17/10/2014
Cláudio Gradilone
Depois de passar os últimos trimestres arrumando a casa, saneando a carteira de empréstimos e modernizando os sistemas, o Banco Pan vai partir para o ataque. O R$ 1,3 bilhão injetado no fim de setembro pelos principais acionistas, BTG Pactual e Caixa Econômica Federal, e o R$ 1,5 bilhão adicional que poderá ser captado no mercado por meio da emissão de ações preferenciais resgatáveis já têm destino certo. Com sua estrutura de capital fortalecida, o ex-PanAmericano quer galgar posições nos financiamentos a veículos e nos empréstimos consignados.
Outras linhas de negócio, como os cartões de crédito e os financiamentos imobiliários também deverão ganhar relevância. Além disso, o banco está começando a explorar um novo nicho de mercado, os financiamentos estruturados de longo prazo para empresas de médio e grande porte. Essa diversificação das linhas e o reforço da nossa base de capital vão nos permitir manter em carteira um percentual maior dos empréstimos que originamos, diz José Luiz Acar Pedro, principal executivo do Pan. A estratégia visa aproveitar a boa onda dos empréstimos consignados.
O ano tem sido fraco no setor de financiamentos devido ao desaquecimento da economia e os bancos estão revisando seus prognósticos para baixo. A justificativa foi o crescimento fraco da economia. Mesmo assim, a demanda pelos empréstimos consignados permanece robusta, especialmente após as medidas de estímulo divulgadas pelo Banco Central (BC) em agosto e setembro últimos. Para estimular as concessões, o BC ampliou o prazo máximo dos financiamentos de cinco para oito anos no caso dos servidores públicos federais e de cinco para seis anos no caso dos aposentados e pensionistas do INSS, desde que o percentual da renda comprometido com as prestações mensais permaneça nos atuais 30% do salário.
Além disso, a Dataprev, empresa de processamento de dados da Previdência, elevou de 65 mil para 104 mil os pedidos de empréstimo que os bancos podem enviar para análise a cada dia, visando tornar mais ágil a concessão de financiamentos. Com isso, a expectativa dos executivos do setor é que o consignado cresça 10% neste ano, depois de declinar em 2014 (veja gráfico abaixo). Apenas nas duas primeiras semanas de outubro, o número de pedidos de empréstimo avançou 50% em relação a setembro. As medidas do BC foram a salvação da lavoura para os bancos que atuam nesse negócio, diz um banqueiro que conhece o assunto.
No caso do Pan, o desafio não é emprestar, mas obter capital para manter esses empréstimos nos livros do banco, sem ter de cedê-los a outras instituições financeiras e sacrificar o lucro. Segundo Acar, o banco atualmente é capaz de conceder R$ 1,2 bilhão por mês em empréstimos. Nossa meta é reduzir a cessão, diz ele. O percentual cedido varia, dependendo do apetite dos compradores e dos custos de captação do Pan, mas o executivo estima que o banco retenha em casa em média R$ 2 bilhões ante um total de R$ 16 bilhões em empréstimos. Para conseguir isso, o Pan precisa de capital abundante e, principalmente, barato.
A estratégia foi oferecer ao mercado um título pouco convencional, uma ação preferencial resgatável, que paga dividendos fixos equivalentes a 104% dos juros de mercado medidos pelo CDI e com cinco anos de prazo. Parecida com uma preferred stock americana, essa ação deverá garantir ao banco um dinheiro mais barato. No entanto, os acionistas minoritários têm se mostrado reticentes. Pelas normas do mercado, quem não concordar com os termos da emissão pode exercer o chamado direito de recesso, obrigando os controladores a comprar as ações.
O preço de venda, nesse caso, seria o valor patrimonial de R$ 4,03 referente ao balanço divulgado no dia 30 de junho, e não os R$ 2,80 do fechamento da quinta-feira 16. Para evitar essa arbitragem adversa, o banco divulgou, na segunda-feira 13, um comunicado ao mercado de que poderá desistir da captação, caso mais de 0,25% dos acionistas exerça esse direito. O cenário permanece incerto. Temos de esperar até o dia 14 de novembro, que é o prazo final para os acionistas pedirem o direito de recesso, para saber que caminho vamos tomar, diz Acar.
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