27/11/2014
Por João José Oliveira | De São Paulo
As maiores agências de turismo do país planejam crescer em 2015 com abertura de lojas físicas, apoiadas no sistema de franquia. Juntas, CVC, TAM Viagens, Flytour, Agaxtur, Stella Barros e TZ Viagens preveem lançar 375 novos pontos para vender viagens de lazer. Isso significa aumentar a base no país, que é de 3,5 mil pontos de venda, segundo a Associação Brasileira de Agências de Viagem (Abav), em quase 11%.
De um lado, as líderes CVC e TAM Viagens querem explorar a maior capilaridade – juntas somam 1.026 lojas – para capturar a demanda da nova classe média por destinos domésticos. De outro, casas como Agaxtur, Flytour, Stella Barros e TZ Viagens vão disputar o interesse das classes A e B por rotas internacionais.
A expansão da rede física do varejo de turismo tem lógica. Segundo dados da Euromonitor, até o fim de 2017 o faturamento do mercado de turismo no Brasil feito com intermediários deve atingir R$ 56 bilhões, ou 43,6% mais que o valor calculado em 2013.
“Existe grande demanda que vem sendo atendida por agências independentes”, disse o presidente da TZ Viagens, Paulo Manuel. “Mas são operações cada vez mais pressionadas pela concorrência de grandes operadoras, de redes hoteleiras e companhias aéreas que, pelo tamanho, têm maior poder de barganha”.
O executivo defende uma tese predominante no setor – a de que o avanço de vendas on-line não tira a necessidade de uma rede física para ganhar mercado. “Quanto mais caro o pacote e mais longa a viagem, maior é a demanda por orientação e atendimento no pós-venda”, disse o presidente da TZ Viagens.
Segundo relatório do site eMarketer, o mercado de viagens de lazer no Brasil tem cerca de 25% de vendas que passam pela web em algum momento – entre a pesquisa e o pagamento da compra. A firma de consultoria calcula em 45% o crescimento anual desse canal de vendas. “Mas ninguém arrisca comemorar 25 anos de casamento numa viagem de 15 dias para o exterior comprando o pacote na internet. Se algo der errado, não tem para quem reclamar”, diz o presidente da CVC, Luiz Falco.
Na líder em turismo da América Latina, apenas 4% das vendas são feitas online. Já o sistema de franquias permitiu à CVC crescer abrindo 100 lojas por ano. O grupo fechou o terceiro trimestre com 851 pontos de venda.
O modelo também é seguido pela TAM Viagens, que vai passar das atuais 175 lojas para mais de 200 no fim do ano que vem. O grupo até investiu em tecnologia – R$ 10 milhões este ano -, mas com foco na integração das plataformas digital e física da rede de vendas de suas franqueadas.
Foi por isso que o Grupo Schultz, que atua há 30 anos no turismo por meio de seis empresas – Schultz Vistos, Vital Card, Schultz Operadora, TZ Systems, TZ Seguros e TZ.com – decidiu apostar na franquia na hora de estrear no varejo de viagens.
No último dia 25 de novembro, a TZ Viagens inaugurou a 22ª unidade da franquia, em São Paulo. A meta do grupo é atingir 400 unidades no país até 2019. O presidente da TZ Viagens diz que optou pelo modelo de franquia multimarcas – que vende passagens, diárias e voos de 26 fornecedores diferentes.
Outras competidoras seguem o mesmo roteiro. A Agaxtur, mais antiga agência na venda de cruzeiros, decidiu aderir ao sistema este ano. O presidente do grupo, Aldo Leone Filho, diz que o plano é abrir 20 lojas franqueadas até dezembro de 2015. “Nossas margens são apertadas, na casa de 2%. O cenário é de maior pressão por causa da concorrência. Por isso, precisamos de escala”, disse Leone Filho.
O grupo Flytour, operadora turística focada no segmento corporativo que gerou vendas de R$ 4 bilhões em 2013, quer mais que dobrar de tamanho até 2018, explorando o segmento de lazer, onde a empresa tem participação praticamente nula.
A empresa está investindo R$ 100 milhões no período 2012-2015 em tecnologia e marketing para permitir que a rede de 426 lojas passem a vender viagens de lazer além dos pacotes corporativos. Para o ano que vem, o plano é ter cem lojas nesse modelo.
A Stella Barros, operadora de viagens com 50 anos de idade, vai implementar em 2015 o plano de expansão desenhado para resgatar a marca que já foi líder em embarques para a Disney. A agência é hoje uma das 10 empresas do Grupo Águia, mas gera menos de 1% receita da holding.
Para elevar essa participação, o Grupo Águia gastou US$ 1,5 milhão no sistema de vendas de pacotes turísticos on-line e no modelo de franquia. O plano é abrir cinco lojas até o fim do próximo ano. “Queremos que essa empresa represente até 15% do faturamento do grupo em cinco anos”, disse o presidente do grupo, Paulo Castello Branco.
A abertura de lojas por meio de franquias também é a base de uma estreante no mercado, a Addin Viagens. Com investimento de R$ 31 milhões, o grupo tem meta de lançar 300 lojas franqueadas até 2018. “O mercado brasileiro é muito segmentado. As dez maiores do setor têm menos de 20% de ‘market share’. Vai haver consolidação e a franquia será um vetor desse processo”, disse o diretor presidente da Addin, Carlos Eduardo Bueno, que passou pelo pela Alatur – uma das três maiores em turismo corporativo no Brasil.
Valor Econômico – SP