Por Sergio Ripardo | A Multiplan apresentou uma situação inusitada no segundo trimestre: inadimplência líquida negativa de 1%, como reflexo do pagamento de aluguéis atrasados por parte de lojistas. Trata-se de um sinal benigno do desempenho desse segmento do varejo, segundo o CFO da companhia, Armando d’Almeida Neto.
Em entrevista à Bloomberg Línea, o executivo apontou uma reação positiva em cadeia: o crescimento das vendas levou à inadimplência líquida negativa, e isso levou a margens recordes. Como resultado, a Multiplan teve crescimento de lucro líquido de dois dígitos (14%) no comparativo anual, para R$ 281,7 milhões.
“Vivemos um bom momento dentro dos shoppings, com os lojistas pagando débitos anteriores. Isso mostra que as vendas cresceram, e que eles aproveitaram a oportunidade dos bons resultados. É um bom indicador precedente”, afirmou Neto.
Os projetos multiuso da companhia (MULT3), junto à estratégia de destravar valor do banco de terrenos e as reduções de custos no trimestre, foram apontados como fatores que impulsionaram o resultado. A administradora de shoppings vendeu, por exemplo, quatro terrenos em Ribeirão Preto, no interior paulista.
Ao explicar a estratégia de crescimento, o CFO ressaltou que atualmente a companhia está em processo de revitalização de 14 shoppings centers, o que reduz em um primeiro momento a área para ações de merchandising, mas que terá efeitos positivos mais tarde.
“A melhor estratégia é crescer via expansões”, afirmou.
No segundo trimestre, os investimentos totalizaram R$ 270,1 milhões, o que inclui quatro projetos de expansão, a aquisição de participação minoritária no ParkJacarepaguá e a construção da primeira fase do empreendimento residencial Golden Lake.
A companhia, que é comandada desde fevereiro pelo CEO Eduardo Peres, em sucessão ao pai, José Isaac Peres, informou que trabalha nos futuros lançamentos das expansões do ParkShopping, do Jundiaí Shopping e do ParkShopping SãoCaetano e na segunda fase do Golden Lake.
O capex (investimento), combinado com recompra de ação, pagamento de JCP (juro sobre capital próprio) e amortização de dívidas, levou a um aumento da alavancagem.
A relação dívida líquida/Ebitda ficou em 1,4x, acima do 1,32x ao fim de março. A posição de caixa foi de R$ 1 bilhão, com dívida líquida de R$ 2,193 bilhões (+7,4% em 3 meses).
“Estamos ainda com uma situação confortável. Nosso menor covenant é de 4,00x. Temos apetite para continuar crescendo. Nosso foco é o médio e o longo prazo. Colocamos o dinheiro para trabalhar com recompra de ações, retorno ao investidor, fazendo expansões, compra de participações minoritárias”, explicou.
No segundo trimestre, as vendas dos lojistas totalizaram R$ 5,6 bilhões, alta anual de 6,3%, o maior valor já registrado para um segundo trimestre.
Além do fato de que todos os shoppings aumentaram as vendas, cinco deles tiveram avanço de dois dígitos na comparação anual: New York City Center (+32,3%), ShoppingSantaÚrsula (+22,3%), BarraShoppingSul (+17,7%), DiamondMall (+ 15,7%) e Parque Shopping Maceió (+14,2%).
“O New York City Center passou por uma grande revitalização em 2023 e agora colhe os frutos, enquanto o DiamondMall passou por uma recente revitalização e trabalha em uma expansão com inauguração prevista para o segundo semestre”, confirmou o CFO.
A receita de aluguel apresentou, no entanto, uma queda na base anual de 1,2%, para R$ 394,366 milhões. O indicador foi afetado pelos descontos concedidos aos seus dois shoppings centers (ParkShopping Canoa e BarraShoppingSul) no Rio Grande do Sul devido às enchentes históricas de maio.
“O shopping de Canoas, na Grande Porto Alegre, teve que fechar. Os descontos nos aluguéis foram pontuais, e as duas unidades conseguiram fechar o trimestre com recuperação”, disse o CFO.
A receita de aluguel também foi limitada pelo efeito de inflação zero no trimestre, segundo o executivo. Em abril, o IGP-M (Índice Geral de Preços – Mercado) voltou a subir, após dois meses de deflação. Já o IGP-DI (Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna) interrompeu três meses consecutivos de deflação.
As ações da Multiplan acumulam desvalorização de 8,5% em 12 meses, um desempenho abaixo do Ibovespa (+2,7%) no período.
Analistas atribuem a redução do valor ao quadro de juros ainda elevados que limita a recuperação da renda das famílias e das vendas do varejo. A alta de 12% do dólar comercial no segundo trimestre também é um ponto de atenção dos investidores devido aos efeitos no aumento do custo de vida.
No fim de junho, a Multiplan possuía e administrava 20 shopping centers, em seis estados e no Distrito Federal.
Na capital paulista, é dona do MorumbiShopping, do Vila Olímpia e do Anália Franco. No Rio de Janeiro, o portfólio inclui ativos como o BarraShopping, o New York City Center, o Village Mall e o Park Jacarepaguá.
Seus centros comerciais abrangem cerca de 6.000 lojas, com 873.778 m² de ABL (área bruta locável), com participação média de 81,5%.
Fonte: Bloomberg Linea