O e-commerce chinês é três vezes maior que o comércio eletrônico americano e é acessível para empresas brasileiras. Como fazer parte desse mercado?
Os números do e-commerce no mercado chinês são espantosos. Maior mercado mundial de comércio eletrônico, o país movimentou no ano passado US$ 1,93 trilhão em vendas, com 900 milhões de clientes (o equivalente a cerca de 4,5 vezes toda a população brasileira). Com 260 cidades com mais de um milhão de habitantes, uma recuperação rápida do Covid-19 e uma população disposta a consumir marcas internacionais, essa é uma oportunidade grande demais para deixar passar.
O Seminário Digital “China pós Covid-19: o papel da Inovação e Ecossistemas”, realizado pela BTR-Varese nesta sexta (21/08) e sábado (22/08), falou sobre o papel do e-commerce na internacionalização das marcas e na importância de utilizar marketplaces para acelerar esse processo. “Por meio dos marketplaces, a China se torna acessível rapidamente e a uma fração do custo e esforço que seria necessário com uma operação própria. Essa é uma oportunidade que deve ser analisada muito de perto”, diz Alberto Serrentino, sócio da BTR-Varese.
“Atualmente, 40% das vendas online no mercado chinês são de produtos internacionais. O consumidor busca ativamente novidades e já tem a cultura digital, o que elimina as tradicionais barreiras ao consumo”, afirma Victoria Stive, especialista em cross border para a China e ex-head do Tmall Global para a América Latina. Somente o Tmall, o portal do Alibaba para compras de produtos internacionais por chineses, tem 280 milhões de clientes ativos, um número maior que a população economicamente ativa dos Estados Unidos.
Para ela, existe bastante espaço para produtos brasileiros no mercado chinês. “Há poucas marcas brasileiras, focadas especialmente em calçados, como Havaianas, Ipanema, Melissa e Bibi. E os produtos do país são vistos de forma muito positiva pelos consumidores”, diz.
A consultora faz três recomendações importantes para quem deseja testar o mercado chinês e fazer negócios do outro lado do mundo:
-
Foque no cliente e diversifique os canais de comunicação
Os consumidores são cada vez mais digitais e, com isso, trafegam em inúmeros canais de comunicação. Para alcançá-los, é preciso conhecer os hábitos dos clientes e, focando em um público específico, alcançá-lo onde for possível. “É importante construir presença digital em várias plataformas, como o Redbook (que mistura rede social e compras), o TikTok (vídeos curtos) e o Tmall, para que o cliente seja impactado com mais frequência”, afirma.
-
Invista no live streaming
Mais do que em qualquer lugar do mundo, o live streaming é a ferramenta de engajamento do momento no mercado chinês. As medidas de distanciamento social provocaram uma aceleração de um fenômeno iniciado pelo Alibaba há dois anos: eventos online, como festas, desfiles de moda e apresentação de produtos, misturando entretenimento e consumo. “Na China, as cinco principais plataformas de live streaming somam 2,6 bilhões de usuários. Só o WeChat conta com mais de um bilhão de chineses utilizando o recurso. Hoje, o live streaming é fundamental na estratégia de engajamento das marcas”, explica.
-
Aumente seu poder de distribuição online
Tmall e WeChat são as duas principais plataformas disponíveis para marcas estrangeiras realizarem vendas cross border no mercado chinês. O uso de uma, outra ou das duas depende da capacidade de investimento e da estratégia de negócios. “O Tmall está integrado ao Alipay, meio de pagamento do Alibaba, e faz muito sentido para marcas com um grande brand equity e para uma venda mais direta, só que exige um investimento que pode ser significativo. Já o WeChat, por ser uma plataforma mais fechada, é difícil de promover fora de seu ambiente”, compara Victoria.
Segundo ela, um caminho para acelerar a venda de produtos para a China é contar com o apoio de Global Partners, que funcionam como intermediários entre a empresa e o mercado chinês e se responsabilizam pela operação diária do negócio, o atendimento ao cliente e as operações fiscais e logísticas. “Mesmo com um parceiro comercial, é importante ter alguém dentro do negócio focado somente na China e ter um pensamento de longo prazo, pois é um mercado muito grande, cheio de particularidades e que demanda investimentos em marketing em diversas plataformas para que sua marca se torne relevante”, analisa a consultora.
Leia também:
Como ficará o ecossistema de meios de pagamento no Brasil?
A revolução dos pagamentos no varejo chinês
A tecnologia que viabiliza um novo varejo
Por dentro da cultura do Alibaba
Lições da China: eficiência, agilidade e criatividade
Uma startup de 1,4 bilhão de pessoas