Mercado passará por grande transformação nos próximos dois anos; experiências simples, rápidas e práticas, conectadas a dados, serão cada vez mais importantes
O mercado chinês de meios de pagamento passou por uma revolução nos últimos anos, uma transformação que tem características muito próprias. É possível replicar o sucesso dos pagamentos digitais na realidade brasileira? Para destrinchar essa questão que é essencial para a criação de ecossistemas de negócios, o Seminário Digital “China pós Covid-19: o papel da Inovação e Ecossistemas” conversou com especialistas e mostrou que, sim, é possível, mas com um sabor tipicamente brasileiro.
“Estamos em um momento como naquele desenho da Corrida Maluca, em que cada competidor tem um veículo completamente diferente, mas todos têm o mesmo objetivo de vencer”, compara Roberto Chade, CEO e co-fundador da Dotz. A empresa evoluiu nos últimos anos de um programa de fidelidade para uma plataforma de serviços financeiros, criando sua carteira digital para se fazer presente em mais momentos da vida dos clientes. “Apostamos muito na combinação do loyalty com o dia a dia das pessoas e acreditamos que pode ser uma receita vencedora em um mercado que tem características muito próprias”, comenta.
Para Carlos Formigari, presidente da Itaucard e diretor executivo do Itaú Unibanco, o mercado brasileiro tem duas diferenças fundamentais em relação à China: a forte presença de bancos comerciais e os cartões de crédito. “Na China, os meios de pagamento digitais chegam para resolver um ponto de dor que no Brasil não é um problema para grande parte da população”, diz. Atualmente, 43% do consumo das famílias é feito com cartão de crédito, mas a maioria da população prefere usar dinheiro.
“No Brasil, pagamento vai ser commodity, a diferença estará na experiência, no contexto e na usabilidade. Para o cliente, o pagamento é um momento de atrito e, por isso, diminuir o tempo das transações é a chave. Quem fizer isso melhor larga na frente e daqui a dois anos a conversa será muito diferente de hoje”, analisa o executivo.
Com Open Banking, PIX e LGPD, o cenário brasileiro de meios de pagamento será em breve muito diferente, mais ágil e dinâmico. “O Open Banking acaba com a assimetria de informação, que hoje é gigantesca, e cria um cenário muito mais competitivo”, afirma Formigari.
“Vamos enfrentar mais um processo de ‘destruição criativa’, focado em experiências que sejam relevantes para os clientes”, diz Fábio Coelho, presidente do Google Brasil. “Essa é realmente uma grande corrida, mas, em função do tamanho das empresas e da competitividade, vai haver uma solução brasileira, com características únicas, como várias modalidades de pagamento e de fidelidade”, comenta.
Segundo ele, o PIX, sistema de pagamentos instantâneos do Banco Central, será muito importante nesse novo cenário competitivo. “Com o PIX, teremos mais 40 ou 50 milhões de pessoas conectadas ao sistema bancário, com redução de custos, e as empresas do setor bancário precisarão se reinventar para esse novo ambiente de negócios”, acredita Coelho.
Nesse processo de aumento de competitividade e transações instantâneas, quem sai ganhando é o consumidor. “É um momento em que todas as empresas estão precisando colocar o cliente no centro de seus negócios. Não importa onde estejamos, temos que atuar em colaboração, baseados em dados. No pós-pandemia, será fundamental oferecer experiências fáceis, seguras e acessíveis, especialmente para o imenso público que se digitalizou durante esta crise”, completa Gabriela Comazzetto, diretora de negócios do Facebook Brasil.
Leia também
A revolução dos pagamentos no varejo chinês
A tecnologia que viabiliza um novo varejo
Por dentro da cultura do Alibaba
Lições da China: eficiência, agilidade e criatividade
Uma startup de 1,4 bilhão de pessoas
Uma oportunidade de US$ 2 trilhões
Uma nova forma de pensar os negócios
O segredo está na cultura e na história
A transformação que vem do outro lado do mundo