Atualmente, as criptomoedas têm funcionado mais como investimento e não como meio de pagamentos
Por Roberta Prescott
A expectativa do Banco Central é que o Brasil deve lançar o Real Digital em 2024, conforme antecipou o presidente da Autoridade Monetária, Roberto Campos Neto, ao participar do Febraban Tech, em São Paulo, e seguir um caminho de usá-la para fomentar novos modelos de negócios. “CBDC é um tema novo, que ainda está se definindo, e cada país tem uma definição diferente.
Todos concordam que a moeda digital é expressão da moeda soberana”, apontou Fabio Araujo, coordenador da iniciativa do Real Digital do Banco Central do Brasil (BCB), durante o painel “A CBDC brasileira é o futuro?”. De acordo com ele, uma CBDC, do ponto de vista do BCB, é mais que forma nova de pagamento. Trata-se de uma expressão do Real junto com uma infraestrutura que interconecta serviços financeiros de hoje com novos serviços financeiros, do futuro, baseados em blockchain, web 3.0 e novas tecnologias.
“A CBDC tem o papel de ser a expressão digital do Real, controlada pelo BCB, o que reduz riscos e dá estabilidade. CBDC é moeda fiduciária, mas na sua expressão digital, que é diferente de uma criptomoeda”, explicou Thamilla Talarico, sócia-líder de blockchain e cripto da EY Brasil. Na criação do Real Digital, uma das preocupações é com relação ao passivo nos bancos. Existe todo um arcabouço para garantir que o dinheiro depositado hoje esteja no banco para quando se quiser sacar. Ao tokenizar os depósitos bancários, registrar os depósitos em wallets, no ambiente digital, o passivo será também do banco, apontou Araujo.
Atualmente, as criptomoedas têm funcionado mais como investimento e não como meio de pagamentos. “Hoje, tem o mesmo número de investidores em criptoativos que temos na B3. Caminhamos para entender que as criptomoedas vão ocupar espaço com muita força, mas ainda como investimentos”, ressaltou Thamilla Talarico. Para ela, o fenômeno da tokenização, dando valor aos ativos para negociar e até para racionalizar digitalmente, é uma tendência forte. “Vamos caminhar para uma economia cada vez mais tokenizada e com diferentes tipos de tokens habitando este universo”, explicou a executiva.
No Brasil, o foco da CBDC nacional será o varejo, para que pessoas façam transações e, principalmente, contratos inteligentes, assinalou Araujo, do Banco Central. Ele disse que se espera também que o Real Digital inclua mais gente no mercado de investimentos e de crédito, assim como o PIX fez com transações digitais. Ainda que o Real digital tenha foco no varejo, Thamilla Talarico, da EY Brasil, disse que o foco não será, a exemplo do que outros países fizeram, nas transações instantâneas — até porque o Brasil já conta com o PIX.
“O Banco Central está olhando para a programabilidade para pagamento. A entrega contra pagamento é uma delas, tanto para ativos digitais quanto para ativos tokenizados. Hoje, você pode tokenizar uma debênture, uma ação, um imóvel. Os tokens representam a sua parcela naquele imóvel”, explicou a especialista da EY.
“É a evolução natural e nossa CBDC não vai olhar para pagamento instantâneo, porque temos o PIX, mas vamos olhar para o Open Finance, para serviços mais especializados e tendo o Real Digital como dinheiro programável. Com infraestrutura de programabilidade e liquidação mais eficiente de pagamentos, será possível colocarmos o primeiro pé na Web 3. E é o caminho natural”, acrescentou.
Neste caminho, Fabio Araujo disse que há uma relação muito próxima entre PIX, Open Banking e Real Digital. Segundo ele, o PIX foi a porta de entrada para as pessoas que começam a ter acesso a serviços de pagamento. Já o Open Banking é passo adicional em direção à economia da informação, porque no Open Banking e no Open Finance os dados são usados para ajudar a produzir serviços financeiros personalizados.
“Um passo além é como vou gerir o contrato e aí entra a plataforma de liquidação inteligente, que é a CBDC. Com isso, você fecha o ciclo. Você traz as pessoas com PIX, você usa os dados para melhorar a adequação do serviços financeiros e com smart contract pode desenhar serviços adequados e oferecer dentro de ambiente DLT. Assim, fecha o arco de democratização financeira, levando à direção da economia”, finalizou o coordenador da iniciativa do Real Digital do Banco Central do Brasil.
Fonte: Convergência Digital