20/11/2014 16h45
De acordo com o executivo Rômulo de Mello Dias, presidente da Cielo, a nova empresa, que ainda não tem nome, terá 500 funcionários
O lucro líquido pro forma da joint venture que Cielo e Banco do Brasil vão criar para atuar na gestão de cartões, confirmada na quarta-feira (19/11) foi de R$ 578 milhões de setembro do ano passado até o mesmo mês de 2014. A informação é de Rômulo de Mello Dias, presidente da Cielo. “Não é casca. A empresa nasce com receitas, funcionários etc”, destacou ele, em teleconferência, nesta quinta-feira, 20. De acordo com o executivo, a nova empresa, que ainda não tem nome, terá 500 funcionários.
A divisão de receitas entre os acionistas seguirá o arranjo societário definido, sendo 70% para a Cielo e 30% para o BB. A adquirente indicará três membros do conselho da joint venture que serão, conforme Mello, executivos da Cielo. Já o BB indicará os outros dois. O CEO da nova empresa também ficará a cargo da Cielo. Segundo Dias, o executivo pode ser tanto da própria adquirente como do mercado.
As conversas entre BB e Cielo sobre a joint venture em cartões tiveram início, de acordo com ele, no começo de 2014, mas foram interrompidas em maio por não chegarem a um acordo. “Interrompemos as conversas em maio e retomamos recentemente. O BB nos procurou e trouxe ideias novas e nós também”, resumiu o presidente da Cielo, sem dar mais detalhes.
A nova sociedade a ser constituída por BB e Cielo terá o direito de explorar as atividades de gestão das transações de contas de pagamento pós-pagas e de gestão da funcionalidade de compras via débito de arranjos de pagamentos. A adquirente aportará R$ 8,1 bilhões na joint venture, cujos recursos virão de uma emissão de debêntures com garantia firme, conforme antecipou o Broadcast. A nova companhia está avaliada em R$ 11,6 bilhões.
Dívida bruta
A dívida bruta da Cielo aumentará de quase R$ 2,5 bilhões para R$ 10,1 bilhões com a emissão de debêntures que a adquirente fará para aportar na nova joint venture que terá com o Banco do Brasil, segundo Rômulo de Mello Dias, presidente da Cielo. O índice dívida líquida/Ebitda ajustado passará de 0,5 vez para 1,6 vez, diz ele. Devido ao aumento do seu endividamento com a nova empresa, a Cielo propôs redução do pagamento de dividendos dos lucros auferidos em cada exercício de no mínimo 50% para no mínimo 30%. “Vamos propor a redução, mas 30% serão o mínimo que devemos distribuir de dividendos. Esse porcentual não será mantido para sempre”, explicou Dias.
A proposta de redução do dividendo mínimo será feita após a conclusão da criação da joint venture. Segundo Dias, a redução do dividendo mínimo, conforme ele, trará flexibilidade para a Cielo compatibilizar futuramente o fluxo de caixa gerado frente ao novo endividamento. “A decisão do payout será tomada no devido tempo. O dividendo poderá ser maior à medida que o endividamento for decrescendo”, acrescentou ele, em teleconferência com analistas.
Impacto financeiro
O impacto financeiro estimado em R$ 3,2 bilhões no lucro líquido do Banco do Brasil da joint venture com a Cielo em cartões ocorrerá de forma imediata após a aprovação dos órgãos reguladores, de acordo com Ivan Monteiro, vice-presidente de Gestão Financeira e de Relações com Investidores do banco. Nos próximos dias, a instituição pública e a adquirente, segundo ele, devem encaminhar o pedido de autorização ao Banco Central e ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
“Começa agora todo um trabalho de aprovação dos reguladores que envolve uma série de documentos e que só pode ser feito após a conclusão das negociações”, explicou Monteiro, em teleconferência com a imprensa, realizada nesta quinta-feira, 20. O executivo explicou ainda que, além do impacto no lucro, a operação também deve refletir no índice de Basileia do BB. Não detalhou, porém, o quanto o indicador pode ser melhorado concluída a criação da joint venture e obtidas as autorizações regulatórias necessárias.
O índice de Basileia do BB, que mede quanto o banco pode emprestar sem comprometer o seu capital, passou de 15,31% em junho para 16,04% em setembro. O indicador está acima do mínimo exigido pelo BC, de 11%. Monteiro afirmou ainda que a joint venture estabelecida com a Cielo para atuar na gestão de cartões atraiu o interesse de muitos curiosos em entender melhor a estrutura da nova empresa, inclusive, novos possíveis parceiros para a companhia que está sendo montada. Um dos objetivos da aliança do BB e Cielo é atrair novos emissores e bandeiras para atuarem junto à joint venture, aumentando, assim, o volume de negócios e, consequentemente, as receitas.
Até 22% do setor cartões do BB vai para a joint venture
O Banco do Brasil vai transferir de 20% a 22% do seu negócio de cartões para a joint venture que está criando juntamente com a Cielo, de acordo com Raul Moreira, diretor de Cartões da instituição pública. Desse porcentual, o banco ainda possui metade, conforme Ivan Monteiro, vice-presidente de Gestão Financeira do BB. Isso porque, quando considerada a fatia que a instituição pública tem na Cielo, uma vez que a controla ao lado do Bradesco, a participação do BB, de 30% na nova empresa ante 70% da Cielo, aumenta para 50,05%. “Temos a convicção de que a joint venture com a Cielo crescerá bastante. O negócio de cartões é de escala. À medida que é separado, poderemos explorá-lo, atraindo outros clientes que vão ajudar para recuperar a composição do resultado”, avaliou Monteiro.
Ele não citou projeções de crescimento para a joint venture, mas explicou que o segmento não estava conseguindo crescer na mesma proporção dos demais. Além disso, ao ter mais escala em cartões o banco também consegue, segundo o executivo, ser mais eficiente. O BB não detalhou em quantidade ou porcentual da sua base de cartões que soma mais de 80 milhões de plásticos que terá a taxa de intercâmbio – tarifa que o banco emissor recebe toda vez que um cartão é utilizado como meio de pagamento – integralmente transferida à joint venture, mas por segmento. Serão todos os plásticos exceto o ganho com cartões governamentais, pré-pagos e private label (próprio de varejistas).
Moreira, diretor de cartões do BB, acrescentou ainda que será transferida para a joint venture toda a parte transacional do negócio, permanecendo no banco os dados dos clientes, dos quais a nova empresa não terá acesso. “Tudo fica dentro do banco. A empresa fará a transação de compras de cartões de crédito e débito; não terá acesso ao cliente. A joint venture vai gerir a transação que é baseada em códigos”, explicou ele.
A nova sociedade a ser constituída por BB e Cielo terá o direito de explorar as atividades de gestão das transações de contas de pagamento pós-pagas e de gestão da funcionalidade de compras via débito de arranjos de pagamentos. A adquirente aportará R$ 8,1 bilhões na joint venture, cujos recursos virão de uma emissão de debêntures com garantia firme. A nova companhia está avaliada em R$ 11,6 bilhões.
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