Por Maria Luiza Filgueiras
A Riachuelo contratou André Faber como CEO, substituindo Oswaldo Nunes, um executivo de carreira do grupo, que estava na presidência desde que Flávio Rocha deixou a cadeira para se arriscar na política. Após uma transição que vai até 2 de maio, Nunes se aposenta e o novo CEO terá o desafio de retomar os resultados na varejista e a confiança dos investidores. Nesta quinta, as ações abriram em alta de 10%, repercutindo a mudança de comando.
Faber era presidente do grupo de ecommerce de moda Dafiti e foi VP do grupo Boticário. Traz experiência em estratégia multicanal e transformação digital, dois pontos em que a Riachuelo ainda tenta acelerar – apesar de melhorias recentes, como o breakeven da operação online no ano passado. Seus canais digitais respondem por 9% da venda total, abaixo dos 13% da Renner, e a companhia tem apostado no conceito de marketplace.
É aí que a varejista quer turbinar vendas, já que a recorrência do cliente de loja mais que duplica quando ele adiciona mais um canal de acesso à marca.
“A nomeação do André é um passo importante neste novo momento do grupo. O extenso conhecimento do mercado nacional, conexão com o consumidor brasileiro e expertise em estratégia omnichannel, inovação e expansão certamente agregarão muito ao negócio”, disse o chairman Flávio Rocha, em comunicado.
A ação da Riachuelo negocia no menor patamar desde 2009, com a companhia avaliada em R$ 2,06 bilhões. Só nos últimos 12 meses a desvalorização foi de 65%, queda mais profunda que C&A e Renner no período.
Na operação, a companhia ainda não voltou ao desempenho pré-pandemia e está longe das margens de cinco anos atrás. Em 2022, teve receita de R$ 8,5 bilhões, um patamar não tão distante da Renner, que costuma ser a referência dos analistas do setor, com R$ 11,6 bilhões. Mas, enquanto a Renner teve margem Ebitda de 23%, colocando líquidos no caixa R$ 1,3 bilhão em resultado, a Riachuelo teve margem de 11,2%, com lucro de R$ 52 milhões, queda de 89%.
Os resultados fracos num ambiente de juros altos, pesando em despesa financeira e no consumo, vinha se somando à incerteza sobre o futuro da companhia. Os três irmãos controladores já cogitaram uma venda parcial ou fusão da Riachuelo com outro grupo varejista e têm diferentes disposições para investir e se dedicar ao negócio. Mas, com ações tão depreciadas, estava difícil combinar negócios.
Nesse quesito, a escolha de Faber também pode trazer novo ânimo, seja para avançar num M&A ou para desistir de uma operação do tipo se os resultados melhorarem e as ações se recuperarem.
Dois gestores ouvidos pelo Pipeline veem o novo comando como notícia positiva, lembrando que Faber é o primeiro executivo a ocupar esse posto sem ter feito carreira no próprio grupo Guararapes, uma arejada bem-vinda, e com experiência em pontos fracos da Riachuelo. Mas preferem esperar os primeiros resultados antes de refazer qualquer aposta.
“É um bom nome e mostra que o board se mexeu, considerando que o mandato do Oswaldo ia até 2024 e eles preferiram mexer antes. Mas ainda é um cenário desafiador para o varejo e prefiro ver o quanto ele vai conseguir mexer numa companhia de controle familiar”, diz um dos gestores.
A Dafiti é uma das maiores operações de ecommerce de moda da América Latina, um negócio considerado bem-sucedido e que já atraiu interesse de grupos brasileiros, como Magazine Luiza. A companhia acabou de trazer de volta ao mercado brasileiro a marca espanhola Mango, concorrente da Zara.
Fonte: Pipeline Valor