As redes varejistas que estavam otimistas com a retomada forte das vendas de seguros em canais físicos e virtuais perderam um pouco o fôlego com o fraco desempenho verificado desde o fim do ano até fevereiro. Agora, com o cenário mais cinzento por causa da pandemia do coronavírus, as estratégias e expectativas de faturamento serão revistas. Apesar de implementarem um esquema de “guerra” para segurar as vendas com o período de quarentena, a incerteza quanto a emprego e renda dos trabalhadores acende um sinal vermelho nas expectativas de todos.
A francesa AXA Brasil e a suíça Zurich Brasil estão entre as principais deste segmento. A AXA negociou em novembro a expansão do contrato com a Pernambucanas por mais cinco anos. “Com o aditivo, estaremos juntos até 2031, no maior programa de microsseguros do varejo brasileiro”, afirma Erika Medici, CEO da Axa. A expectativa de receita de 2016 a 2031 está prevista em R$ 3,7 bilhões. “Com o controle da pandemia, as operações vão se restabelecer. Já tivemos 6 milhões de apólices emitidas desde o início do contrato, de novembro de 2016 até janeiro de 2020”, acrescenta.
Além da Pernambucanas, o grupo francês tem em carteira a Leroy Merlin e contratos com varejistas médios, que juntos representam 40% de suas vendas no Brasil. “O segmento de parcerias com o varejo é uma vertente de negócios fundamental em nossa estratégia de negócios, pois nos permite levar a marca AXA ao consumidor pessoa física de uma forma massiva.”
A Zurich tem parcerias com diversas redes, entre elas com a Via Varejo e Havan. O grupo possui acordo plurianual com a Via Varejo para trazer um portfólio diversificado de produtos de seguro digital para os clientes – como seguro de acidentes, seguro desemprego, para celular e vida. Também faz parte do banco digital da Via Varejo, o banQi, que tem como objetivo atender de forma ampla as necessidades das classes C, D e E. “Os seguros são importantíssimos para a preservação das conquistas materiais dos indivíduos deste segmento e a plataforma digital ajudará a ampliar o acesso a este tipo de proteção”, disse Edson Franco, CEO da Zurich no Brasil, quando a parceria foi divulgada no ano passado.
Com a Havan, a parceria, pelo prazo de 5 anos prevê a venda de garantia estendida, seguro de roubo, furto e danos acidentais para celulares e seguro prestamista, que cobre as parcelas das compras em caso de desemprego.
O varejo tem sido aliado das seguradoras para aumentar a oferta de seguros principalmente entre as classes C e D. Entre os produtos mais ofertados estão garantia estendida de produtos da linha branca, roubo e quebra acidental de celulares, perda e roubo de cartão, apólices residenciais, bolsa protegida, seguro funeral e seguros que indenizam diagnósticos de doenças graves. Por preços a partir de R$ 5 mensais é possível comprar a assistência 24 horas para chamar um guincho caso o carro quebre ou um encanador para consertar o vazamento na casa.
A maior demanda, no entanto, vem do seguro para roubo e quebra acidental de celulares, com um custo mais elevado. Em alguns casos, ultrapassa 10% do valor do bem, mais pagamento de franquia quando for utilizado.
A participação da lucratividade de seguros no balanço de algumas varejistas chegou perto de 15% anos atrás. Porém, de cinco anos para cá, depois de uma crise reputacional causada pela inclusão de produtos sem a anuência do consumidor, as operações tiveram um freio para se adequar às novas normas dos órgãos de defesa do consumidor.
Thomaz Tescaro, vice-presidente de varejo e TI do grupo MDS Brasil, afirma que as mudanças na venda de seguro em varejistas vão muito além das exigências dos órgãos reguladores. De olho na necessidade de serviços diferenciados neste mercado, o grupo português criou uma plataforma digital para atender empresas interessadas em ofertar seguros aos clientes. “Quando tratamos um projeto de distribuição de seguros digitais, usamos dados para entender como o cliente se comporta, como quer ser atendido, que produtos adquire, entre outras questões. Reformulamos totalmente a trilha de experiência necessária desse cliente e, somente após essas etapas, tratamos essa oportunidade de forma customizada.”
Fazer o dever de casa reduziu vendas e lucros num primeiro momento, mas a expectativa é de um forte incrementos nos próximos anos, com modelos diversos de parcerias. A rede Magazine Luiza, por exemplo, optou por montar uma seguradora em parceria com o BNP Paribas Cardif há anos. No ano passado, a MagaSeg registrou vendas R$ 627 milhões em seguros, com lucro líquido de R$ 47,5 milhões. Valor que representou uma contribuição de 5% do lucro de R$ 922 milhões da varejista em 2019. Uma margem bem elevada considerando a de bens de consumo
Fonte: Valor Econômicos