Por Ana Luiza Tieghi | O grupo Casas Bahia comunicou ao mercado neste domingo (28) que fechou um acordo de recuperação extrajudicial (RE) com seus principais credores, Banco do Brasil e Bradesco, para reperfilar toda a dívida da companhia.
O prazo de pagamento dos R$ 4,1 bilhões da dívida bruta, em valores atualizados, foi estendido de 22 meses para 72 meses, com queda de 1,5 ponto percentual no custo médio, que passa para CDI + 1,2% ao ano. Há também carência de 24 meses para pagamento de juros e de 30 meses para o principal.
Com a medida, a empresa vai deixar de desembolsar, até 2027, R$ 4,3 bilhões do seu caixa, que estavam previstos para o pagamento das dívidas no período.
As duas instituições financeiras detêm 54,5% da dívida da Casas Bahia e já concordaram com o reperfilamento. Com isso, os demais credores, pulverizados, são “arrastados” para o mesmo acordo, explica o CEO Renato Franklin. “Quando você tem a aprovação de mais de 50% [dos detentores da dívida], vai automático, essa é a vantagem do instrumento extrajudicial”.
Segundo ele, os advogados da varejista estão “confortáveis” sobre a aprovação da RE. O pedido foi protocolado neste domingo e deve ficar em análise da justiça por até uma semana. Depois disso, há um prazo de 30 dias para a apresentação de objeções ao plano, antes da homologação.
Vencidas essas etapas, o grupo pode implementar a RE e substituir a dívida financeira atual pelos novos instrumentos.
A dívida será convertida em uma debênture de R$ 4,1 bilhões, com duas séries. A primeira, com 37% do valor, tem taxa de CDI + 1,5% ao ano. A segunda série tem duas versões: uma inclui credores “parceiros”, classificados assim por manterem as condições atuais de linhas de crédito que não estejam na RE ou por disponibilizarem novos recursos para o grupo. Eles terão a opção de converter o valor devido em ações da Casas Bahia, em um prazo de 18 a 36 meses.
Acionistas do grupo terão direito de preferência, para evitar sua diluição. Franklin afirma que Banco do Brasil e Bradesco já se encaixam na categoria. Credores não-parceiros não têm essa opção. Para ambos, a taxa é de CDI + 1% ao ano
A negociação da RE envolve apenas dívidas financeiras sem garantias, ressalta o grupo. Questões trabalhistas e com fornecedores não entram no acordo. Também não há deságio sobre o valor do principal dos credores.
A Casas Bahia já havia feito em fevereiro a reestruturação de parte da sua dívida, de R$ 1,5 bilhão, mas Franklin afirma que o ganho de prazo de pagamento obtido naquele momento, de 3 anos, não resolvia o problema da empresa. “Continua muito comprimido, então começamos a construção de algo definitivo”.
Segundo ele, o plano de reestruturação do negócio, anunciado em agosto do ano passado, demanda caixa, por envolver demissões e fechamento de lojas. O endividamento da empresa também era uma pressão constante sobre a administração da companhia e poluía a visão do mercado sobre o grupo. “Atrapalha o valuation e alguns negócios da companhia”, diz. Com a RE, a empresa espera uma melhora na perspectiva de crédito e na relação com fornecedores.
Reestruturação operacional
O acordo com os credores resolve a parte financeira do plano de reestruturação da Casas Bahia, afirma Franklin. Resta, então, o lado operacional.
Até agora, a companhia já demitiu 8,6 mil funcionários, incluindo 42% dos cargos de alta liderança. Havia uma projeção inicial de fechar 100 lojas, mas o CEO conta que apenas 55 foram encerradas. “As outras nós conseguimos recuperar, reduzindo custo de aluguel”. Não estão previstas novas demissões em nível “reestruturante”.
Ainda no lado operacional, a companhia deve seguir revendo o sortimento das lojas e a precificação, que será mais dinâmica, segundo Franklin. “Temos alavanca grande para andar”. Há ainda esforço para aumentar a penetração de serviços, como venda de seguros e garantia estendida, para elevar a nova plataforma de publicidade digital, e em ampliar um modelo de loja “store-in-store”, com presença de pontos de venda de fornecedores.
A empresa terminou o quarto trimestre com prejuízo líquido de R$ 1 bilhão. Em 2023, o prejuízo somou R$ 2,6 bilhões, quase oito vezes o valor do ano anterior. A receita líquida caiu 6,6% no mesmo período, para R$ 28,8 bilhões.
Franklin afirma que os resultados da RE devem ser sentidos já no balanço do segundo trimestre. “Estamos muitos felizes, bastante satisfeitos”.
Fonte: Valor Econômico