27/11/2014 às 05h00
Por Helô Reinert | Para o Valor, de São Paulo
Em tempos de baixo crescimento da economia, a união pode fazer a força. Representantes de shoppings e franquias decidiram sentar para conversar e chegaram à conclusão que a evolução do relacionamento dependia de um conhecimento mútuo mais profundo. O primeiro movimento de aproximação das entidades materializou-se na realização de um estudo que permitiu levantar o número de marcas e o total de lojas franqueadas nos centros comerciais.
Os shoppings contam com 55.743 lojas e 18.435 marcas distintas. Ocupam o maior espaço, em ordem decrescente, os setores de vestuário, alimentação, calçados e acessórios, e serviços. As franquias, que têm apenas 5,3% das marcas presentes nos shoppings, ocupam 34,5% dos pontos de vendas oferecidos. Não é pouco.
No setor de alimentação as franquias lideram e representam 57,1% dos espaços alugados. Em brinquedos, ocupam 40,3%. Calçados e acessórios ficam em terceiro lugar, com 37%. O setor de casa e construção tem 29,6%. As franquias de serviços representam 43,5%. Nos últimos tempos, as áreas destinadas a esse setor começaram a ser mais valorizadas pelos shoppings. Nota-se um movimento do setor de serviços dentro dos centros comerciais em duas direções: saída da área de estacionamento ou ampliação dos espaços. Em geral, os shoppings consideram que as franquias são negócios estruturados e que tendem a permanecer mais tempo na estrutura. Os franqueados têm interesse no que os centros comerciais oferecem: público, ambiente agradável, infraestrutura adequada e segurança.
As entidades estão convencidas de que ter um mapa preciso dos movimentos do mercado é fundamental para o crescimento do franchising e para o sucesso dos shoppings. Afirmam que o primeiro levantamento conjunto inaugura uma nova fase no relacionamento já antigo, que precisava de uma renovação. Há cinco meses ABF e Abrasce decidiram trabalhar juntas para aplicar uma metodologia única e levantar os números das duas casas.
“Em momentos de baixo crescimento econômico devemos ter maturidade e trabalhar juntos para identificar pontos de gargalo e buscar um crescimento constante”, diz a presidente da Associação Brasileira de Franchising, Cristina Franco. O franchising deve fechar o ano com um crescimento entre 5% e 7%, menor que os dois dígitos verificados nos últimos dez anos. “Gerencia e administra bem quem conhece os seus números”, diz o presidente da Abrasce, Associação Brasileira de Shopping Centers, Luiz Fernando Veiga. De janeiro a setembro, o setor cresceu 7,3%, mas o aumento da receita poderá chegar a 9%.
As negociações entre shoppings e franquias costumam ser acirradas, mas o momento econômico tem favorecido o início do diálogo. “Existe um movimento lento no sentido de conciliar comercialmente os dois modelos”, diz Filomena Garcia, sócia da consultoria Cherto. Para ela, durante 2015 as marcas mais do que nunca vão olhar os índices de produtividade, os custos e as despesas. “As marcas têm um limite”, reforça. A conversa tem evoluído, mas isso não significa que os shoppings disputados estejam dispostos a renegociar os valores dos aluguéis para baixo.
“O que valerá sempre é a lei da oferta e da procura”, diz o representante da Abrasce. Os centros mais procurados devem manter a sua política, mas existe consenso de que, nos shoppings do interior, a situação é outra. Com índice de produtividade mais baixo, a disposição para negociar aumenta. Segundo o Ibope Inteligência, na média geral, a taxa de ocupação dos shoppings inaugurados apresenta um crescimento pouco expressivo: de 50% em dezembro de 2013, para 57% em junho de 2014.
De acordo com a porta-voz da ABF, o empresariado do franchising está conservador, mas com tendência ao otimismo. A interiorização dos shoppings indica que há espaço para crescer fora da região costeira e das grandes capitais. Segundo Wagner Lopes D’Almeida, diretor da Global Franchise, levar marcas e produtos que são objetos de desejo de consumo a um público que tem um certo poder de compra, mas que não dispõe de acesso fácil a esses produtos, beneficia lojas âncoras, cinemas e redes locais, mas oferece mais oportunidades para as franquias “Elas levam vantagem maior porque contam com franqueados que operam várias marcas diferentes simultaneamente”, diz. Neste ano, serão inaugurados 24 shoppings no Brasil, número menor que a previsão inicial de 43 unidades.
A região Norte é onde o modelo de franquias mais cresce no país. Mas os três principais mercados continuam no Sudeste. Em São Paulo, onde há 53 shoppings e 8.448 lojas, as franquias utilizam 38% desses espaços. Nos 37 centros de compras do Rio de Janeiro existem 5.135 lojas, das quais 1.721 são franquias, o que equivale a 34%. Belo Horizonte vem em terceiro lugar, com 22 shoppings e 2.123 lojas, das quais 33% delas funcionam com franchising.
Valor Econômico – SP