O Instituto C&A vai focar suas atividades na promoção da sustentabilidade – ambiental e social – na indústria têxtil no Brasil. Financiado pela C&A Foundation, entidade criada pela marca em 2014 e alinhado à estratégia global da marca, o instituto irá investir R$ 33 milhões em parcerias com organizações sociais no país. “Eu acho que os problemas [na indústria têxtil] foram ficando mais evidentes. O novo direcionamento faz parte também do próprio amadurecimento do setor em olhar para o desenvolvimento social”, afirmou Giuliana Ortega, diretora-executiva do Instituto C&A. Para Paulo Correa, CEO da C&A, esta segunda fase do trabalho do Instituto mostra uma evolução da visão da empresa como importante player do setor têxtil no mundo. “A C&A entende que nesse novo momento, tem um papel mais importante na cadeia da indústria da moda como um todo”, afirmou. “Nossa plataforma global tem três grandes pilares, a gente quer de fato promover o oferecer os produtos mais sustentáveis, quer ter uma cadeia de fornecimento mais sustentável e justa e que as vidas das pessoas envolvidas nesse processo também possam ter melhores condições”, disse.
“O Brasil é o quarto maior produtor têxtil do mundo, o quinto maior consumidor de algodão, tem 33 mil empresas formais que atuam no setor, sendo que cerca de 80% dessas empresas são pequenas e médias, o que nos indica uma pulverização importante. Além disso, temos o desafio de trazer o setor para a formalidade”, disse Giuliana.
O trabalho, feito sempre em parceria com outras organizações sociais, se dividirá em três frentes: incentivo ao algodão sustentável, melhores condições de trabalho e combate ao trabalho forçado e trabalho infantil. No primeiro recorte, o instituto tem como meta promover a produção de algodão sustentável – com certificação Better Cotton Initiative (BCI) e orgânico, além de incentivar o uso da fibra sustentável pela indústria têxtil – não apenas pela C&A. “Nesse sentido, vemos a necessidade de aproximar o comprador do produtor, organizar a cadeia”, afirmou Giuliana.
De acordo com Correa, ainda, C&A assumiu o compromisso de usar 100% de algodão sustentável até 2020. Atualmente, a fibra sustentável representa 15% do total utilizado pela empresa. Globalmente, a meta é promover o plantio de algodão orgânico para 3% da produção mundial até 2020, de 1% atualmente. No Brasil, apenas 0,002% da produção da fibra é orgânica, segundo a Embrapa.
No segmento de melhores condições de trabalho, o instituto visa apoiar os trabalhadores da cadeia, ao promover melhores práticas em fábricas e oficinas. Para Correa, “já temos o monitoramento da cadeia de fornecedores, com auditorias. Agora, teremos projetos de educação, desenvolvimento, e parceria com os fornecedores para que eles possam gerir melhor o negócio deles, de forma mais sustentável, tanto em materiais e processos utilizados, mas também nas condições das vidas dos trabalhadores envolvidos na cadeia”. Em paralelo, o instituto irá apoiar também entidades que trabalham para erradicar o trabalho forçado e infantil. “No mundo, são 45 milhões de pessoas mantidas em condições de trabalho análogas à escravidão. No Brasil, são 150 mil pessoas”, disse Giuliana. O foco inicial, no Brasil, será em populações de imigrantes, que chegam ao país em condições vulneráveis, disse a diretora-executiva.
“Considerando que 75% dos trabalhadores da indústria têxtil são mulheres, a questão de gênero também entram como um tema transversal que permeia os três eixos principais”, completou Giuliana.