17/10/2014
Rosenildo Gomes Ferreira
Cercado pela família e por amigos, em meio à multidão de 60 mil espectadores que assistiam à decisão da Copa do Mundo 2014, no estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro, o diretor-geral da Nike do Brasil, Cristian Corsi, estava dividido. Nascido na província de Rosário, na Argentina, seria natural que ele torcesse pela seleção de seu país, que enfrentava a da Alemanha. Contudo, Corsi não saiu do estádio abalado após o chute certeiro do atacante Mario Götze, que deu números finais ao placar. Doeu-me muito, afinal sou argentino, diz Corsi.
O consolo foi o fato de o gol ter sido marcado por um atleta Nike. O jovem craque alemão era uma das dezenas de jogadores que calçaram chuteiras com a logomarca da fabricante durante o evento. Mais que vencer ou perder uma partida, o executivo vem ganhando, na verdade, inúmeros campeonatos desde que desembarcou por aqui, em 2007. O título mais vistoso foi ter conseguido levar a filial a atingir US$ 1 bilhão em vendas, transformando o Brasil no terceiro maior mercado do Planeta Nike, à frente da Grã-Bretanha e atrás apenas dos Estados Unidos e da China.
Para conquistar essa receita, a empresa levou 15 anos. Para dobrá-la, Corsi terá apenas cinco anos. No planejamento estratégico desenhado em conjunto com a matriz, a filial terá de fechar o exercício de 2019 com US$ 2 bilhões em vendas. Para chegar lá, Corsi está acelerando o passo. A Olimpíada de 2016, que acontecerá no Rio de Janeiro, terá um peso importante. Contudo, é nas ações do dia a dia que o diretor-geral espera crescer de forma contínua e sustentada. Para isso, está dando atenção a nichos emergentes. A começar pelo público feminino.
Tanto as mulheres que praticam esportes em alto nível quanto aquelas que frequentam a academia apenas para manter a forma. Gente não deve faltar. O número de mulheres que completaram a última edição da prova de São Silvestre, realizada no dia 31 de dezembro de 2013, cresceu 67,1%, em relação a 2009. As pesquisas mostram que a prática esportiva está ligada mais à qualidade de vida que ao desejo de emagrecer, diz a especialista em consumo e varejo Heloisa Omine, sócia-fundadora da consultoria paulistana R2E by Shopfitting.
Segundo Heloisa, a Nike reúne todas as condições para se beneficiar desses movimentos, devido à sua capacidade de trafegar entre os dois mundos: o dos esportes de performance e o do chamado lifestyle, que são roupas e calçados estilosos, usados, também, em ocasiões informais. Para capturar esse público, Corsi vem atuando em várias frentes. Intensificou a presença da grife nas redes sociais, com a criação de grupos de corrida no Twitter e no Facebook, que contam com 500.745 seguidores e receberam 2,4 milhões de curtidas, respectivamente. Outra arma do executivo é a tropicalização do portfólio.
Metade das peças de vestuário vendidas no Brasil é produzida localmente. No caso dos calçados, o índice é de 35%. Levamos cinco anos para desenvolver fornecedores locais, diz Corsi. O design das peças fica a cargo dos funcionários do Centro de Desenho e Desenvolvimento Local, instalado na sede da empresa, em um condomínio empresarial no bairro da Lapa de Baixo, zona oeste da cidade de São Paulo. Essa estratégia tem permitido à empresa maior flexibilidade na fixação de preços, que hoje tem como parâmetro três níveis, dependendo da tecnologia e da sofisticação de cada peça. Com isso nós conseguimos democratizar o acesso aos nossos produtos, afirma Corsi.
O grande teste aconteceu com a camisa oficial da Seleção Brasileira de Futebol. Outras ferramentas à disposição da equipe comandada por Corsi para conhecer ainda mais, e melhor, o gosto do consumidor local são as pesquisas. Esse trabalho está tendo impacto também no formato das lojas próprias: Nike Store e Outlet. Desde a disposição dos produtos, até o tamanho dos provadores, passando por itens prosaicos como a instalação e ganchos para pendurar bolsas, por exemplo. Tudo para deixar o chefão Trevor Edwards, CEO global da empresa, mais contente. Aliás, Edwards estava ao lado de Corsi, no Maracanazo argentino.
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