Os segmentos com patamar superior ao de fevereiro de 2020 são de artigos farmacêuticos, de material de construção, de outros artigos de uso pessoal e doméstico e de hiper e supermercados
Por Lucianne Carneiro
A despeito da trajetória positiva do varejo neste início de 2022, com três altas seguidas, o desempenho é heterogêneo e apenas quatro de dez atividades recuperaram o volume de vendas observado antes da pandemia.
A análise foi feita pelo gerente da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), Cristiano Santos, ao comentar nesta terça-feira (10) os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O varejo restrito estava, em março de 2022, 2,6% acima do patamar de vendas de fevereiro de 2020. Já o varejo ampliado, que inclui também material de construção e automóveis e peças e com isso soma dez atividades, está em nível 1,7% superior ao do pré-pandemia.
“O desempenho é heterogêneo. O fato de tanto supermercados quanto farmacêuticos estarem acima do pré-pandemia naturalmente faz com que o indicador geral fique mais alto, sobretudo supermercados, que responde por quase metade do varejo restrito. No varejo ampliado, material de construção também sobe”, aponta o técnico.
As quatro atividades que se encontram acima do patamar pré-pandemia são artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (15%), material de construção (12,7%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (8,8%) e hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (2,7%).
Por outro lado, encontram-se com nível de vendas abaixo de fevereiro de 2020 os seguintes segmentos: veículos, motos, partes e peças (-5,6%), equipamentos e material para escritório informática e comunicação (-6,1%), combustíveis e lubrificantes (-7%), tecidos, vestuário e calçados (-10,4%), móveis e eletrodomésticos (-13,9%) e livros, jornais, revistas e papelaria (-32,1%).
No período de recuperação do momento inicial da crise sanitária, com fechamento de atividades não essenciais, o comércio chegou a atingir um novo recorde histórico da pesquisa, iniciada em 2000, já que houve cinco meses seguidos de crescimento, entre maio e outubro de 2020. Só que, desde então, o varejo apresenta uma trajetória de muita volatilidade, como aponta Cristiano Santos.
Entre as atividades que estão abaixo do patamar pré-pandemia, diz ele, há algumas que chegaram a apresentar recuperações em algum momento, mas voltaram a estar abaixo do nível de fevereiro de 2020.
Comparação com a pandemia
O crescimento do varejo no primeiro trimestre de 2022 permitiu que o patamar retornasse ao de outros períodos observados durante a pandemia, marcada por volatilidade na série histórica da pesquisa, afirmou Santos.
O nível está semelhante, por exemplo, ao de janeiro de 2021. O nível está 2,6% superior ao de fevereiro de 2020, antes do início da crise sanitária, mas 3,5% abaixo de outubro de 2020, quando atingiu o maior nível da série histórica, iniciada em janeiro de 2000.
“Desde o início da pandemia, já passamos por esse patamar. As amplitudes e as variações dos números continuam sendo bastante grandes e provocando também uma volatilidade muito grande na série. Se olhar a série como um todo, antes da pandemia, ela raramente teve amplitudes tão grandes”, disse ele, referindo-se ao varejo restrito, mas explicando que isso também pode ser estendido ao varejo ampliado, que inclui as vendas de material de construção e veículos.
Na média, o comércio restrito teve duas quedas expressivas no início da pandemia – de 3,4% em março de 2020 e de 15,9% em abril –, considerando a série frente ao mês imediatamente anterior, e depois registrou cinco meses seguidos de crescimento, entre maio e outubro de 2020. A partir daí, teve retrações em novembro (-0,2%), dezembro (-4,9%) e janeiro (-0,3%), que foram seguidas por uma trajetória de altas e recuos.
Cristiano Santos classifica o período da pandemia como uma “gangorra”. Agora, nos últimos três meses, o comércio obteve três altas seguidas, o que não ocorria desde aquele período de 2020. O crescimento do volume de vendas foi de 1% em março de 2022, após altas de 2,3% em janeiro e 1,3% e fevereiro.
Fonte: Valor Econômico