadeados e fechaduras Pado prevê crescimento de dois dígitos em 2015, ante a expansão de 6% no ano passado. “O primeiro trimestre de 2014 foi ótimo, o segundo, lamentável, e só houve retomada a partir de agosto”, conta o presidente do conselho de administração da Pado, Alfons Gardemann. As vendas para o setor de construção correspondem a cerca de 40% do total.
A Mexichem detentora das marcas Amanco, Plastubos e Bidim de tubos e conexões teve expansão, no ano passado, maior do que a projetada. O faturamento cresceu 12%, para R$ 1,74 bilhão, ante a estimativa de 10%. O desempenho resultou, segundo o presidente da Mexichem, Maurício Harger, de aumento de capacidade e entrada em novos segmentos. A Mexichem Brasil projeta expansão de 8% para o faturamento em 2015, mas está “um pouco cautelosa” em relação ao primeiro semestre devido ao cenário macroeconômico, conforme Harger. “Se houver ações consistentes de restrição ao fluxo de caixa do governo, pode haver impactos nos segmentos de infraestrutura e irrigação.” Já a continuidade do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida tende a impactar, positivamente, a demanda dos produtos da empresa pelo setor de construção, segundo o executivo. A Knauf, fabricante de sistemas de construção a seco drywall, estima que crescerá 10% em volume neste ano, em linha com a expansão esperada para o segmento, de acordo com o gerente comercial da Knauf do Brasil, Marcelo Hansen. em 2014, a Knauf cresceu 8,6%, ante a expectativa de 10%.
Valor Econômico – SP