Eduardo Terra – Sócio-Diretor da BTR Consultoria e Presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo
Muito tem se discutido na economia em geral e mais especificamente no varejo a respeito das mulheres em funções de liderança.
Quanto eu decidi escrever este artigo, procurei primeiro entender algumas estatísticas do papel da mulher atual no mercado de trabalho e se ainda temos algum fator que remeta a uma descriminação. Fiquei surpreso com dois números; primeiro o quanto as mulheres já representam da população economicamente ativa, no Brasil 44% e nos Estados Unidos elas já passaram a marca dos 50%. Ainda no Brasil 60% das empresas tem uma mulher entre os principais donos.
Já com relação aos fatores de descriminação descobri que apesar do crescimento da participação no mercado de trabalho, as mulheres recebem no Brasil 25% menos que os homens e nos Estados Unidos apesar de um percentual menor, a diferença ainda existe.
Partindo do conceito de que salários remuneram competências e que as competências das mulheres na liderança são tão ou mais importantes que a dos homens, temos claramente um desequilíbrio para corrigir.
Conversando com diversos especialistas ouvi que talvez o desafio das mulheres seja fazer valer em seus salários o real valor de suas competências.
Uma prova concreta deste desalinhamento é que no Brasil o nível de escolaridade das mulheres já é maior que o dos homens.
Um novo estudo realizado pelo Banco Mundial a respeito do tema mostra que se essa desigualdade acabar, não só as brasileiras (mas toda a economia) sentirão os benefícios.
Quando observamos as questões legais também notamos alguns movimentos importantes; alguns parlamentares já tentaram aprovar projetos de lei para diminuir essa desigualdade, mas ninguém conseguiu até agora. O projeto de lei 6.653/2009, por exemplo, da deputada baiana Alice Portugal, estabelece salários iguais e a criação de comissões de igualdade de gênero em todas as empresas brasileiras. O texto nunca foi votado pela Câmara.
Fora do Congresso, uma iniciativa da Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM) teve mais sucesso: o, das 16 empresas integrantes da primeira edição , 11 receberam o selo pró-equidade, dado àquelas que se comprometem a oferecer salários e oportunidades iguais. Na quarta edição (2011/2012), 81 participaram. Ainda assim, elas representam uma minoria entre as corporações do país.
Buscando entender esta tendência do aumento da liderança das mulheres do varejo, levantei dois bons exemplos de empresas de grande porte com iniciativas que buscam acelerar o processo. A Via Varejo lançou um programa bastante noticiado na imprensa para atrair mais candidatas mulheres para processos seletivos de seus cargos de liderança. Em depoimento feito a revista No Varejo a diretora de Desenvolvimento de Gente da Via Varejo, Cristiane Lacerda diz que as características femininas são muito pertinentes à rotina do varejo. “Neste setor, o bom relacionamento interpessoal e a capacidade de conduzir atividades multifuncionais são características fundamentais”, explica Cristiane.
Isso explica a busca das empresas por aumentar a participação das mulheres em seus cargos de liderança.
O Walmart lançou também o programa Movimento Empresarial pelo Desenvolvimento Econômico da Mulher, que tem a participação de outras 50 empresas. Com o programa, a varejista pretende ter 50% de mulheres em cargos de liderança na companhia em todo o mundo e ser um dos maiores empregadores de mulheres líderes em cada mercado onde atua. Hoje, o número gira em torno de 38% na unidade brasileira.
Com todas as estatísticas levantadas, depoimentos e exemplos ficou claro que estamos diante de um movimento sem volta onde teremos nos próximos anos um papel cada vez maior das mulheres em funções de liderança e esperamos que com o equilíbrio merecido de salários e recompensas.