Com aporte da Riverwood Capital, companhia pretende mais do que triplicar de tamanho nos próximos três anos
Por Graziella Valenti
‘Mundo cão’ já foi expressão sinônimo de um mundo duro, difícil e de escassez. Mas a vida dos pets — e desse mercado — está cada dia mais distante desse clichê. A Petlove, o maior e-commerce de produtos para cães e gatos, acaba de concluir uma rodada R$ 750 milhões, liderada pela gestora americana Riverwood Capital. A casa, com grande foco em tecnologia, é a mais nova acionista da plataforma.
É o segundo grande passo da empresa em menos de cinco meses. Em abril, a Porto Seguro também estreou na estrelada base de sócios, ao aportar sua área de planos de saúde para pets no negócio. Agora, a seguradora de Jayme Garfinkel acompanhou a rodada, ao lado dos demais sócios, Tarpon e Softbank (os maiores), além de L Catterton e Monashees. “Essa operação é muito emblemática, pois contou com a participação de todos os acionistas”, destaca Pedro Faria, sócio da Tarpon e presidente do conselho de administração da empresa, em entrevista exclusiva ao EXAME IN. A gestora entrou na empresa em 2018 e tornou-se uma espécie de acionista de referência do negócio. Agora, a Riverwood também terá assento no conselho de administração.
Com a nova capitalização, a Petlove foi avaliada em R$ 3,5 bilhões. “Mas isso não é o mais importante para nós. Nenhum sócio estava vendendo sua fatia. Ao contrário, todos comprando mais”, completa ele. Todos eles estão de olho no potencial de crescimento e consolidação do mundo pet, um mercado que deve movimentar cerca de R$ 40 bilhões neste ano — e que vem aumentando em uma velocidade de dois dígitos recorrentemente.
Salto
A transação vai preparar a Petlove para um grande salto em sua operação. “Temos agora aproximadamente R$ 1 bilhão em caixa”, conta Talita Lacerda, presidente da empresa. O ritmo de expansão programado é de fazer inveja. A companhia deve encerrar este ano com receita de R$ 900 milhões, ante aproximadamente R$ 500 milhões do ano passado.
O volume de 2021 inclui todas as marcas e aquisições realizadas como DogHero, Vetus, VetSmart e Porto.Pet, o plano de saúde para pets da Porto Seguro — que atualmente tem cerca de 50 mil vidas.
É a maior operação realizada pela empresa e o volume é superior até mesmo ao de diversas ofertas públicas iniciais (IPOs) realizadas ao longo de 2020 e 2021 na B3. Joaquim Lima, sócio-diretor da Riverwood, conta que esse é o primeiro investimento da gestora no mercado pet. “Vemos grandes empresas como Mercado Livre e Magazine Luiza crescendo muito ao criar ecossistemas em torno de seu e-commerce e acreditamos que algumas verticais e categorias são tão especializados que terão atuação dedicada”, diz ele ao EXAME IN. A tese da gestora, segundo o executivo, é que a penetração dessa categoria na população ainda é baixa e que vai aumentar significativamente.
Os recursos vão acelerar novas aquisições, mas têm também um destino certo de reforço da malha logística e de parceiros e ainda de tecnologia. “Hoje, 70% da nossa receita vem do serviço de assinatura de ração. Mas estamos investindo nessa frente justamente de entrega rápida para poder oferecer todos os demais produtos e serviços que os cães e gatos precisam e que não necessariamente são de recorrência ou programáveis”, explica Talita.
O objetivo da Petlove é se tornar referência para clientes. “Costumamos falar aqui internamente que a gente quer significar ‘tudo que o seu pet precisa, quando ele precisa e com uma experiência incrível.’”, reforça a executiva. A meta é alcançar uma receita de R$ 3 bilhões em 2024 — o que significa ser maior do que o grupo Petz é hoje.
Ecossistema
A Petlove hoje oferece entrega rápida em cinco cidades e deve acrescentar mais 8 em breve a esse total. Pelo planejamento, serão 50 cidades com o serviço até o segundo trimestre de 2022. “Nós queremos democratizar o acesso a produtos e serviços. Esse é plano”, destaca Talita. “Com potencial de alcançar todo o Brasil”, completa Lima,
“Mas nós não vamos ser o bicho-papão que acaba com os comércios de bairro e os pequenos empreendedores. Ao contrário. Queremos oferecer as ferramentas digitais para potencializar esses parceiros e mais veterinários, passeadores e diversos prestadores de serviço”, explica Pedro Faria. Com a captação, o time de tecnologia, que hoje tem 90 pessoas, vai dobrar de tamanho e ir para 180 profissionais. O sistema de entrega rápida da companhia vai trabalhar em conjunto com as lojas e unidades de bairro, como um market-place, mas no qual o usuário final só enxerga a Petlove.
IPO
Lima explicou que a entrada na empresa também tem como objetivo fazer o negócio crescer substancialmente antes de ser levado para a bolsa, que pode ser a B3 ou até mesmo a Nasdaq. Entretanto, não há nenhum projeto em andamento nessa direção, nem mesmo a contratação de bancos. “É coisa para dois ou três anos. Todo foco agora está na expansão.”
Ainda que já atraísse atenção, o segmento entrou de vez na mira dos investidores após a listagem da Petz. A companhia estreou na bolsa brasileira em setembro de 2020 avaliada em R$ 5,1 bilhões e agora, antes mesmo de completar um ano como empresa pública, já mais que dobrou de valor. Na sexta-feira, valia R$ 11 bilhões no pregão paulista.
Tudo indica que não vai demorar para que o Brasil tenha uma população de animais de estimação superior a de gente. Hoje, já é o segundo maior mercado animal do mundo. De acordo com dados dados do próprio IBGE, atualizados pelo Instituto Pet Brasil, o país tinha quase 140 milhões de animais de estimação em 2018 (incluindo peixes, aves e répteis), para uma população de 213 milhões de pessoas. De todos os pets, 90 milhões eram cães e gatos e mais de 25% estão em São Paulo.
Fonte: Exame