Em 2012, surgia o Enjoei, site de classificados que se notabilizou pela interface criativa e linguagem moderninha, com descrições divertidas para os produtos. O site, que é essencialmente digital e teve um período de incubação como um blog desde 2009, quando as mídias sociais estavam ainda florescendo, hoje conquista espaços como a televisão e está preparando sua expansão para a América Latina. Em dezembro, o site inaugura sua operação na Argentina, com o site “yafue.com”.
De acordo com Ana Luiza McLaren, fundadora da plataforma, um dos desafios será manter um tom de voz adequado a uma outra cultura. “Ainda assim tem que ser algo único, onde as pessoas reconheçam que existe uma identidade. Conseguimos fazer isso muito bem no país, e o desafio é fazer isso também fora, considerando a cultura de cada local para o qual a gente vá”, disse.
A verticalização dos canais também está entre os planos do Enjoei, e a proposta é criar dois verticais e trabalhar de forma incisiva.
Ana e Tiê Lima já haviam atuado em empresas como Abril e Google antes de fundar o Enjoei, e tentaram imprimir ao site uma característica descontraída, diferente dos sites de classificados tradicionais. Para isso, o conteúdo é um dos pilares principais: o site aposta também em produções de vídeo e conteúdo multiplataforma com influenciadoras. “As pessoas querem mais do que simplesmente um produto commoditie. As pessoas iam no Enjoei para ler os textos. Era muito mais sobre ler as bobagens do que sobre os produtos”, diz Ana.
Na sua avaliação, o sucesso da plataforma se deu pela grande capilaridade entre o público desde o começo. “Quando houve a transição para o site, todas as pessoas que já consumiam o Enjoei como blog já queriam colocar as coisas lá. Logo no primeiro mês, já começamos a receber cerca de 700 produtos por dia para venda no site”.
A descrição divertida dos produtos, que era feita pela própria equipe, caiu nas graças dos usuários, que passaram a alimentar a “personalidade” da plataforma.
Hoje, são inseridos em média 17 mil produtos por dia, e a equipe do Enjoei conta com 83 profissionais. “Nosso marketing é muito voltado para resultados, bases de email marketing e CRM. O time de comunicação está mais ligado em conteúdo, se tem snapchat no ar, se a arte está bonita. São pessoas com talentos absolutamente distintos”, avalia Ana.
Na opinião de Ana, a crise contribuiu para o crescimento de 130% em 2015, ano em que a empresa faturou cerca de R$80 milhões. A meta para este ano é dobrar o faturamento. “Em tempos difíceis as pessoas pegam o que elas já tem e usam isso para fazer renda. É um período onde elas estão mais abertas a estes modelos de negócio, é só ver o Uber ou o Airbnb”.
Atuação multiplataforma
Durante quase quatro anos a presença do site foi essencialmente digital, até o lançamento da série Desengaveta, do GNT, que tem patrocínio do Enjoei. O programa, apresentado por Fernanda Paes Leme, acompanha celebridades ao desapegarem de peças de seu guarda-roupa. Ao final do programa, as peças são disponibilizadas na plataforma.
Para Ana, o mais interessante sobre o Desengaveta é é a característica crossmedia e a possibilidade de o público consumir as roupas do programa fisicamente. “As pessoas não consomem o Enjoei só no site, mas em todas as plataformas. O Desengaveta não é nada mais do que a gente já faz no Youtube há muito tempo, invadindo o guarda roupa de muitas pessoas”, afirma.
Dani Mignani, diretora do GNT, ressaltou que o programa foi escrito a quatro mãos, e que a sociedade está muito aberta para iniciativas deste tipo. “Estávamos pensando em um programa de moda que falasse do consumo consciente, de economia compartilhada, e queríamos uma plataforma de acesso para promover a troca de um guarda roupa para os outros”.
De carona com o patrocínio do programa, a marca lançou sua primeira campanha para TV, realizada pela AG2 Nurun pontualmente, já que o Enjoei não tem uma agência específica e a comunicação é feita na casa. O filme, feito na vertical para imitar a imagem de um celular, traz duas influenciadores mostrando seus “desapegos”.
“A ideia era experimentar o vídeo e fazer algo que fosse exibido na TV, mas que fosse percebido como um produto digital. A premissa era passar a mensagem da forma mais natural possível”, avaliou Paulo Aguiar, diretor executivo de criação da campanha, ressaltando as barreiras cada vez mais tênues entre o online e o offline.