Por Ivan Ryngelblum | Quando assumiu o Grupo Pão de Açúcar (GPA) em abril do ano passado para tocar um processo de turnaround, um dos focos de Marcelo Pimentel era recuperar as marcas premium da companhia, o Pão de Açúcar e o Minuto Pão, conforme disse ao NeoFeed na ocasião.
Agora, o GPA agora está voltando os olhos para as chamadas marcas mainstream, que agregam as bandeiras Mercado Extra e Compre Bem e que responderam por 31% das vendas totais da rede no segundo trimestre.
“No segundo semestre, as bandeiras mainstream entram no mesmo processo que fizemos na premium”, disse Pimentel, ao NeoNeed. “O que nós fizemos no Pão de Açúcar está dando muito certo e agora vamos fazer com a bandeira do Mercado Extra.”
Entre as medidas estão a revisão do sortimento de produtos e a clusterização de lojas, processo de organizar e traçar estratégia de sortimento e preços para as lojas de acordo com sua localização.
Um segundo ponto na parte de mainstream para o segundo semestre é a transição das 30 lojas da marca Compre Bem para Mercado Extra. O GPA iniciou o processo com oito lojas e a expectativa é de concluir as conversões até o fim do terceiro trimestre.
Ao se tornarem lojas Mercado Extra, elas ganham aderência por estarem sob uma marca mais conhecida e ganham em sortimento, com a entrada de produtos da marca Qualitá, que chega a representar 30% da venda de lojas do Mercado Extra.
Ainda que destaque a importância das marcas Pão de Açúcar e Minuto Pão e que o foco do turnaroud está nelas, Pimentel diz que as marcas mainstream são importantes para a companhia entrar em regiões em que as bandeiras premiums não têm aderência.
“O que a gente mudou foi o modelo de negócios, por não acreditar que o modelo de hipermercado, hoje, traz rentabilidade”, diz. “Não queremos abrir mão deste mercado, mas não no modelo anterior de hipermercados que carregava um sortimento de produtos muito grande, principalmente em categorias não alimentar.”
Para a bandeira Pão de Açúcar, com a finalização do processo de ajuste no sortimento e a clusterização atingindo mais de 60% das lojas, uma das frentes que a companhia pretende trabalhar é na expansão da base de clientes e em elevar a participação da venda digital para o público de alta renda. Para isso, conta com o programa de fidelidade Pão de Açúcar Mais, relançado pela companhia em maio deste ano.
Além disso, o GPA pretende continuar avançando na inauguração das lojas Minuto Pão, ainda que haja cautela por conta do aumento dos custos de capital. O plano de inaugurar 250 unidades até 2024 segue de pé.
A expectativa é de que os ajustes operacionais, junto com a retomada do volume de vendas, ajudem a melhorar a rentabilidade do GPA, um ponto que foi destacado pelos analistas em relatórios e na teleconferência dos resultados, após a queda de 1,8 ponto percentual da margem bruta, para 24,8%.
Pimentel afirma que embora tenha recuado na comparação anual, a margem vem crescendo gradualmente, subindo 0,4 ponto percentual em relação ao primeiro trimestre e espera a continuidade dessa alta trimestral.
“O Pão de Açúcar precisa voltar a operar com margens brutas mais próximas de 27% do que vem operando hoje. A notícia importante é que fechamos com uma margem perto de 25%, e a nossa expectativa para os próximos trimestre é que ela continue melhorando trimestre a trimestre”, diz.
Éxito
Ao mesmo tempo em que vai ajustando as operações, o GPA também olha para as despesas financeiras, um dos principais vilões dos resultados da companhia no segundo trimestre.
Entre as medidas a serem tomadas está a venda de ativos considerados não essenciais. Depois de vender 11 lojas numa operação de sale and leaseback neste ano, o que garantiu cerca de R$ 330 milhões, o GPA planeja vender a sede em São Paulo e também um terreno no Rio de Janeiro ainda neste ano.
Segundo Pimentel, a companhia tem outros ativos de menor valor que eventualmente podem ser vendidos, mas a sede e o terreno no Rio de Janeiro são os que podem trazer mais valor no curto prazo.
Outra operação neste sentido é o spin-off da rede colombiana Éxito, que deve seguir em frente, mesmo com o bilionário colombiano Jaime Gilinski apresentando propostas recentemente. O processo, previsto para ser concluído em agosto, fará com que o GPA fique com uma participação de 13,3% na empresa.
A companhia já informou que pretende monetizar essa fatia, parte em 2023 e a outra no primeiro semestre de 2024. Pimentel diz que a companhia está analisando as possibilidades de como realizar essa venda, afirmando que primeiro quer entender como o papel vai se comportar após a operação.
Já sobre a intenção do Casino de vender sua participação de 40,9% no GPA, Pimentel diz que se trata de um assunto do controlador e que não tem nada para falar.
O GPA fechou o segundo trimestre com um prejuízo líquido consolidado, que considera as operações descontinuadas, de R$ 425 milhões, aumento de 146,8%. A receita líquida avançou 13,5%, para R$ 4,7 bilhões, enquanto o Ebitda ajustado consolidado subiu 7,4%, a R$ 257 milhões.
A dívida líquida somou R$ 2,9 bilhões, queda de 1,5 bilhão em relação ao segundo trimestre de 2022. O fluxo de caixa operacional cresceu 48,3%, para R$ 245 milhões.
Por volta das 14 horas, as ações do GPA subiam 0,28%, a R$ 21,72. No ano, elas acumulam alta de 31,5%, levando o valor de mercado a R$ 5,8 bilhões.