05/12/2014 às 05h00
Por Antonio Perez e Lucinda Pinto | De São Paulo
À luz do comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) divulgado na quarta-feira à noite, os investidores trataram de derrubar as taxas futuras ontem na BM&F, reduzindo as apostas em relação ao ritmo e à extensão do atual ciclo de aperto monetário. Embora tenha acelerado o passo e elevado a Selic em 0,5 ponto, para 11,75%, o Copom salpicou o comunicado com expressões que deixam dúvidas sobre seus próximos passos.
O colegiado do Banco Central (BC) não apenas utilizou a locução adverbial “neste momento” para qualificar sua decisão como alertou que “o esforço adicional da política monetária tende a ser implementado com parcimônia”, levando em consideração “os efeitos cumulativos e defasados” das altas anteriores.
Dúbio, confuso, ambíguo foram algumas das expressões utilizadas por analistas para se referir à combinação do aumento do ritmo de aperto monetário com a ressalva de que as próximas ações serão dadas com parcimônia. Parte dos analistas viu o comunicado como um sinal de que o Copom não pretende estender muito o ciclo de aperto e pode até reduzir o ritmo para 0,25 ponto em janeiro.
Para o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luis Otavio de Souza Leal, o Copom deixou a porta aberta para repetição da dose de 0,5 ponto ou redução do ritmo para 0,25 ponto. “Diante de tantas incertezas, o Copom preferiu não se comprometer”, diz Leal, citando as dúvidas quanto às medidas de ajuste das contas públicas e ao rumo da política monetária americana. “A única certeza parece ser que o Copom quis tirar do radar a ideia de que poderia haver uma alta de 0,75 ponto em janeiro”.
Na BM&F, as taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) mais curtos murcharam. Não por acaso, o DI com vencimento em abril de 2015 – que abriga as apostas para a decisão do BC em janeiro e março – foi o mais líquido do pregão, com 328 mil contratos negociados. A taxa do derivativo caiu de 12,10% para 11,95%. Já o DI para janeiro de 2016 – que reflete as expectativas para o rumo da Selic ao longo do ano que vem – caiu de 12,60% para 12,40%.
Cálculos da gestora de recursos Quantitas mostram que, antes do encontro do Copom, as taxas futuras refletiam expectativa de alta da Selic em 0,65 ponto em janeiro, ou seja, boa parte dos investidores apostava em elevação de 0,75 ponto. Com o tombo dos DI ontem, a curva de juros passou a mostrar expectativa de alta de 0,44 ponto no mês que vem. E a elevação completa projetada para 2015 caiu de 1,18 ponto para 0,91 ponto.
O sócio-gestor do Modal Asset, Luiz Eduardo Portella, lembra que, na quarta-feira, o mercado de juros começou a cogitar a possibilidade de o Copom elevar a Selic em 0,75 ponto já neste encontro de dezembro. Se o comitê apenas afirmasse que a decisão de acelerar o passo foi tomada “neste momento”, a aposta em 0,75 em janeiro poderia ganhar força.
“No mês que vem, a inflação é mais alta sazonalmente e o mercado poderia começar a considerar que o ritmo de aperto seria mais forte”, diz Portella, ressaltando que, ao usar a expressão parcimônia, o BC estaria apenas reforçando a ideia de que vai manter o ritmo.
Valor Econômico – SP