A paulistana Natalie Klein, 41, escolhe um vestido da Zimmermann para aparecer ao lado das modelos numa das fotos que ilustram esta página. A grife é novata nas araras da NK Store, multimarcas que criou há 20 anos com o empréstimo de US$ 1 milhão que pediu ao pai, o empresário Michael Klein. Natalie, parte da família que fundou as Casas Bahia, tem uma certa expectativa com o desempenho da etiqueta. Acredita que será um sucesso. Mas essas coisas realmente podem ser imprevisíveis. Ela cita um episódio de tempos atrás, quando uma coleção da estilista francesa Sonia Rykiel simplesmente encalhou.
— Os looks da Sonia eram incríveis, com plumas e uma cartela de cores pálida — recorda a empresária. — Mas é assim que trabalho: o primeiro critério de compras é estético, meu gosto pessoal. Na sequência, vejo preço, se funciona no Brasil e o histórico de venda de peças similares.
Na NK carioca, na Garcia D’Ávila (a de São Paulo fica nos Jardins), onde conversou com o ELA, Natalie observa que o modelo de multimarcas mudou consideravelmente nos últimos 15 anos. As redes de fast fashion embaralharam o jogo, que “era muito certinho”, segundo ela. Para Natalie, quem não fazia parte desse esquema precisou se reencontrar no tabuleiro.
— Não adianta querermos seguir um calendário que não é nosso. Quem dita o ritmo é a ponta da pirâmide. Não a base, que sempre se inspirou em coleções importantes de outras casas. O fast fashion tem sua importância, mas a cliente entendeu o que é uma marca criativa e o que é uma modinha rápida. Nós, por exemplo, somos reconhecidos pela tradição e por comercializar um produto durável e atemporal — comenta.
CHLOÉ FOI A PRIMEIRA
Ao pegar dinheiro com o pai, o objetivo de Natalie era construir a melhor loja do Brasil. Passadas duas décadas, ela garante que atingiu o alvo.
— Minha ideia, ao montar o plano de negócios da NK, era reunir tudo o que eu achava bacana num lugar, como se fosse o meu armário. E um closet precisa contar uma história. O que seria de uma história toda descartável? Por isso, invisto em exclusividade, qualidade e design. Tenho peças no guarda-roupa que usei no dia em que fui pedida em casamento (ela é mulher do estilista Tufi Duek, com quem tem dois filhos: Ava e Ezra).
Natalie, que desde garota tem uma veia artística e uma quedinha por moda, diz que o talento para o varejo está no DNA de sua família.
— Em casa, fazemos a mesma coisa: compramos e vendemos. E realizamos sonhos. Para a gente, o público é muito relevante, o propósito das empresas — afirma a paulistana, acrescentando que o investimento inicial de US$ 1 milhão foi rapidamente recuperado. — Meu pai, na verdade, me emprestou muito mais do que o capital. Ele me deu conhecimento, aulas noturnas sobre caixa…
Mesmo com o apoio financeiro, o começo não foi fácil. O Brasil não era prioridade lá fora e existia a Daslu, referência no segmento, na época. A estratégia de Natalie foi chegar de mansinho, pelas beiradas. Ela foi trazendo grifes menos mainstream e estilistas jovens e contemporâneos.
— O que não entrava na Daslu — resume.
A primeira grande marca que Natalie adquiriu para a NK foi a Chloé. Depois vieram Azzedine Alaïa, Blumarine, Stella McCartney… Stella, inclusive, é campeã de vendas atualmente.
— Assim como os acessórios da Céline — aponta ela, que visita, durante as semanas de moda de Nova York e de Paris, quatro showrooms diariamente. — É complicado selecionar os produtos num momento de crise. Vou com um olhar cauteloso, de menos risco. Mas nunca deixo de buscar o novo, o ousado, de eleger os itens especiais. Porém, é mais difícil.
Nesses 20 anos, apenas um arrependimento: a loja da Marc Jacobs que montou em São Paulo, em 2008 — as atividades foram encerradas em 2014.
— A grife não tinha estrutura física e nem pessoal para fazer uma gestão fora dos Estados Unidos. Não davam apoio. Não tinha diretório de vitrine, nada. O negócio era muito amador. Enfim, meu forte é equilibrar etiquetas — recorda Natalie, que acaba de unificar suas marcas próprias: a NK e a Talie: — A primeira surgiu em 1997 para complementar o mix de importados. A segunda foi criada em 1999 para atender o atacado. Este ano, resolvemos juntá-las.
Natalie Klein vive com o marido e os filhos em Nova York. Eles já estão na Big Apple há um ano. Em Manhattan, onde mora, a empresária tem uma rotina menos intensa. Trabalha toda manhã por Skype, responde e-mails e só:
— Minha intenção era tirar um período sabático quando a NK completasse duas décadas. Até o nascimento das crianças, a empresa era prioridade, a minha grande satisfação. Após a Ava e o Ezra, descobri coisas mais prazerosas, aprendi a delegar e otimizar o tempo. Mudei-me, mas continuo na ativa, apenas numa velocidade diferente. Uma hora a gente retorna ao Brasil. É bom sair um pouco para renovar o repertório.
Em casa, com Tufi Duek (fundador da Forum, vendida em 2008 para o grupo AMC Têxtil), não há debates calorosos sobre o mundinho fashion:
— A gente conversa muito sobre negócios, comportamentos gerais. Trocamos figurinhas sobre o futuro da moda.