09/01/2015 Rafael Lourenço – superintendente da Câmara de Comércio Americana do Rio de Janeiro (AmCham Rio) O ano de 2014 foi de retomada. Dois dias após o resultado das eleições para presidente, que culminou com a vitória de Dilma Rousseff, o tópico política externa ganhou força entre as prioridades do governo federal para os próximos anos, especialmente em relação aos Estados Unidos. A possibilidade de reaproximação entre os dois países, pouco mencionada durante a campanha devido ao episódio da espionagem, sinaliza nova perspectiva para a estratégia comercial que o Brasil escolheu nos últimos anos. Coincidência ou não, a decisão de avançar em uma possível agenda com os americanos ocorreu em sintonia com o telefonema de Barack Obama à presidenta para felicitá-la pela reeleição. Na ocasião, Obama reforçou o comprometimento de seu governo já firmado em 2011 em fortalecer as relações bilaterais. O primeiro sinal efetivo de sua intenção foi dado em junho, com a vinda do vice-presidente da Casa Branca, Joseph Biden, para encontrar Dilma durante a Copa do Mundo. Já na reunião da cúpula do G20, realizada em novembro, na Austrália, ambos os países sinalizaram uma nova visita brasileira a Washington. O atual cenário amistoso abre espaço para avanços na cooperação entre países. E já era hora. O empresariado brasileiro ressente-se de um maior protagonismo do governo e há medidas a serem tomadas para aumentar exportações e importações. De acordo com dados do Banco Central, o ano se encerra com a economia desacelerada, inflação próxima do teto de 6,5% estimado para o ano, o PIB abaixo de 1% e uma taxa de crescimento de 0,20%, a menor desde 2009, quando o país sofreu retração de 0,33% na indústria. E a expectativa para 2015 não é motivadora: segundo o FMI, o cálculo de expansão da nossa economia caiu de 2% para 1,4%. As intenções do novo mandato de Dilma devem se traduzir em iniciativas embasadas e capazes de maximizar a confiança no investidor. Esta precisa ser uma meta em 2015. Hoje, é perceptível que os emergentes não ocupam mais a posição privilegiada que alcançaram na crise de 2008. A recuperação parcial das potências tradicionais e a dificuldade de manter os mesmos padrões de crescimento demandam gestão eficiente e alinhada com o cenário global. A reaproximação com os americanos colaborará para o crescimento da economia brasileira e para a reconquista de espaços junto ao mercado externo. Obama conhece o valor estratégico da relação com o Brasil, uma das principais economias das Américas, e tem interesse em aprofundar trocas em setores de comum interesse. Prova disso é a resolução do contencioso do algodão em outubro, que encerrou a pendência comercial sobre os subsídios pagos pelo governo norte-americano a seus produtores. A atitude mostra que há espaço para entendimentos se os governos deixarem de jogar na defensiva e se dedicarem à superação dos problemas como vemos agora com o retorno das relações EUA-Cuba. Assim como o Brasil, a redefinição no quadro político dos Estados Unidos trará mudanças fundamentais para os próximos passos das relações bilaterais. A recuperação do capital americano deve integrar nossa estratégia de melhoria da competitividade nacional. Não faltam obstáculos pelo caminho, mas não podemos negar que já conhecemos a lição de casa.
Brasil Econômico – SP