“Os principais elementos que vêm inibindo o consumo estão presentes há alguns meses e devem seguir, mas não deve ter recrudescimento disso”, afirma Oswaldo Nunes
Por Raquel Brandão
No varejo de moda, o Natal não deve vir acompanhado de promoções, acredita a administração da Guararapes, dona da Riachuelo. “Vai ser muito mais baseado em produtos e mantendo nível controlados de estoques. Temos conseguido boa aceitação da coleção. Vamos seguir nisso: mais preocupação com o produto e mantendo crescimento de rentabilidade”, afirmou nesta quinta-feira (11) o diretor de Pontos de Contato com o Cliente, Elio Silva, em teleconferência de resultados.
A visão do diretor é reforçada pela perspectiva do presidente do grupo, Oswaldo Nunes, que diz não acreditar em cenário de crise para o fim de ano e tampouco para o início de 2022.
“Os principais elementos que vêm inibindo o consumo estão presentes há alguns meses e devem seguir, mas não deve ter recrudescimento disso”, afirmou o executivo.
1 de 1 Oswaldo Nunes, presidente do Grupo Guararapes — Foto: Claudio Belli/Valor
Oswaldo Nunes, presidente do Grupo Guararapes — Foto: Claudio Belli/Valor
Ele argumenta que a expectativa é de seguir crescendo em vendas nas mesmas lojas e chegar a patamares de margens próximos ao quarto trimestre de 2019.
Para melhorar a rentabilidade, a companhia também tem trabalhado em reduzir estoques de produtos, enquanto reforça o inventário de matéria-prima nas fábricas, para amortecer impactos de aumentos de preços no futuro.
Black Friday
Ainda sobre o fim de ano, a administração da companhia diz que o trabalho para a Black Friday, que acontece na última semana deste mês, está sendo feito de “forma controlada em cima de alguns produtos mais adequados”. O trabalho mais forte para esse evento comercial deve acontecer nas operações on-line, especialmente nos produtos eletrônicos.
Ações de Black Friday também devem acontecer com parceiros do marketplace do grupo, que entrou em operação recentemente. Já são mais de 170 sellers, como são chamados os vendedores nessas plataformas. Entre eles estão, as marcas Pandora, Philips, Hershey’s e Coty, por exemplo. Na plataforma, a empresa destaca que já há importante integração com outras frentes do grupo: 42% das vendas são pagas com o cartão Riachuelo.
“Sobre estoques, já viemos reduzindo o nível de estoque físico para amortecer o impacto de custos e no giro”, afirmou Nunes.
Midway
Segundo o diretor financeiro do grupo, Tulio Queiroz, o aumento da Selic, índice de referência para os juros básicos, e o cenário de novas altas não devem pautar mudanças na operação da Midway, divisão financeira do grupo.
“Sobre a taxa de juros a ser cobrada não queremos alterar o preço por causa do aumento da Selic. Estamos ganhando corpo na questão de encontrar o preço certo de acordo com o perfil dos clientes”, disse Queiroz, na teleconferência com analistas, nesta quinta.
Ele admite, no entanto, que os “desafios de taxas de juros” serão sentidos por todas as empresas que oferecem serviços financeiros. “Tem que tomar cuidado, sim, com exposição de risco e inadimplência, com esse movimento inflacionário relevante que consome capacidade de pagamento do cliente.”
No varejo de moda, a oferta de serviços financeiros vem ganhando relevância e é vista como alavanca para ganho de receitas também na conexão com as operações de varejo. A Guararapes ampliou a oferta com a criação da conta digital da Midway. Com seis meses de operação, a carteira chegou a 1 milhão de contas.
Agora, além da concorrente Lojas Renner, que lançou sua versão de conta digital em julho, mais uma varejista se prepara para entrar nessa briga. Ontem, a administração da C&A deu mais detalhes do C&A Pay, que será lançado em dezembro e irá substituir, em dois anos, a parceria com o Bradesco nos cartões C&A.
“A Midway segue com operação financeira robusta, a maior dos players de moda e pode ampliar receitas oferecendo serviços. Com app e contas digitais aumentamos a geração de valor”, argumentou o presidente da Guararapes, Oswaldo Nunes. “Agora vem o desafio de incentivar o cliente a transacionar mais conosco”, acrescentou.
Nesse desafio está justamente a conexão com as operações de varejo. “Olhando para o universo integrado, tenho um perfil de consumo e isso se soma, sim, não só nos produtos e serviços como na personalização das plataformas digitais para fazer sempre o melhor negócio que podemos ofertar. Sempre pensando no universo híbrido de varejo e financeiro”, disse Carlos Alves, diretor executivo de tecnologia e inovação.
No trimestre, a receita de operação financeira cresceu 9,3% ante mesmo período de 2020, para R$ 445,6 milhões. Ainda há recuo ante 2019, de 30%. A provisão de perdas de crédito esperadas também melhorou ante o ano passado, mas ainda está aquém do ano anterior à pandemia.
Fonte: Valor Econômico