24/10/2014
Por Marina Falcão | Do Recife
Se um dia a rede de supermercados Carvalho fechasse as portas, faltaria comida em Teresina. Com faturamento de R$ 1,7 bilhão em 2013, a varejista responde por 73% do varejo alimentar da capital piauense. Mas para não perder mercado e voltar a abrir lojas, a empresa precisa hoje de um aporte de recursos. E os fundadores do grupo já começaram a busca por um sócio.
Desde que foram publicadas as primeiras notícias sobre a separação do casal que fundou a companhia, Van e Reginaldo Carvalho, um ano atrás, aumentaram as especulações sobre a venda da varejista. Reginaldo, presidente da empresa, garante que quase tudo que se fala em relação a uma possível venda do grupo é “boato”. O mais recente deles, conta, é de que a companhia estaria próxima de ser comprada pelo Grupo Pão de Açúcar (GPA). “Nunca chegamos a negociar profundamente com nenhuma rede grande”, disse ao Valor.
Uma fonte do mercado financeiro comenta que as dívidas com bancos estariam comprometendo o caixa e a lucratividade da companhia, que opera num setor de margens muito apertadas.
Segundo Carvalho, o endividamento bancário do grupo está hoje em cerca de R$ 300 milhões. “O prazo é alongado. Não temos inadimplência nem atraso”.
Mas o empresário assume que, hoje com 46 lojas espalhadas pelo Piauí e Maranhão, o grupo não tem fôlego para, sozinho, abrir mais unidades. “Não quero alguém apenas para investir, mas para melhorar a governança e me ajudar na condução do negócio. É o caminho natural das empresas que crescem e não queremos perder oportunidades”, diz.
Este ano, o grupo contratou o Credit Suisse para buscar um sócio. Mas o mandato do banco acabou sem que nenhuma negociação tivesse avançado. “Acredito que esse período de incerteza eleitoral e risco de recessão não é bom para fechar negócio. Nem para vender nem para comprar. Resolvi esperar mais um pouco mais para ver como fica o mercado”.
O empresário não descarta a possibilidade de, em breve, contratar novamente um assessor financeiro para lhe ajudar na procura de um investidor.
O varejo supermercadista é um dos primeiros a sentir a estagnação da economia. No acumulado do ano até agosto, o setor cresceu 1,63% em termos reais, segundo a Associação Brasileira de Supermercados (Abras).
No caso do grupo Carvalho, a desaceleração foi abrupta do ano passado para cá. Em 2013, a rede cresceu 13%. Este ano, a previsão é um aumento de 4% nas vendas, desempenho abaixo da inflação. Para 2015, Carvalho projeta um ano difícil para crescimento. “Nossa ideia é conseguir sustentar as vendas”, diz.
Com 50 anos, o empresário evita falar sobre divórcio e como isso pode impactar no futuro dos negócios da família. Ao lado de Van, ele fundou o grupo Carvalho e teve dois filhos. O mais velho, Reginaldo Júnior, de 23 anos, trabalha na área comercial do grupo. Apesar da separação, Van continua, até agora, trabalhando na empresa no cargo de vice-presidente.
Reginaldo Carvalho diz que não pretende vender 100% do grupo para uma grande rede como Grupo Pão de Açúcar, Carrefour e Walmart. As três gigantes do setor no Brasil também atuam no Piauí. Na capital, o grupo Carvalho predomina com larga vantagem, mas nos últimos cinco anos a concorrência ficou mais acirrada. Foi quando desembarcaram as bandeiras Extra (do GPA) e Atacadão (do Carrefour). Três anos antes, chegara o Makro. “Já tivemos 80% do mercado em Teresina”, lembra.
A história de Reginaldo Carvalho no ramo do varejo é antiga. Aos sete anos, ele já ajudava o pai comerciante no balcão. Aos 15, Carvalho abriu o primeiro mercadinho em Esperantina, interior do Piauí. “Começou como vidraçaria, mas depois ampliei para comércio de alimentos”, conta.
Em 1982, Carvalho mudou-se para Teresina e, quatro anos mais tarde, ao lado da companheira Van, formalizou a Carvalho Fernandes, uma empresa de capital fechado.
Atualmente, o grupo Carvalho emprega 7 mil funcionários. A maior parte do negócio (86%) é varejo e o restante corresponde às vendas no atacado.
Valor Econômico – SP