O edital para a privatização da Cesta do Povo, a segunda maior rede de supermercados da Bahia, deve ser lançado no primeiro semestre de 2015. O governo baiano montou um grupo de trabalho para definir nos próximos meses o modelo de alienação do controle acionário da companhia. Caberá a esse colegiado, por exemplo, determinar se a venda da rede, administrada pela Empresa Baiana de Alimentos (Ebal), será total ou parcial, assim como decidir se o futuro comprador assumirá os R$ 726 milhões em dívidas acumuladas.
Apesar disso, o Estado tem conseguido controlar o aumento do rombo nos últimos anos. A empresa, que tem 285 lojas em 236 municípios baianos, encerrou 2013 com um faturamento de R$ 650 milhões e o menor déficit para o período de 12 meses dos últimos anos R$ 3 milhões, segundo Eduardo Sampaio, diretorpresidente da Ebal. Os dados de 2014 não estão fechados, mas o executivo projeta uma receita próxima à do ano anterior. A Cesta do Povo foi criada em 1979 para regular os preços dos alimentos diante do aumento da inflação. A regulação perdeu espaço com a estabilidade da moeda, a partir de 1994, com o lançamento do Plano Real.
De acordo com Sampaio, em meados dos anos 90 houve um aumento do prejuízo contábil. A rede sobrevive às custas de subsídios do Tesouro estadual. Segundo o governo do Estado, nenhuma empresa manifestou até aqui interesse na compra da Cesta do Povo. Nos bastidores, no entanto, circula a informação de que uma grande rede de supermercados do país teria sondado a Ebal em 2013, quando o então governador Jaques Wagner (PT) contratou uma consultoria internacional para dar um destino à única rede pública de supermercados do país. Entre 2007 e 2013, o Tesouro estadual repassou R$ 381 milhões à empresa. A consultoria apontou que os recursos disponibilizados nesse período eram insuficientes e que seriam necessários pelo menos R$ 200 milhões somente em 2014 para dar sustentabilidade financeira e condições à Cesta do Povo de concorrer com as redes privadas. Em 2014, a rede recebeu apenas R$ 15 milhões, sendo a maior parte voltada para a compra de equipamentos de informática.
A ideia de privatizar a empresa ganhou corpo com a eleição do novo governador, Rui Costa (PT), que na época em que a consultoria foi contratada, era secretário da Casa Civil. Com um orçamento engessado e pouco dinheiro em caixa, o petista aproveitou a equipe de transição para estudar uma reforma administrativa com o objetivo de otimizar a máquina. “Daí floresceu a ideia de vender o controle acionário da empresa, já que não há sentido em tirar dinheiro da saúde e da educação para custear um supermercado”, diz Edelvino Góes, secretário de administração da Bahia. A princípio, a empresa que comprar a rede terá que manter todas as lojas abertas por um período a ser definido, para assegurar o emprego dos 2,9 mil funcionários.
Valor Econômico – SP