Pandemia acelera adoção de meios como apps e carteiras digitais e estimula comportamento digitalizado do consumidor e das empresas
Por Wagner S de Moraes*
Não faz muito tempo, o varejo ainda era resistente ao confiar em fintechs de meios de pagamentos, startups da seara financeira que simplificam e otimizam os processos de compra e venda. Mesmo quando um varejista utilizava cartões corporativos (private label) em sua loja, ainda ficava refém de uma instituição financeira. Algo desnecessário para os dias de hoje.
Com a digitalização dos processos de compra, o comércio teve que se reinventar, encontrar alternativas para a mudança e crescer cada vez mais. Parte deste processo de reconstrução do varejo mostra um inusitado momento para o mercado brasileiro, no qual conquistar e fidelizar os clientes depende muito mais de conhecê-los profundamente do que apenas oferecer-lhes algum produto ou serviço. É preciso estar ao lado dos clientes. Entrar em suas casas. Entender suas necessidades. Quando se tem o acesso direto, é possível vender o que quiser. Isso abriu as portas para os investimentos em meios de pagamentos.
Em 2013, o Banco Central (BC) definiu e regulamentou, por meio da Lei 12.865, os Arranjos de Pagamentos. Tal ação possibilitou às instituições não financeiras que funcionassem como financeiras, com regras e procedimentos próprios para facilitar o acesso ao usuário final.
Ao conjunto de atividades que pode envolver aporte e saque de recursos e emissão de instrumento de pagamento, por exemplo, chamamos de arranjos de pagamentos. As atividades são listadas no inciso III do artigo 6, da Lei 12.865.
Por isso, o mercado de meios de pagamentos está altamente aquecido. O número de empresas ligadas ao varejo que buscam parcerias e até mesmo fusões com fintechs tem aumentado gradativamente. Em 2020, o mês de dezembro foi o mais movimentado para as fintechs brasileiras em termos de investimentos. A quantia recebida em um total de nove rodadas de investimentos foi de US$580 milhões, apontam pesquisas.
De acordo com um levantamento da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), em parceria com o Instituto Qualibest, a pandemia acelerou a adoção de meios de pagamento como app e carteiras digitais. O estudo mostra que 62% das empresas entrevistadas promoveram algum tipo de adaptação em seus meios de pagamentos no último ano. Tudo para lidar com os efeitos da pandemia.
Atualmente, existem 1.158 fintechs atuando em diversas áreas, também no varejo. Segundo dados da A&S Partners, empresa pioneira na montagem e estruturação de fintechs de meios de pagamento, as startups do mercado financeiro ainda possuem participação de mercado de menos de 1% no sistema financeiro nacional. Apesar de parecer pouco, este é um potencial de crescimento grande. O número de fintechs pode chegar a até 3 mil nos próximos três anos, e o market share no Sistema Financeiro Nacional (SFN) deverá crescer para 15%.
Ao tratarmos dos bancos digitais, a digitalização da jornada dos clientes e a simplificação das relações estão levando os bancos digitais a um ritmo de crescimento em suas operações nunca visto antes. O Nubank, por exemplo, já é o quarto mais valorizado na América Latina e o primeiro do mundo entre as fintechs. Hoje, ele conta com mais de 48 milhões de clientes e tem valor de mercado de US$ 30 bilhões — às vésperas do IPO.
E algumas das principais empresas varejistas do país já estão investindo em meios próprios de pagamento e bancos digitais. O Magazine Luiza é um exemplo. Com a compra do Hub Fintech, operação autorizada pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) e pelo Banco Central, a varejista passou a ser uma instituição financeira de pagamentos, regulada pelo BC e SBC (Sistema de Pagamentos Brasileiro), com direito, inclusive, ao sistema de pagamentos instantâneos, o Pix.
O Hub Fintech, hoje, pertence à Magalu Pagamentos, empresa da própria companhia. A empresa está cada vez mais atenta à necessidade de ser digital.
Assim como o Magalu, outras empresas do setor, como a Rede Novo Mundo, que conta com os bancos Mundo e Modinha, o Lojão do Brás, com o banco PagModa, e a Acium, franquia de jóias de aço, com o Acium Bank, também se curvam para os meios de pagamentos.
Em se tratando de varejistas, estamos em uma partida no atual cenário varejista brasileiro onde investir em fintechs de meios de pagamentos é continuamente necessário. A digitalização do relacionamento e dos negócios continuará sendo o nome do jogo. E o varejo tem mostrado interesse em jogar e sair vitorioso.
*Wagner S. de Moraes é sócio-fundador da A&S Partners e possui mais de 25 anos de experiência como executivo de gestão.
Fonte: Finsiders