Embora sejam pequenas, não muito conhecidas, essas lojas localizadas em São Francisco, nos Estados Unidos, podem garantir um aprendizado interessante para o varejista brasileiro. Acompanhe os exemplos da Bi-Rite Market e da Rainbow Grocery Cooperative:
Cozinha dentro da loja
A Bi-Rite Market foi inaugurada em 1964. “Era antigamente um tipo de mercado familiar, comandado por dois irmãos, que abastecia a vizinhança e atendia os moradores locais”, conta Marcela Graziano, CEO da Smarket Solutions. Seus filhos trabalhavam para empacotar produtos e jamais sonhavam à época em levar o negócio adiante. Trinta e três anos depois, Sam, um dos filhos empacotadores que foi estudar para virar chef na Suíça, comprou a loja. “Ele trouxe uma perspectiva inovadora: inserir uma cozinha na unidade, colocar comidas prontas para levar e inaugurar uma rotisseria. Em 2016, a Bi-rite foi listada pela Forbes como uma das melhores pequenas empresas americanas do ano”, explica Marcela, que fez todas as visitas às lojas listadas nesta matéria.
Solução de compra
Segundo Heather Biscoe, gerente da Bi-Rite Market, eles têm um método de escolha de mercadorias em exposição nas gôndolas muito focado em agrupar possíveis produtos que façam sentido juntos na cesta do consumidor. É o conceito de solução, para facilitar a vida do shopper e fazer com que seu tíquete de compra aumente.
Reputação
Segundo Marcela, a gerente da unidade falou sobre a preocupação que eles têm com toda a cadeia de abastecimento, como são responsáveis pela seleção de seus fornecedores, de que forma acompanham o processo produtivo e tratamento dos funcionários. “No meio da explicação, Heatker, inclusive, citou um episódio recente em que um fornecedor da loja, que vendia alho descascado, foi retirado da lista de produtores pela denúncia de trabalho análogo à escravidão em redes sociais”, relata a executiva da Smarket Solutions. Essa situação exemplifica a preocupação das empresas que aprimoram o valor de marca com a cadeia de suprimentos. Elas se importam em preservar o cliente de dissabores com falhas graves na produção e firmam laços fortes de relacionamento com bons produtores locais. Isso significa entender sua responsabilidade social e impedir comportamentos inadequados dos parceiros.
Autonomia dos colaboradores
Vale ressaltar que os colaboradores da Bi-Rite Market têm liberdade para tomar decisões. “Enquanto caminhava pela loja, um dos repositores me ofereceu, gratuitamente, um leite de amêndoas com morango para que eu conhecesse o produto, isso porque este venceria em dois dias e eles deveriam retirar o produto do ponto de venda. Claro que isso só é possível pela estatura da loja e por ela ter poucos colaboradores, mas me chamou a atenção a autonomia de cada um”, relata Marcela.
Respeito
A varejista também preza muito o respeito e confiança que eles têm pelo consumidor. “Ao passar no caixa, a colaboradora passou o leite de amêndoas que eu havia ganhado e, ao fazê-lo, comentei que o produto havia sido fornecido por um colaborador. Sem questionar, ela cancelou o item e me pediu desculpas pelo inconveniente. Isso me mostrou a preocupação deles com a minha experiência dentro do Bi-Rite”, lembra Marcela.
Parcerias pequenos produtores
Outro caso que também me chamou atenção da CEO da Smarket Solutions foi o fato de ser dada grande importância ao pequeno produtor ao invés de grandes fornecedores. “Segundo Heather, isso ocorre porque assim conseguem ter um melhor controle de qualidade na seleção de associados que possuem uma conduta similar a do Bi-Rite”.
Cooperativa
A segunda visita de Marcela Graziano nos Estados Unidos foi a Rainbow Grocery Cooperative. Iniciada por uma comunidade espiritual que existia em São Francisco no início da década de 1970, era basicamente um programa de compras de alimentos a granel que oferecia comidas vegetarianas mais baratas. No início a loja contava com apenas com voluntários. Após os primeiros meses, a renda foi suficiente para pagar – um valor que se aproximava de um salário mínimo – os dois trabalhadores mais ativos do projeto. “À medida que a loja se tornava cada vez mais bem-sucedida, o negócio se transformou em uma cooperativa com participação nos lucros”, explica.
Democrático
Apesar de um longo tempo de funcionamento, o Rainbow continua fiel a sua visão de criar e sustentar um local de trabalho democrático e não hierárquico, além de inspirar outros varejos pelos domínios da alimentação saudável, organização cooperativa e vida sustentável. “Com certeza foi um dos varejos mais diferentes que já fui”, afirma Marcela.
A granel
No autosserviço tradicional, é normal ver castanhas e nozes a granel, mas no Rainbow quase todas as categorias são vendidas dessa maneira: cereais, sais, óleos, azeites, azeitonas, produtos de limpeza e até sais de banho. São expostos diversos produtos a granel, onde o cliente se serve do que quer, pesa o produto em uma balança e imprime a etiqueta de acordo com o seu código. “Eles combinam a consciência ecológica, por diminuir a quantidade de embalagens supérfluas, com barateamento de custo, pois retiram do custo final o valor da embalagem”, avalia a CEO da Smarket Solutions.
Segundo Marcela, essa preocupação com o meio ambiente e com a cadeia de suprimentos é uma tendência em comum dos mercados que visitei em São Francisco. “Um ensinamento valioso que pode funcionar se bem aplicado à realidade brasileira. Por isso, um serviço inteligente e personalizado, que prioriza o cliente e a sua experiência, que vende o valor percebido para o consumidor e se responsabiliza por todos os aspectos da sua produção, mostra a potência que poderia unir a cultura do pequeno varejo brasileiro com o americano”, conclui.
Fonte: Supermercado Moderno