Com 400 franquias no país, a Farmais é hoje a única varejista em operação da BR Pharma, criada em 2009 para ser consolidadora do mercado de farmácias
O novo plano que a Brasil Pharma, rede controlada pela Lyon Capital, do empresário Paulo Remy, apresenta hoje a credores menciona a criação de duas redes de franquias para que a empresa continue a operar e gerar caixa, antecipou ontem o Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor. Não há detalhes, porém, sobre esse projeto. A BR Pharma está em recuperação judicial desde janeiro.
O plano ainda faz mudanças na forma de amortizar a dívida e reduziu o desconto no débito para microcredores. Os sócios do BTG, os maiores credores, aprovaram o novo plano numa assembleia anterior, para debenturistas. A ação fechou ontem com avanço de 21,37%, a R$ 1,59, a terceira maior alta da B3.
Como o Valor antecipou na semana passada, ainda será apresentado aos credores hoje uma proposta de venda da rede Farmais por meio da criação de uma sociedade de propósito específico (UPI). Neste caso, o grupo venderá a gestão das franquias e a marca, sem passivos. O novo dono receberia royalties sobre a receita dos franqueados. Ainda podem ser vendidos 102 pontos comerciais, que já foram lojas da rede e estão fechados.
A empresa afirma no novo plano que espera um pagamento mínimo de R$ 2 milhões pela venda de seus ativos. No documento, a Farmais aparece com patrimônio líquido de R$ 797,4 mil em junho de 2018 e registra prejuízos acumulados de R$ 2,69 milhões. A receita foi de R$ 1,8 milhão de janeiro a junho, uma queda de 70%.
A alienação da Farmais foi solicitada pelos credores na última assembleia – este aspecto, portanto, deve ter o apoio dos participantes na reunião de hoje.
A BR Pharma menciona no plano a manutenção das suas atividades por meio do “crescimento das receitas decorrente da criação e implantação da rede de franquias das marcas Big Ben e Santana”. A empresa já atuou com bandeiras próprias de mesmo nome, mas fechou todas essas lojas próprias nos últimos meses. A BR Pharma tem hoje apenas a Farmais, com cerca de 400 franquias no país.
A companhia projeta atingir receita bruta de R$ 5 milhões com as duas novas redes em 2019 e R$ 142 milhões em 2048, mas não informa detalhes sobre como pretende promover o crescimento desses negócios. Uma das questões é como fazer novos investimentos ou acessar linhas de crédito considerando o quadro atual da empresa. O grupo afirma no plano que pode buscar “novos recursos por meio da celebração de financiamentos durante o cumprimento da recuperação judicial”.
A empresa contratada pela BR Pharma para fazer um laudo financeiro sobre a viabilidade do plano, a MS Cardim & Associados, afirma em documento que o projeto é viável e a geração de caixa estimada para pagamento de credores está baseada, em parte, na existência das duas novas redes de franquias e “no aumento gradual das lojas franqueadas”.
“A continuidade das operações, a geração de fluxos de caixa positivos e os ativos não operacionais se provam mais que suficientes para o pagamento das suas operações”, declara a MS Cardim. Esse laudo é encaminhado aos credores e à Justiça, que precisa homologar o plano.
Segundo o advogado de um laboratório farmacêutico credor, a BR Pharma precisa sinalizar aos credores e à Justiça outro projeto para manutenção das atividades, uma vez que propõe vender a operação da Farmais.
Em assembleia de debenturistas realizada em 17 de setembro, o novo plano de recuperação foi aprovado. No encontro estavam credores sócios do BTG – que formam a PPLA Participations e são os detentores da maior parte das debêntures recém-emitidas. O voto deles é crucial para o avanço do plano.
O Valor ouviu alguns credores da indústria da farmacêutica ontem, que não ficaram satisfeitos com a manutenção do deságio de 95% para quem possui garantias reais. Mas houve redução no prazo de carência de 30 anos para 20 anos. Procurada, a BR Pharma não se manifestou.
O plano ainda faz mudanças na forma de amortizar a dívida. A amortização será feita de acordo com os valores recebidos com a venda de ativos – e não mais em parcela única em até 30 dias após a venda. Também diminuiu o desconto no débito para micro e pequenas empresas. No primeiro plano, o desconto seria de 75%, e agora caiu para 50%.
Paralelamente, outra empresa que já foi controlada pela BR Pharma está em situação difícil. A rede Mais Econômica, vendida em 2015 para a empresa de investimentos Verti Capital, está em recuperação judicial no Rio Grande do Sul desde 2017. Com dívida de cerca de R$ 152 milhões, a rede aguarda a convocação de assembleia de credores, também para deliberar sobre o plano de recuperação.
A Mais Econômica ingressou com uma ação indenizatória contra seus antigos controladores por supostas fraudes contábeis. A BR Pharma nega as acusações
Fonte: Valor Econômico