24/10/2014 às 05h00
Por Denise Neumann | São Paulo
Os dados da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) trazem algumas pistas que podem ajudar a explicar a volta do otimismo entre as famílias, os consumidores e a indústria. O resumo da pesquisa é que a situação não piorou, ao contrário da perspectiva criada depois dos fracos meses de maio a julho deste ano. O desemprego não subiu e a renda não caiu. Simples assim.
Depois que dados do PIB mostraram recessão no primeiro semestre, que os números da produção e os índices de confiança caíram, as vendas do comércio andaram de lado e os dados de emprego formal foram os piores desde 2000-2001, criou-se a dúvida sobre se o segundo trimestre foi o fundo do poço ou se a situação poderia piorar. Na dúvida, as famílias colocaram o pé no freio, com medo de demissões.
Os dados da PME de setembro mostram que o desemprego não cresceu (até recuou um pouquinho, de 5% para 4,9%) e a renda ficou estável, conseguindo fazer frente à volta da inflação. Parte da estabilidade se deve ao fato de que mais pessoas, de novo, não foram procurar emprego. O importante é entender por que as pessoas saíram do mercado.
A pesquisa mostra que 90 mil delas (entre agosto e setembro) não buscaram emprego, porque não querem ou não precisam trabalhar, número bem maior do que os 22 mil que saíram do mercado, mas voltariam se tivessem oportunidade (pessoas que deixaram de procurar emprego por desalento, porque não acreditar que conseguiriam uma vaga). Se 90 mil pessoas deixaram de procurar emprego, isso aconteceu porque na família delas havia uma situação de conforto suficiente para que se colocassem nessa situação.
Talvez o segundo trimestre não tenha sido o fundo do poço na economia, mas o terceiro trimestre será melhor que o período abril-junho. A economia brasileira não está em franca expansão, nem entrou em recuperação sustentada. Mas engatinha em um ritmo melhor e isso parece ter sido suficiente para trazer algum alívio às famílias. E o alívio pode “crescer”.
A pesquisa traz alguns dados curiosos sobre renda e emprego. Embora a indústria continue demitindo, o emprego cresceu no setor de serviços às famílias (19 mil vagas a mais) e mais 46 mil vagas foram criadas no emprego doméstico. Ou seja, as famílias voltaram a contratar pessoas para trabalhar nas suas casas (ou as pessoas que antes não queriam essa vaga, agora a aceitaram).
No setor de serviços às famílias (grupo outros serviços, que reúne alojamento, alimentação, transporte, entre outros) o rendimento médio real aumentou 3% em setembro sobre agosto. Esse aumento real atinge 19% da população ocupada (quase um em cada cinco ocupados) das seis regiões metropolitanas. Em outros segmentos, a renda caiu, mas fora construção (retração de 2,7% no mês), as quedas variaram de 0,1% a 0,6%.
Na média entre ocupação e renda, a massa de rendimentos cresceu 2,5% acima da inflação no acumulado de agosto e setembro, indicando um bom colchão para a recuperação da atividade.
São por esses detalhes – que mostram que a situação parou de piorar – que se entende a melhora relativa da confiança. E ela parece ter chegado a tempo de ajudar a presidente Dilma Rousseff em sua campanha de reeleição. A confirmar no domingo.
Valor Econômico – SP