25/11/2014 às 05h00
Por Leslie P. Norton | Especial para The Wall Street Journal
Enquanto o crescimento das exportações da China vem desacelerando drasticamente nos últimos anos, um punhado de países vizinhos está se beneficiando. Vietnã, Camboja, Laos e Mianmar elevaram suas exportações numa expressiva média de quase 20% ao ano nos últimos quatro anos, ao passo que o crescimento das exportações chinesas caiu de 31% para menos de 8% no mesmo período.
Para a população desses países em ascensão, o aumento das exportações significa mais empregos, mais indústrias e mais dinheiro para gastar. Não é de surpreender que a média de crescimento econômico desses países esteja subindo, tendo atingido 7,3% em 2013, contra 5,9% cinco anos atrás. No mesmo período, o crescimento da China caiu de 9,6% para 7,7%.
Juntos, Vietnã, Camboja, Laos e Mianmar, ao lado de seu vizinho maior e mais desenvolvido, a Tailândia, estão se tornando a “Nova China”.
Apesar de a economia conjunta desses países ser muito menor que a da China, ela cresce rápido e demonstra um dinamismo manufatureiro que faz lembrar a China nos anos 90. Na verdade, o Produto Interno Bruto dessas cinco nações juntas, de US$ 641 bilhões no ano passado, equivale ao da China de 20 anos atrás.
Um ponto-chave que atrai as indústrias para esses mercados emergentes é o custo baixo da mão de obra, especialmente se comparado ao da China, onde o salário médio de um operário subiu 14% ao ano nos últimos dez anos. O típico operário de fábrica na China ganha cerca de US$ 700 por mês, em comparação com US$ 250 no Vietnã, US$ 130 no Camboja, US$ 110 em Mianmar e US$ 140 em Laos.
Com a China ficando tão cara, marcas globais estão pressionando fornecedores chineses a construir fábricas na Ásia emergente, onde os salários são baixos. E embora os salários sejam apenas uma fração dos pagos em países ocidentais, esse influxo de investimentos promete melhorar a vida de milhões de pessoas na região.
A China certamente ainda é o centro de manufatura de gigantes do setor têxtil como Luen Thai, Shenzhou International e Pacific Textiles, mas hoje em dia essas empresas estão sendo encorajadas por clientes como Nike, Adidas, Uniqlo (uma divisão da Fast Retailing) e Coach a aumentar seus investimentos no Vietnã, Camboja e outras partes do Sudeste Asiático, diz Nick Beecroft, especialista em portfólio da T. Rowe Price, em Hong Kong.
Em uma pesquisa feita no ano passado pela firma de consultoria McKinsey, 72% dos compradores estrangeiros disseram que planejavam comprar menos produtos manufaturados da China e mais de outros países asiáticos com custos menores. “A maior parte das empresas que estudamos” que só compram seus produtos da China “nos dizem que, ao longo dos próximos cinco a dez anos, 30% a 40% [de suas compras] virão da China, e 30% a 40% do Vietnã e Camboja”, diz Bobby Bao, que gerencia o fundo Fidelity China Region, em Hong Kong.
Uma fã da região emergente é a americana VF, dona das marcas Timberland, Nautica e North Face. A empresa compra hoje 17% de seus produtos, incluindo agasalhos, mochilas e calçados, do Vietnã. A China, em contrapartida, responde hoje por cerca de 24% da produção de agasalhos da VF, uma queda em relação aos mais de 30% de dois anos atrás. Tom Nelson, que lidera o departamento de aquisição de produtos e serviços da VF, diz: “O Vietnã tem 93 milhões de pessoas; elas são jovens; elas precisam trabalhar. Muitos negócios se mudaram da China para o Vietnã e talvez ainda mais da Indonésia para o Vietnã. A eficiência é boa e também é fácil montar e administrar fábricas.”
William Fung, presidente do conselho da Li & Fung, grande empresa de produção terceirizada, comenta que no nível de produtos como roupas, brinquedos e sapatos “você verá uma migração para o Vietnã, Camboja, Bangladesh e, o destino mais recente, Mianmar”.
A China ainda atrai mais de US$ 300 bilhões de investimentos diretos líquidos, mas apenas 38% são gastos em fábricas, uma queda em relação aos 56% de 2009. “É um forte declínio”, diz Derek Scissors, do centro de estudos American Enterprise Institute. “Empresas estrangeiras estão consideravelmente menos interessadas na China como base manufatureira.”
O melhor exemplo de sucesso do Sudeste Asiático é o Vietnã. “Você precisa de níveis altos de poupança, terra disponível, mercado de trabalho livre e mão de obra barata. O Vietnã é o mais próximo [da China] e tem tudo isso”, diz Jonathan Woetzel, um consultor da McKinsey em Xangai. Outrora um dos países mais pobres do mundo, o Vietnã está hoje na categoria “classe média baixa”, segundo o Banco Mundial. Pouco mais de 10% de sua população vive na pobreza e sua taxa de alfabetização alcança hoje 94%.
Ainda assim, a demanda doméstica tem sido fraca, num momento em que o Vietnã tenta conter a inadimplência no sistema bancário. Hanói quer reduzir empréstimos incobráveis para 3% até o fim de 2015, comparado com 4,1% em julho. Recentemente, as agências de classificação de crédito Moody’s e Fitch elevaram a nota do Vietnã. Em 2015, o crescimento econômico deve acelerar para 6,2%, ante 5,4% este ano.
Os vietnamitas também estão começando a fabricar produtos mais sofisticados. O país se beneficia da proximidade da cadeia de fornecimento de eletrônicos. A fabricante americana de chips Intel fez seu primeiro investimento no país em 2010. Uma razão: A manufatura de produtos sofisticados paga um imposto corporativo de 10%, menos da metade do imposto normal de 22%. O investimento da Intel teve um efeito multiplicador. Empresas de Taiwan, Japão e Coreia do Sul seguiram seus passos.
A Samsung Electronics e a LG Electronics anunciaram investimentos grandes no país, incluindo uma fábrica de smartphones da Samsung orçada em US$ 3 bilhões, o que eleva o investimento total da empresa no Vietnã para cerca de US$ 11 bilhões. Até o fim de 2015, a Samsung espera estar produzindo 40% de seus telefones no Vietnã. “Isso substitui o trabalho de montagem que estava sendo feito na Coreia e China. Estimula outros fornecedores a se mudarem”, diz Simon Male, diretor de renda variável na Ásia da Auerbach Grayson.
Os telefones já superaram os têxteis como o principal produto de exportação do Vietnã. E, no próximo ano, a Intel prevê que estará produzindo 80% de seus chips de computador no país.
Leslie P. Norton é editora sênior e colunista do semanário Barron’s.
Valor Econômico – SP